Cave Story em entrevista: “Não estamos a tentar inventar a pólvora”

Cave Story em entrevista: “Não estamos a tentar inventar a pólvora”

| Setembro 26, 2018 8:39 pm

Cave Story em entrevista: “Não estamos a tentar inventar a pólvora”

| Setembro 26, 2018 8:39 pm

Os Cave Story vão editar Punk Academics no final desta semana (via Lovers & Lollypops), o sucessor do seu disco de estreia West. O agora quarteto das Caldas da Rainha percorre as lições do DIY, do punk e do hardcore ao longo deste novo registo. Registo esse que serve de estudo das influencias sonoras, mas também das repercussões estéticas, que o punk teve desde os seus primórdios até à actualidade.

Punk Academics foi gravado pelos Cave Story numa pequena casa no Oeste. Nasceu da materialização simbólica da “Punk Rock Academy” de que nos falou Atom & His Package no disco A Society of People Named Elihu. Desta feita com curadoria dos Cave Story.

As primeiras datas de apresentação ao vivo de Punk Academics acontecem dia 28 de setembro no Maus Hábitos, no Porto, concerto integrado no circuito Super Nova, e dia 29 de setembro na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. A tour nacional continua em outubro e dezembro. Em novembro a banda estará em tour pelo velho continente.


Podem ler a entrevista a Ricardo Mendes (baterista) e Zé Maldito (guitarrista) na íntegra, em baixo.
Do vosso ponto de vista, perspectivas e ideologias, quem são os Cave Story?

– Quem? Somos nós os quatro, não é? (risos) 
RicardoCave Story já existe como banda há algum tempo, para aí desde 2013 ou 2014, mais coisa menos coisa. Temos o agora na banda, há um ano mais ou menos… Aliás o Zé já estava connosco há mais tempo.
– Desde o primeiro concerto do West, eles gravaram tudo os 3 e depois eu juntei-me ao vivo no concerto de apresentação.
Ricardo – Se calhar foi para por mais texturas, outras camadas… para além de ser mais uma guitarra. Basicamente é isso.
– Se calhar estavas à espera de uma resposta mais filosófica.
Ricardo – O quê? Filosófica? 
– Um bocado aquilo que estávamos a falar há bocado na Sporting TV, de porque é que não fazemos música electrónica, por exemplo. Acho que Cave Story é um conjunto de influências ou de ideias que todos partilhamos, de certa maneira.
Ricardo – Sim, é isso.
– Ouvimos todos coisas de pessoas que admiramos e o trabalho de imensa gente.
Ricardo – Não só viradas para aquilo que nós tocamos, tipo hip hop ou assim.
– Acho que é um bom tema de conversa agora neste disco, no que toca a este tipo de perguntas. Porque eles acabaram de fazer o outro disco, começámos a tocar e foi um bocado “Porque é que estamos a tocar rock? Porque é que isto ainda faz sentido?”. Depois pensámos “Ok, nós gostamos mesmo de punk, então bora estudar o punk e o rock”.
Ricardo – E tentar perceber mais ou menos como é que as coisas se fazem, ou como se faziam nos anos 80, 90, ou até mesmo dos anos 70. Porque nós gostamos muito daquela estética toda do DIY, do it yourself, tudo aquilo que essas bandas de punk emulavam na altura. Fazer as próprias editoras…
O vosso som faz me lembrar bué The Fall, não sei porquê.

– Sim, é uma grande influência. 
Ricardo – Uma grande influência sem duvida.
– São pessoas como o Mark E. Smith, a certo ponto nós pensamos “Ya é isso que é mesmo fixe, que nós gostamos. Bora estudar um bocado porque é que as coisas foram feitas assim, o que é que eles ouviam para dar esse som”, porque nós às vezes se calhar passamos dias sem ouvir nada que tenha a ver com rock. E depois é “Mas porque é que isto continua a fazer bué sentido? Porque é que gostamos destas músicas que estamos a fazer”… Estamos a tocar e pensamos “Isto é mesmo assim, é isto que faz sentido”, é um bocado por aí.




