Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 16 de agosto

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 16 de agosto

| Agosto 24, 2018 2:52 pm

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 16 de agosto

| Agosto 24, 2018 2:52 pm
Fleet Foxes

O segundo dia do festival contou com a primeira sessão Vozes
na Escrita e os primeiros concertos no palco Jazz na Relva, localizado perto do
rio e do campismo. A sessão de leitura esteve a cargo de António Zambujo,
Manuela Azevedo e Sara Carinhas, enquanto que os concertos foram do duo
viseense Galo Cant’às Duas e de S. Pedro. Todos eles contribuíram para uma
agradável tarde soalheira.

Algum tempo depois, o recinto abriu e o primeiro concerto
esteve a cargo dos portuenses Fugly. A banda levou ao palco secundário do festival
as suas malhas garage e punk rock e o público já presente começou a dar tudo
logo de tarde, chegando a haver um pequeno mosh pit e crowdsurfing. A banda,
bem disposta e feliz por ter passado do lado do público para cima do palco,
esteve em boa forma, mas desapontou-me com uma setlist na qual a maior parte
das músicas eram bastante esquecíveis. Não os conhecia muito bem e não fiquei
muito curioso em ouvir mais, apesar de terem acabado em grande com “Inside My Head”. Foram prejudicados por um som de baixo muito mau, que tornava muito difícil
perceber as notas que estavam a ser tocadas.



The Mystery Lights

Vi durante poucos minutos os também portugueses X-Wife antes
de regressar ao palco secundário para o concerto de The Mystery Lights. Mais
problemas, desta vez não com o som do baixo especificamente, fizeram o concerto
começar mais de 10 minutos atrasado, mas este acabou por correr bem, tirando
uma curta interrupção após as primeiras duas músicas devido aos referidos
problemas técnicos. Foi mais uma dose de garage rock energético, desta vez com
psicadelismos à mistura, com a banda a puxar pelo público e um som melhor
equilibrado do que em Fugly. A banda americana tocou músicas novas e convidou a
subir ao palco um boneco de um sapo de um membro do público, para o qual
tocaram uma canção.



Shame

Ouviu-se depois o pós-punk dos britânicos Shame. Os autores
de “Concrete” e “One Rizla” apresentaram estas e outras boas músicas do seu
álbum de estreia Songs of Praise, para além de “Human for a Minute”, música
nova que não desapontou. A banda elogiou Portugal e referiu a sua vinda ao
Milhões de Festa, que caracterizaram como uma “pool party”. O vocalista fez
crowdsurfing, a banda enganou-se um par de vezes e os fãs cantaram no que foi o
primeiro concerto a destacar do dia.

De volta ao palco secundário, assisti ao concerto de
Japanese Breakfast, o projeto da coreana Michelle Zauner. Os seus álbuns são
preenchidos por um dream pop pouco original que nunca me cativou muito, mas fiquei
surpreendido pela positiva com a sua atuação, que me entreteve mais do que
esperava. Entre as melhores músicas estiveram “Till Death”, após a qual
Michelle agradeceu ao público por “um perfeito primeiro concerto em Portugal”,
“Dreams” (original dos Cranberries), e, a fechar o concerto, “Machinist”, com
uma sonoridade synth pop que a diferenciou das canções anteriores. Pelo meio algumas músicas foram
melhores e outras demasiado iguais entre elas, criando alguns momentos mais chatos.
Houve tempo também para um bom momento onde Michelle falou sobre os seus poucos
conhecimentos sobre a língua portuguesa. Aprendeu apenas três palavras,
“batata” e outras duas que não chegaram a ser referidas. Certamente nenhuma
delas tão importante como a que foi nomeada.



Surma

Já não tenho paciência para The Legendary Tigerman, portanto
garanti que o seu concerto coincidia com a hora de jantar, após a qual foi
possível ver um pouco da atuação de Surma. Foram poucas as músicas que pude
ouvir, mas fiquei com pena porque os bonitos sintetizadores e voz da artista
portuguesa, sozinha em palco e muito feliz e nervosa por estar a tocar em Paredes
de Coura, conquistaram-me rapidamente. Não estava com grandes expetativas, mas
saí do concerto com vontade de ver e ouvir mais, muito mais impressionado do
que quando assisti a um concerto dela em 2016. Foi uma bonita sessão de pop
eletrónico calmo e descontraído.

O melhor do dia (e do festival) chegou logo a seguir. Os
Fleet Foxes subiram ao palco principal do festival e deram um concerto
imaculado que nem os problemas de som conseguiram estragar. O som dos
instrumentos estava muito melhor do que na maior parte dos outros concertos, no
entanto o volume estava estranhamente baixo, algo que deve ter sido chato para
quem estava nas filas mais atrás. O microfone de Robin Pecknold não pareceu ser
o mais adequado ao timbre da sua voz, mas após duas músicas já estava habituado
à sua sonoridade. Para além disso, o som falhou durante fracções de um segundo em
duas ocasiões, mas após estes incidentes não houve novos problemas e o volume
do som foi aumentado. A performance da banda foi excelente, a setlist igualmente
boa. Foi um dos concertos mais bonitos que tive oportunidade de assistir neste festival
e foi simplesmente incrível ouvir canções como “Ragged Wood”, “White
Winter Hymnal”, “Third of May / Ōdaigahara” e “Helplessness
Blues”, esta última a marcar um grande final de concerto. A banda passou pelos
seus vários discos e deu, na minha opinião, o melhor concerto do festival.



Jungle

Não é nada fácil suceder um concerto como o dos Fleet Foxes,
mas os Jungle surpreenderam-me e fizeram um bom trabalho. Com um som muito bom,
músicas dançáveis cheias de groove e um público conquistado pela sua sonoridade,
a banda tocou “Time”, “Busy Earnin’” e outras canções bastante catchy de Jungle
e For Ever (álbum que irá sair em setembro) numa atuação divertida e muito
competente. Por vezes houve uma repetição exagerada entre a sonoridade e
estrutura das canções, mas isso não impediu o concerto de ser bastante bom e
uma excelente aposta para encerrar o palco principal neste segundo dia de
festival. No entanto, para quem não foi embora após este concerto, o melhor do
género ainda estava para vir.



Confidence Man

Os Jungle puseram muita gente a dançar, mas não me
conquistaram da mesma forma que os Confidence Man. Deram sem dúvida o concerto
mais divertido do festival. Ouviram-se inúmeras malhas de alternative dance e
nu-disco sem interrupções, todas elas marcadas pelo excelente trabalho do
baterista Clarence McGuffie, acompanhado por Reggie Goodchild nos
sintetizadores. No entanto, as estrelas foram Janet Planet e Sugar Bones, o duo
que cantou e dançou durante a maior parte do concerto e que não deixou o
público parar. Com uma atitude espetacular, coreografias muito engraçadas,
várias mudanças de vestuário, champagne e imensa energia, fizeram da sua
performance a melhor num after deste festival. “Don’t You Know I’m In a
Band”, “Boyfriend (Repeat)”, “C.O.O.L. Party”,
“Bubblegum”, todas estas músicas são boas em estúdio, mas ao vivo não
podiam resultar melhor. Um dos concertos mais marcantes a que assisti este ano,
quem me dera que todas as noites acabassem assim.
Texto: Rui Santos
Fotografia: Hugo Lima
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