Reportagem: MagaFest 2018 [Casa Independente, Lisboa]

Reportagem: MagaFest 2018 [Casa Independente, Lisboa]

| Outubro 20, 2018 3:43 pm

Reportagem: MagaFest 2018 [Casa Independente, Lisboa]

| Outubro 20, 2018 3:43 pm

Nunca fui a uma MagaSession. Do que li e percebi, são organizadas na casa da Inês Magalhães, seja ela quem for. Uma coisa íntima para ser intimista, para se (con)viver com que se gosta, um pretexto para se ouvir coisas belas e calmas, para embelezar e acalmar neste frenesim e imisericórdia que é Lisboa. Desta vez a escala é outra, é algo digno de um dia inteiro na Casa Independente.

A coisa começou com Marco Franco, pessoa que nos concertos seguintes haveria de confirmar a sua destreza e talento multifacetados. Enquanto o Sol se despedia da cidade, apresentou os minimalismos de piano do seu novo álbum, Mudra. As peças apresentadas seriam mais espécies de ensaios do instrumento, muitas vezes a flutuações de uma certa melodia-chave, transportando uma carga emocional bela mas, paradoxalmente, algo distanciada e alienígena. Como se uma felicidade desconhecidamente ameaçada, um amor suportado num castelo de cartas, uma banda sonora perfeita para se deambular por um salão de danças abandonado que há um século mereceu as melhores cortes e romances. Portanto, bons ensaios.

Depois, chegou o Norberto Lobo e seus 3 comparsas, com quem construiu o seu último lançamento, Estrela – e que aqui todos vieram apresentar esse dito trabalho, para nosso rejúbilo. Nunca tinha visto o indivíduo a tocar (shame on me), e fiquei solidamente convencido. Ora alegre, ora frenético, ora melancólico, ora caótico, sempre bom e refrescante. As músicas, com uma composição e técnica algo complexa mas nunca resvalando para o opaco ou oblíquo, pareceram de um estoicismo contente, como um sol quente na cara num dia gelado de Inverno, como alguém na sua maior preguiça a fumar um cigarro numa praia ou no campo e diz “isto sim é vida” por nada de especial. Merecedor de todos os aplausos que recebeu, de um público que começou sentado mas acabou de pé.

Depois, veio o Bruno Pernadas mostrar-nos o clássico Worst Summer Ever. Não querendo denegrir qualquer outra pessoa no line-up, mas foi o homem que se esperava nessa noite, e: que génio, que concerto! Catano, tudo nisto foi épico e grandioso. Teve-se direito a ouvir e sentir as belas canções do álbum, teve-se direito a uma maior aproximação dos ditos jazz standards onde cada instrumentista pode brilhar com os seus solos, teve-se direito a desgarrada de bateria com guitarra, teve-se direito ao Bruno Pernadas fazer o seu deliciosíssimo solo de guitarra modulada em vozes sintéticas pa-di-bu-lá-fe-to-etc. Este Bruno conhece bem a natureza da alma humana e como lhe hipnotizar, como dar ao mero mortal uma emoção, uma exaltação, uma apoteose, uma extrema alegria, e com isso receber um forte aplauso do público. Continua a enganar-nos Bruno, por favor.

Por fim, e para nos embalar, os 3 senhores dos 3 concertos se juntaram no palco para se apresentarem como Montanhas Azuis. Embalar é a palavra certa, naquilo que fugiu do jazz e andou mais entre o ambiente e o downtempo, o dream pop e as baladas da nossa infância e os nossos estados-de-ser mais fofinhos. Inevitavelmente reminiscente de coisas como os AIR, sonoridade recheada de sintetizadores e batidas de Casio, bastante tranquilizante e acessível, óptima de se ouvir de olhos fechados. Tenho alguma pena que nem sempre se tenha passado a barreira da experimentação, com alguma carga emocional retida, mas mesmo assim houve momentos imensamente bonitos, um público silencioso que exigiu ser levado às nuvens, e no fim um gajo não deixou de sair da Casa Independente com quentura na alma e um sorriso rasgado na cara.

No fim de contas, reitero: nunca fui a uma MagaSession. Devia, na próxima que haja tentarei. Um amén à Inês Magalhães, seja ela quem for.

Texto: Nuno Jordão
Fotografia: Joana Linda
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