7 ao mês com Morte Psíquica

| Dezembro 15, 2018 12:45 am

Para a última edição do ano do 7 ao mês do ano convidámos a Morte Psíquica a escolher sete artistas que estarão para sempre enraizados na sua história. A banda originária de Évora, agora estabelecida em Montreal, Canadá, como o projeto a solo de Sérgio Pereira (até uma próxima reunião) lançou no passado mês de novembro, Maneirismos um EP bastante consolidado e enriquecido por uma lírica poética, refletido num conjunto de quatro belíssimas faixas. Formados em 1993, foi depois de um período de hibernação que, em 2014, os Morte Psíquica se reergueram das cinzas tendo, mais tarde, lançado o disco de estreia Fados do Além (2016). 


A comemorar 25 anos desde a sua formação e, com novas edições previstas para 2019, pedimos ao Sérgio Pereira (voz e guitarra) para escolher sete artistas/bandas ou álbuns que se apresentam como uma influência não só no seu trabalho com a Morte Psíquica, mas também como pessoa. As sete escolhas do projeto que conjuga a respiração do post-punk dos anos 80 à dimensão depressiva da sociedade atual, podem ouvir-se abaixo.


The Cure – Standing on a Beach (1986) 



É o álbum – na realidade uma coletânea – mais importante de todos, pois foi através desta K7 pirata que a minha identidade musical acabou por ser construída, ali pela segunda metade dos 80’s. O ar exótico do som em geral, e de temas como “Killing an Arab” prenderam-me logo a atenção e de que maneira! Comparado com isto, tudo o resto parecia tão banal. A partir daí só queria conhecer mais temas, mais álbuns e finalmente todas as outras bandas que faziam parte da família post-punk, entre as quais se encontram algumas das próximas escolhas. E pensar que em 2019 estes tios já têm mais uma série de concertos na agenda! 




Bauhaus – 1979-1983 (1985) 



Outra coletânea que qualquer pessoa, com ou sem ouvidos, devia ter em casa. Foi outra K7 cheia de música que me veio parar às mãos e me deixou siderado. Clássicos atrás de clássicos. Ao lado destes sons, os The Cure até praticavam um som relativamente ortodoxo! Com Bauhaus tudo era novo, aquela guitarra sempre a rasgar, e o baixo sem trastes, negro como breu, sempre a bombar! É uma daquelas bandas só com super-heróis. E depois, aqueles VHS com Bauhaus ao vivo (sabem do que falo) faziam-me sonhar … até 1998 quando se voltaram a reunir e os vi 2 vezes em 2 dias (com o Tiago, baixista fundador da Morte)! Umas rapsódias de Bauhaus constavam sempre dos ensaios da Morte.




Joy Division – Unknown Pleasures (1979) 



Para muitos os Joy Division são “a banda”. É difícil ficar indiferente a Joy Division, por experiência própria. Tocar baixo à maneira do Peter Hook tornou-se um objetivo de muito boa gente, bem como cantar à Ian Curtis. O som e ambiente deles fez escola, ou não fosse aquele equilíbrio entre o punk e o som novo que criaram, uma delícia. É evidente que todos os álbuns deles são seminais, não apenas o Unknown Pleasures. Anda para aí um par de covers deles, costuradas com enorme prazer pela Morte Psíquica, e quantas vezes não tocámos o “Shadowplay” nos saudosos ensaios. 




Siouxsie and the Banshees – Tinderbox (1986) 



Há dias em que os Banshees são a minha banda favorita e, nesses dias, um dos álbuns que sai da prateleira é o Tinderbox. Tenho impressão que estão um bocado esquecidos, e este álbum ainda mais. São a única banda a ter como companheiros de viagem, um de cada vez, guitarristas tão interessantes como desconhecidos: John Mc Geoch e John Carruthers, para além de um tal R. Smith. Este Tinderbox de 1986 é, na minha opinião, um tratado de criatividade nas cordas. Um álbum de rock barroco, criativo, que se vai entranhando aos poucos até se colar aos ossos. Há sempre arranjos novos e melodias a descobrir, harmonias bem sacadas e a voz da dita cuja em grande forma. Sempre me ficou a impressão que a produção não favorece este álbum; podia ter, talvez, mais espessura, digo eu. Além deste Tinderbox nem vale a pena recordar que os Banshees já traziam no portfólio trabalhos como Kaleidoscope, Juju, A Kiss in the Dreamhouse ou Hyæna. Tê-los visto ao vivo no Coliseu do Porto foi outro sonho musical realizado.




Cocteau Twins – Treasure (1984) 



Uma referência para tanta gente, um álbum maravilhoso, com temas maravilhosos, timbres originais e aquela voz que mais ninguém tem ou quis sequer tentar imitar. E não podemos esquecer todos aqueles EP’s que lançaram, e o Garlands, e aquele saudoso concerto no Coliseu do Porto… 




The Mission – God’s Own Medicine (1986) 



Não há rock como isto. Rock gótico épico, criativo, orelhudo e cheio de brilho. Com este disco, as guitarras atingem um nível pouco visto em criatividade e energia. Nota máxima para o Wayne Hussey, pese embora o seu mau feitio. Ainda melhor do que já tinha feito com o First and Last and Always dos Sisters of Mercy (que não coube nestas 7 curtas escolhas). Na realidade, foi um concerto dos Mission, em 2011, que despoletou a vontade de voltar a tocar e a juntar a Morte Psíquica – que estava em quasihibernação há quase duas décadas.




The Chameleons – Script of the Bridge (1983) 



É um lugar comum dizer-se que os Chameleons são a banda mais subestimada do post-punk. Não são os únicos, mas as lendas também são feitas disso. Conheci-os já tarde, com 20 e tal anos, precisamente com o Script of the Bridge. Grande primeiro álbum, carregado de clássicos. Quem conhece, sabe do que falo, quem não conhece vai sempre a tempo. O concerto deles na CEO em 2015 foi qualquer coisa… 


Clan of Xymox – Medusa (1986) 



É um álbum de eleição do princípio ao fim e reconhecido como um dos mais importantes do rock gótico. Excelentes e cativantes composições de uma banda que é efetivamente desconhecida fora do circuito underground, mas que tanta gente tem em conta como uma referência. Tal como todos os anteriores álbuns desta escolha, rodou vezes sem fim lá em casa, até gastar a fita.




Para saberem mais sobre a Morte Psíquica aproveitem para a seguir através do Facebook ou pelo Bandcamp, onde podem comprar o seu trabalho.




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