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UKAEA |
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Natalie Sharp |
A abrir a noite no palco Milhões esteve Charlotte Adigéry, que se apresentou em Barcelos sob o moniker WWWater. Com apenas dois EPs (um em nome próprio, outro como WWWater), a jovem artista belga integra já alguns dos festivais internacionais mais badalados, tendo acompanhado os Young Fathers na última tour europeia. A sua presença no cartaz desta edição poderá ter passado despercebida à maioria, mas podemos afirmar sem grandes dúvidas que o concerto que assistimos nesta terceira noite foi a maior surpresa do festival. Groove, sensualidade e muita energia foram elementos que não faltaram na sua performance, que impediu os ainda poucos membros da plateia de dançar ao som de algum do melhor R&B contemporâneo executado à margem da música corrente.
No palco Lovers, aguardava-se a performance de Gazelle Twin, que regressou a Portugal para o primeiro concerto em três anos. Com novo disco a caminho, Elizabeth Bernholz apresentou um alinhamento exclusivamente composto pelos temas desse mesmo trabalho, um apanhado de vozes e tessituras industriais que se intensificam quando apresentadas ao vivo. A indumentária que enverga, da habitual balaclava ao uniforme vermelho e branco, remete para o imaginário folclórico de uma terra de Sua Majestade imersa num novo período de obscurantismo, onde as cores do fascismo ganham cada vez mais poder. Dos temas densos e sufocantes à performance arrojada, Bernholz percorreu o lado mais visceral do seu trabalho com um dos serões mais vertiginosos desta edição.
No palco Lovers, aguardava-se a performance de Gazelle Twin, que regressou a Portugal para o primeiro concerto em três anos. Com novo disco a caminho, Elizabeth Bernholz apresentou um alinhamento exclusivamente composto pelos temas desse mesmo trabalho, um apanhado de vozes e tessituras industriais que se intensificam quando apresentadas ao vivo. A indumentária que enverga, da habitual balaclava ao uniforme vermelho e branco, remete para o imaginário folclórico de uma terra de Sua Majestade imersa num novo período de obscurantismo, onde as cores do fascismo ganham cada vez mais poder. Dos temas densos e sufocantes à performance arrojada, Bernholz percorreu o lado mais visceral do seu trabalho com um dos serões mais vertiginosos desta edição.
Seguia-se, Nubya Garcia uma das porta-vozes da nova guarda do jazz britânico. A jovem compositora e saxofonista apresentou-se em formato quarteto para uma lição de boa música, pensada e bem executada. Da linha elegante do saxofone tenor aos diálogos empolgantes de baixo, bateria e sintetizador, Nubya e companhia demonstraram uma bonita celebração de respeito e amor aos grandes nomes do género, de Pharaoh Sanders a Herbie Hancock, sem nunca perder o toque único e apaixonante de uma das figuras vitais do jazz contemporâneo.
Os Electric Wizard, por outro lado, não estiveram à altura do estatuto que lhes é estabelecido. A banda regressou ao festival que os acolheu para sua primeira passagem por Portugal, gerando a maior enchente desta edição. No entanto, a banda britânica desiludiu com um set previsível que só terá agradado os fãs mais acérrimos. Donos de um som poderoso de proporções titânicas, a sua atuação ao vivo não se aproximou nem de perto da parede abrasiva e compacta que nos deram a conhecer em marcos como Come My Fanatics... ou Dopethrone, perdendo-se em rodeios psicadélicos e projeções misóginas que demonstram o percurso de uma banda presa no tempo.
Os Electric Wizard, por outro lado, não estiveram à altura do estatuto que lhes é estabelecido. A banda regressou ao festival que os acolheu para sua primeira passagem por Portugal, gerando a maior enchente desta edição. No entanto, a banda britânica desiludiu com um set previsível que só terá agradado os fãs mais acérrimos. Donos de um som poderoso de proporções titânicas, a sua atuação ao vivo não se aproximou nem de perto da parede abrasiva e compacta que nos deram a conhecer em marcos como Come My Fanatics... ou Dopethrone, perdendo-se em rodeios psicadélicos e projeções misóginas que demonstram o percurso de uma banda presa no tempo.
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Nubya Garcia |
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Electric Wizard |
Felizmente, há tradições que nunca mudam, e o regresso de The Bug é uma delas. Na sua quarta passagem por Portugal consecutiva, a terceira no festival, The Bug (ou Kevin Martin) fez-se acompanhar novamente pela MC Israelita Miss Red, com quem apresentou uma abrasiva performance na edição de 2016. O mote, desta vez, foi para a apresentação de K.O., o álbum de estreia de Miss Red, produzido pelo suspeito do costume. Percorrendo alguns dos temas que integram esse registo - “War”, “Dagga”, “K.O.” - antecedidas apenas por alguns dos temas que marcaram a carreira de The Bug (cujo London Zoo comemorou 10 anos no passado mês de julho), a dupla mais acarinhado do festival apresentou mais um desfile irrepreensível de rimas e batidas angulares, apoiadas em paredes esmagadoras de graves e um flow invejável.
Um dos momentos mais aguardados do quarto e último dia de Milhões de Festa estava reservado para Johnny Hooker, o músico, compositor, ator e ativista LGBT brasileiro que se estreou no festival com um concerto na piscina, onde atuou na companhia da sua banda para um público conhecedor e claramente entusiasmado. Coqueluche da nova música popular brasileira, Hooker (John Donovan na vida real) apresentou alguns dos temas que integram a sua curta mas promissora discografia. Do amor pela “Santíssima Trindade”, assim apelida os ídolos Madonna, David Bowie e Caetano Veloso, à luta contra o preconceito e conservadorismo que assolam o seu país, o autor de “Flutua” cantou e encantou com a graciosidade e glamour de uma das mais revolucionárias figuras do novo cancioneiro brasileiro.
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Johnny Hooker |
Já no palco Lovers, o duo germânico Mouse On Mars preparava-se para uma hora intensa de batidas quebradas e destrutivas, um registo assumidamente díspar do apresentado em estúdio, onde produziram algumas das mais importantes faixas IDM dos últimos vinte anos. Seis anos após o encontro no Semibreve, os Mouse On Mars apanharam-nos de surpresa com uma abordagem elétrica e imprevisível, desconstruindo ritmos familiares da música de dança e transformando-os em verdadeiros hinos das pistas de dança mais arrojadas.
E porque a coerência nunca foi o forte deste festival (e ainda bem), Os Tubarões seguiram-se de imediato para um concerto de contagiante energia. A banda lendária de Cabo-Verde recebeu o merecido estatuto de cabeça de cartaz do último dia de festival, encerrando o palco Milhões em chave-de-ouro. A banda de Russo e Zeca Couto, membros fundadores, juntou-se a Totó Silva, Totinho, Jorge Lima, Albertino Évora e Jorge Pimpas para uma noite que abriu ao som de “Tunuca”, iniciando um serão memorável com um dos temas que melhor carateriza a quintessência do grupo: ritmos quentes e dançáveis da música tradicional cabo-verdeana, alternados entre a vivacidade da coladeira e do funaná e a serenidade da morna. Passando por um alinhamento extensivo, Os Tubarões percorreram um pouco de toda a sua histórica discografia, desde os temas revolucionários de Pepe Lopi e Tchon Di Morgado à icónica “Djonsinho Cabral”, celebrando as cinco décadas de uma das mais importantes instituições da música cabo-verdiana com toda a pompa e circunstância merecidas.
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Mouse On Mars |
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Os Tubarões |
Fotogaleria completa aqui.
Texto: Filipe Costa
Fotografia: Ana Carvalho dos Santos
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