The Walks em entrevista: “Continuamos as mesmas pessoas mas há uma constante evolução”

The Walks em entrevista: “Continuamos as mesmas pessoas mas há uma constante evolução”

| Novembro 20, 2018 8:40 pm

The Walks em entrevista: “Continuamos as mesmas pessoas mas há uma constante evolução”

| Novembro 20, 2018 8:40 pm
Ana Cláudia Silva ©
Estivemos à conversa com Gonçalo Carvalheiro e Nelson Matias, baixista e guitarrista da banda de Coimbra The Walks, onde falámos sobre o seu novo álbum Opacity, editado a 9 de novembro pela Lux Records, sobre a cena musical da cidade onde vivem e sobre as suas expetativas para o futuro da banda.

Threshold Magazine (TM) – Quem são os The Walks?

Gonçalo Carvalheiro (GC) –  Os The Walks são uma banda constituída por 5 elementos, que nutrem uma amizade e um respeito mútuo. Já existimos há alguns anos, a formação alterou um pouco com a entrada do Tiago Vaz (baterista), mas acima de tudo somos um conjunto de pessoas que gosta de fazer música, apesar de não conseguir fazer a tempo inteiro, uma vez que temos outras atividades profissionais, mas que acaba por ser o ponto comum entre todos.

TM – Vocês estão em Lisboa para apresentar o vosso novo segundo álbum Opacity, o que mudou para a banda desde o lançamento do vosso primeiro disco em 2015?

GC – Acima de tudo a banda tem mais maturidade na forma como vê e cria os temas. O primeiro álbum é muito mais “urgente” no sentido em que nós tecnicamente não estávamos tão desenvolvidos como agora, então o processo era mais rápido e a estrutura das músicas era mais simples e regular. Houve bastantes mudanças pessoais nos membros da banda, o que trouxe algum crescimento pessoal que depois se repercutiu a nível musical. Continuamos as mesmas pessoas mas há uma constante evolução e isso reflete-se na nossa música.


TM – E em termos sonoros? Que diferenças encontramos em Opacity quando comparado a Fool’s Gold?

GC – A principal diferença acaba por estar não no conteúdo, mas na forma como as coisas são apresentadas. O primeiro disco é mais direto e apesar de também ter uma palavra e um significado forte, Opacity é posto em prática de uma forma mais trabalhada e refletida, os temas têm tempo, respiram mais, as estruturas já não são tão convencionais e há uma perspetiva de brilho nas músicas que não acontecia no primeiro disco. Por outro lado, há algumas músicas com mais densidade e uma escuridão que não existia no primeiro álbum. Este era um pouco mais uniforme esteticamente e com mais “momentos”, por assim dizer.

TM – Houve alguma diferença na receção deste álbum?

GC – Ainda estamos a testar a recetividade deste álbum, porque ainda não fizemos muitas apresentações ao vivo.

Nelson Matias (NM) – Se calhar de amigos mais próximos, houve aqueles que gostaram mais desta nova abordagem. Poderão haver outros que gostavam mais daquela urgência, do rock and roll mais direto, mas para já a recetividade tem sido boa. Mas como disse o Gonçalo, o disco só sai hoje (9 de novembro) portanto ainda estamos a tentar ver qual é que vai ser a recetividade, mas esperemos que seja tão boa ou melhor que a do anterior.

TM – Em entrevistas que deram na apresentação do vosso primeiro álbum disseram que não estavam à procura de se fecharem num género em concreto. Sentem que agora, mais maduros, têm este som mais definido e com uma identidade própria?

GC – Acho que sim, nós agora quando entramos num processo criativo já há uma identidade individual. Há jeitos e maneiras que tu ganhas de tocar e começas a desenvolver um estilo pessoal. Depois isso tem uma implicação bastante prática e global. O que define o estilo de uma banda com o passar do tempo são os vícios em que acabas por cair, tu desenvolves uma forma de abordar as coisas, podes virar completamente as costas a isso e experimentar novas abordagens. Acho que nós o fizemos de certa forma a nível musical, mas a forma de tocar acho que se reafirma mais agora uma vez que em termos de técnica individual estamos mais desenvolvidos do que há uns anos atrás.