E podiam-nos explicar melhor de onde veio o título Punk Academics?
Ricardo – Pronto, é mais ou menos isso. É um estudo ou então uma interpretação um bocado nossa, das nossas influências e dos artistas que nós gostamos. 
– É um bocado assumir essa cena. Nós não estamos a inventar a pólvora, não andamos a inventar um subgénero novo.
Ricardo – Um subgénero ou mesmo assumirmos-nos punk, nós não somos assim.

Há pessoal que anda por aí e diz “Sou bué punk” e não sei quê.

– Ya, não tem nada a ver com isso.
Ricardo – Não tem nada a ver com isso. Acho que é só mesmo um estudo que nós fizemos ao longo das nossas vidas, enquanto músicos, sobre coisas que nós gostamos e dos artistas que nos influenciam bastante, percebes? Porque por exemplo eu pego em Black Flag, que é das minhas bandas favoritas, e eles fizeram a própria editora, as próprias bandas, lançaram outras bandas, faziam os cartazes… Faziam isso tudo. E pelo menos para mim, falta o resto do pessoal, identifico-me bastante com isso.

É como estavam a dizer, identificam-se com aquela estética do it yourself do punk.

– É uma cena mais de atitude no sentido de quais é que foram as repercussões do punk, e não a cena punk, de ser contra tudo. É mesmo do que é que dali resultou, quais foram as consequências daquilo que se veem e fazem sentido ainda hoje. O título mesmo, Punk Academics, veio da música “Punk Rock Academy”, não me lembro do nome do gajo agora. Mas foi tipo “Aia este título é mesmo fixe”, e depois começámos a pensar sobre isso. O Gonçalo tinha falado e começou a fazer sentido, o que nós estávamos a fazer era estudar de certa maneira as coisas. Não por ser super badass, as músicas não são nada disso. E quando são é sem querer, é porque faz sentido na música.

A música que dá nome ao vosso novo álbum tem 8 minutos. Como é que uma banda de punk faz uma música de 8 minutos?

– É um bocado por aí (risos). Acho que essa pergunta, de certa maneira, responde a ela própria (risos). Como é que chegámos ao ponto de isto ser mesmo só um estudo sobre, não estamos a dar um facto a nada.
Ricardo – Exacto lá está, é aquilo que estavas a dizer há bocado. Não estamos a criar nada de raiz, não é tipo um ‘statement’ punk. É mais o que é que o punk, ou a escola do punk, nos influenciou como músicos a fazer a nossas próprias coisas.
– Nas primeiras versões da “Punk Academics” havia lá uma parte em que o Gonçalo estava a fazer um solo, ainda estávamos a inventar, e ele estava a fazer um riff de Fall. Não foi de propósito, mas ele estava a fazer um som e eu disse “Man isso é Fall“. Isso acontece.

Isso acontece sim, um gajo memoriza aquele riff e depois toca sem dar conta.

– Aquilo provavelmente não era igual, mas era um conjunto de notas parecido. Passava um bocado por Television também.
Ricardo – Eu acho que a “Punk Academics” acaba por ser um bocado a viagem do disco todo. Tens umas partes mais calmas, tens partes que explode, tens muitas dinâmicas percebes? E eu acho que neste disco vai se notar a cena, porque temos músicas mais rápidas…
– Sim, quase todas mais pequenas. 
Ricardo – Essa é mesmo a maior.
– No disco as músicas têm tipo 2 minutos, é capaz de haver uma ou duas com 3.
Ricardo – E temos para aí 4 de 1 minuto. Acaba por ser um bocado o segmento do disco, é a dinâmica toda que está presente.