TM – Quais foram as maiores influências de Opacity?

GC – Acho que é a vida em geral, eu não me cinjo apenas à música como influência. Óbvio que há discos e coisas que te vão influenciando mas eu não gosto de restringir as influências só aquilo que pode ser ouvido. Pode ser um livro, uma viagem. Honestamente, e vou-te dar a minha opinião, o Nelson pode dar-te a dele, eu tive muitas experiências pelas quais passei, outras positivais outras negativas, que não tenho a mínima dúvida que tiveram influência na forma como depois eu contribuí para a composição dos temas. Obviamente que alguns discos que foram saíndo e outros que estão connosco há mais tempo e que encontrando pontos comuns com aquilo que estás a fazer vais redescobrir, reouvir também tem influência no que estás a fazer.

TM – Vocês vêm de Coimbra, um habitat musical diferente dos grandes centros como Porto ou Lisboa, sentem que a vossa cidade influencia o vosso trabalho como músicos?

NM – Numa fase inicial do projeto acho que sim, influenciou bastante. Nesta fase já não influencia tanto. Grande parte dessas pessoas que contribuíram para que se criasse todo este misticismo à volta de Coimbra, que nós refutamos, não no sentido que essas bandas não tenham importância, claro que sim, os Tédio Boys, os Parkinsons e por aí fora, mas uma grande parte deles, que são nossos amigos, acabaram por sair de Coimbra e agora não se passa tanta coisa na cidade quanto isso. De certa forma no inicío fomos beber o espirito de rock and roll, mas nesta fase já não nos influencia assim tanto. Obviamente que continuamos a gostar desses músicos e são músicos fantásticos, que marcaram gerações em Coimbra e não só, por exemplo o (Legendary) Tigerman que é um músico de uma abrangência nacional e até internacional. Mas obviamente que nesta fase já não faz sentido olharmos só para Coimbra, muito pelo contrário dois dos nossos elementos até estão a viver em Lisboa, o que nós andamos a ouvir e a consumir já não tem tanta a ver com Coimbra. 



TM – No vosso álbum tem uma contribuição dos Ghost Hunt. Como é que isto aconteceu?

NM – Em primeiro lugar, porque são nossos amigos, já os conhecemos há imenso tempo, nomeadamente o Pedro Chau (membro fundador e atual dos The Parkinsons), que até convidamos para fazer um DJ set no nosso primeiro concerto em 2013. Somos amigos de longa data. Mas acima de tudo porque o projeto dele é algo com que nos identificamos bastante, apesar de não nos identificarmos tanto com a abordagem eletrónica, mas gostamos e acompanhamos bastante o seu trabalho. Aliás este ano o Tiago tinha uma frase muito curiosa que dizia que já via mais vezes os Ghost Hunt do que a sua avó. Nós gostamos bastante do trabalho deles e numa fase em que começamos a estudar a criação do Opacity, ponderamos possíveis colaborações. Achámos que havia espaço para um tema mais eletrónico e quando assim é o nosso primeiro pensamento foi logo para os Ghost Hunt.

TM – Voltando a Coimbra, acham que vai haver uma nova vaga de bandas jovens que podem trazer uma lufada de ar fresco à cidade?

NM – De certa forma já há, o Tiago faz parte de uma nova geração, nós fomos buscá-lo aos Red Italian Hunter que ainda existem e que estão para lançar um segundo disco. É uma geração de músicos mais novos, onde também existem os Flying Cages que são mais novos que nós, mas que não são propriamente novatos, já têm dois discos e pelo que sei já estão a trabalhar num terceiro. E com certeza que irão surgir mais bandas, agora também estão criadas as condições, a Lux Records está a voltar ao ativo, que é a nossa editora.
Na altura do nosso primeiro EP e álbum, o Rui Ferreira, dono da editora, conciliava com a sua atividade profissional bastante exigente de enfermeiro, e agora dedica-se inteiramente à loja de discos e à editora. Está mais pró-ativo na edição de bandas de Coimbra. Há também agora uma agência nova, Blue House, que está a trazer muita gente nova. Há também um projeto novo em Coimbra que é o Spicy Noodles, de musica eletrónica. Portanto acho que estão a surgir novos projetos e que estão a fugir ao espectro do rock de Coimbra, pelo menos o que nós conhecíamos, que era mais rockablilly, garage. A música em Coimbra está a tornar-se mais eclética.

TM – Qual é o vosso maior receio quanto ao que pode acontecer aos The Walks?

NM – Neste momento já não temos receios (risos)

GC – Acabar. Este foi um processo longo e, efetivamente, como o Miguel (Martins, guitarrista) dizia aqui há uns tempos numa entrevista “houve alturas em que o pessoal bateu com a porta”, eu fui um deles e ele foi outro. Mas chega a uma altura em que tens que pensar “ok gostamos disto e porquê é que gostamos disto”. Depois chegas à conclusão de que mais do que o projeto, gostas das pessoas, e se elas não se estiverem a sentir bem continuar não faz sentido. Cada um, há sua maneira, teve que abrir as portas que se estavam a querer fechar e tentar acima de tudo que todos se sentissem bem. 
Eu quando digo que o maior receio é acabar não é acabar a banda, isso pode ser uma solução se as coisas não estiverem bem. Acima de tudo é acabar as nossas relações de amizade e eu tenho a certeza que isso não vai acontecer, porque que toda a gente sabe que isto é difícil uma vez que não o fazemos a tempo inteiro e já pusemos essa questão de parte. Por isso, as prioridades tem de ser criar uma sensibilidade da nossa parte e perceber com algum tempo de antecedência quando alguém não está bem, tentarmos redefinir prazos, porque mais vale chegarmos uma hora depois à linha da meta, mas chegarmos todos, do que chegarmos às partes ou haver pessoas que desistem pelo caminho.

TM – Agora com o álbum cá fora, quais são as vossas expetativas para o futuro da banda?

GC – A expetativa é acima de tudo ter uma boa recetividade, que vai depender muito de nós, temos que nos sentir confortáveis com o que vamos fazer nos próximos tempos. Acho que ajuda o facto de nos sentirmos satisfeitos com o resultado final do disco. Nós gostávamos de ter uma abrangência e uma visibilidade maior em alguns meios que não temos e acho que temos que fazer alguma mea culpa porque o nosso tempo não permite e não podemos estar a exigir isso de nós mesmos. Além disso é continuar a crescer, a ter mais visibilidade, continuar a ter motivação e conforto naquilo que estamos a fazer.

TM – Para além da música, que atividades profissionais é que ocupam?

GC –  Todos nós temos atividades profissionais diferentes. O Tiago é o único que está ligado à música, dá aulas de bateria. Eu sou formador na área de cozinha e pastelaria. Estudei Ciências da Educação com o Nelson e trabalhei na área dele. No caso do Nelson em específico ele trabalha com cidadãos com deficiência. O John (Silva, Vocalista) está ligada à área de saúde, é enfermeiro na área de cuidados neonatais, um trabalho muito pesado a nível emocional e de horários, e o Miguel é engenheiro informático.

TM – Querem deixar alguma mensagem aos nossos leitores?

GC – Sim, deem-nos uma oportunidade e ouçam o nosso álbum, tentem acompanhar o nosso trabalho e estejam à vontade para virem aos nossos concertos e entrarem em contacto connosco.




Podem ouvir aqui em baixo Opacity, o novo álbum dos The Walks.







Entrevista por: Hugo Geada

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