O vídeo de “Punk Academics” tem videojogos antigos, e como vosso nome também vem de um jogo antigo, de que maneira é que os jogos vintage vos inspiram para este projecto?
– Acho que não tem haver objectivamente com o projecto, é a nossa maneira de estar na vida. Gostamos de ver o que há de fixe, não quer dizer que seja de agora ou antigo. Um bocado por aí.
Ricardo – E que não seja só tipo música. Pode ser jogos, pode ser filmes, pode ser qualquer coisa.
– Nós falamos secalhar mais de jogos do que de música. Nós já sabemos mais ou menos e compreendemos que todos os quatro ouvimos perto das mesmas coisas. Quando comentamos não discordamos assim tanto de nada.
Ricardo – Por acaso não.
– E quando há cenas mais estranhas que o Ricardo ouve ou eu oiço, nós já conhecemos esse lado da pessoa. Eu apesar de me ter juntado a eles há pouco tempo, já me dou com vocês para aí há 8 anos. 



Quais foram as diferenças na gravação de West para este álbum?

Ricardo – Eu acho que as diferenças honestamente não foram assim tantas, estou a falar no sentido técnico.

De composição.

Ricardo – Sim, de estúdio também. Acho que foi muito no momento como foi o West. E depois como nós temos a nossa própria sala de ensaios, que é o nosso estúdio também, onde gravámos os discos, acabamos por fazer as coisas ao nosso ritmo, com tempo. Guardamos os registos todos, depois eventualmente tentamos fazer alguma composição, ou arranjar outros elementos por cima disso. Porque temos sempre a possibilidade de gravar, editar e compor. Então nesse sentido acho que não houve assim tantas diferenças. Eu acho que o Punk Academics foi gravado num espaço de tempo mais pequeno, no sentido em que nós fomos para a sala de ensaios gravar, ainda não tínhamos as músicas feitas e foi “Vamos fazer músicas, ok? Tá fixe? Vamos gravar já”. Isto aconteceu, enquanto no West foi mais “Já temos músicas planeadas então agora vamos gravá-las”. E por acaso no Punk Academics foi mais rápido.
– Foi uma cena mais tipo de trabalho mesmo. Ir para lá às 9h, estar lá a tocar, recolher as gravações mais tipo demo. E depois escolher os dias em que gravamos. Mas não sei como é que foi o West, só sei de eles me contarem.
Ricardo – Mas é isso, o West foi assim que aconteceu. Nós fizemos as músicas e depois fomos gravar. Neste aqui não, composemos e gravámos logo a seguir. À excepção da “Special Dinners”, essa música foi lançada agora e tinha para aí 4 anos. Nós já tocamos essa música há algum tempo, depois deixámos de tocar. Às tantas apareceu, apanhámos um rascunho marado num computador de alguém e dissemos “Epa lembram-se de quando a gente tocava isto? Isto era bué fixe”. Começámos a partir daí e agora é um dos singles. As coisas foram bué naturais.



E como é fazer parte da família Lovers & Lollypops?

Ricardo – Até agora tem sido muito fixe.
– Estamos ao lado de nomes portugueses que nós admiramos. Isso é se calhar a cena mais fixe. Quando pensas nos nomes é fixe, tá ali um legado já bem feito.
Ricardo – Uma cena mesmo muito fixe. O pessoal da Lovers trabalha lá com o Márcio, com o Fua, são pessoas com quem nos damos muito fixe. Mas também nos damos bem com o resto das bandas lá, e até agora temos gostado de trabalhar com eles.
Têm algumas surpresas para os concertos de apresentação do álbum?
Ricardo – Surpresas não sei (risos).
– Epá vamos tentar ser competentes.

Pensam fazer alguma tour internacional com o lançamento de Punk Academics?
Ricardo – Vamos fazer, em novembro. Ou estamos a planear… Já temos muitas datas marcadas, só falta confirmar uma ou outra, ainda está a acontecer. Mas sim, a meio de novembro vamos para a Europa. Vamos tocar em França, Espanha, Itália, Suíça, Polónia, Alemanha e também Holanda.

Isso é fixe. Há cada vez mais bandas portuguesas a fazer tours internacionais.

Ricardo – E eu acho muito bem.
– Não te vais estar a cingir a um público.

Da zona de conforto.

– Sim exacto.
Ricardo – Eu por acaso acho muito piada mesmo à cena de estares num sítio, aconteceu isto, e depois vais para outro sítio e as coisas são completamente diferentes. É bué imprevisível e por acaso acho bué piada a isso.
– E depois são sempre sistemas bué diferentes. Uns é tipo umas pessoas que organizaram o concerto, uns gajos quaisquer. Outra cena é tipo uma sala de espectáculos. É bué fixe para ver que ouvir música é universal, seja qual for o meio.

O pessoal que eu entrevisto normalmente também fala disso. Fazemos sempre aquela pergunta de histórias que têm durante as tours, e eles falam sempre de pessoas diferentes e sistemas diferentes de sítio para sítio. Tipo aqui em Portugal é de uma maneira, na França é de outra, na Alemanha é de outra…

Ricardo – Mas mesmo dentro dos países, as cidades que vais passando são sempre diferentes. 
– Os sistemas são sempre diferentes. Nós em Itália tocámos numa cena que era tipo um armazém no meio de… Sei lá, aquilo era mesmo shady, víamos bué prostitutas em todo o lado. 
Ricardo – Aquilo era um bar mas parecia um complexo de armazéns.
– Aquilo era mesmo estranho. Nós chegámos lá e ficámos do tipo “O que é que é isto? Onde é nos viemos a meter…”, e era muito fixe. E no outro dia a seguir tocámos no meio de Bolonha, num palácio no meio da cidade. É bué fixe na mesma mas foi tipo “Ontem estávamos ali…”

Com prostitutas (risos)

– E aqui agora se calhar também tem mas estão escondidas (risos).

Quais são os vossos planos para o futuro?

Ricardo – Continuar a tocar, fazer o máximo de tours possíveis, tanto nacionais como internacionais.
– Nós ainda não tivemos oportunidade de tocar o disco ao vivo, por isso acho que nós os quatro queremos mesmo tocar isto.
Ricardo – Ya, estamos mesmo entusiasmados. E é continuar a fazer o que temos feito até agora, quando temos oportunidade de continuar também a compor… Mas não somos uma banda que se incomode assim tanto, sencalhar depois disto podemos gravar 2 EP’s, quem é que sabe.

Já pensaram em tocar até velhinhos? Estarem os quatro num estúdio…

Ricardo – Epa não sei, logo se vê.
– Nenhum de nós pensa muito nisso, estás a trabalhar, estás a fazer o que gostas. Ainda por cima está relacionado com arte, que é uma cena sempre estranha, bué abstracto sempre. É fazer música.  

E para finalizar, o que andam a ouvir ultimamente?
Ricardo – Eu nem sei, o que é que te tinha dito?
– Eu não sei o que tens ouvido. 
Ricardo – Diz tu então, eu não faço ideia.
– Agora tenho ouvido bué uma cena que já saiu há alguns tempos que é Rezzett, o álbum novo deles. Muito fixe, eles tiverem a tocar para aí há 2 ou 3 meses em Lisboa na ZDB. Epa tenho ouvido mesmo bué cenas.
Ricardo – Eu por acaso tenho andado a ouvir muito, mas muito hip hop. Imenso. Há alguns tempos um colega meu mostrou-me um documentário de dub chamado Dub Echoes, e o grupo de hip hop que foi entrevistado chama-se Beat Junkies. Eu não conhecia e fui pesquisar. Eram DJ’s muito conhecidos tipo o DJ Babu e não sei quê. E arranjei há pouco tempo uma ou duas beat-tapes dele, e é de doidos. Gosto imenso. É um bocado isso que tenho andado a ouvir, hip hop no geral. Amanhã o Mobb Deep vai tocar ao Iminente e eu estou um bocado triste porque não arranjei bilhete (risos).

E pronto é tudo, obrigado!


Entrevista por: Tiago Farinha
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