Reportagem: Super Bock em Stock [Avenida da Liberdade, Lisboa]

Reportagem: Super Bock em Stock [Avenida da Liberdade, Lisboa]

| Dezembro 4, 2018 9:21 pm

Reportagem: Super Bock em Stock [Avenida da Liberdade, Lisboa]

| Dezembro 4, 2018 9:21 pm

O Super Bock em Stock, festival urbano que este ano regressou com o seu nome original, lotou no fim de semana de 23 e 24 de Novembro as várias salas da capital com uma mescla de artistas diversificada e em que nos foi possível assistir a alguns concertos memoráveis. Fica aqui a crónica resumida de alguns nomes que tomaram de assalto a baixa lisboeta.

Public Access T.V.

Foram breves, incisivos e de presença envolvente. No Cinema São Jorge, o quarteto americano disparou canções com grande jovialidade, energia e ritmo, com teclas discretas, um baixo ritmado, e um baterista eficaz. Foi na figura do cantor e guitarrista que se centraram as maiores atenções. A sua energia endiabrada, os acordes certeiros de guitarra e a sua dança e maneirismo em palco foi contagiante. Têm e mostraram um som que nos transporta para a new wave do final dos anos setenta, mas com uma incrível e descomprometida modernidade. E saí a comentar que os Ramones, os Pulp  também ali habitavam e até mesmo os Shadows, pelo modo como se movimentaram em palco. Actuaram sob uma imensa neblina de fumo do princípio ao fim, sombreada pelos focos de um azul e vermelho. Foi uma surpresa a energia destes Public Access T.V. e calhou mesmo bem nesta sala confortável e intimista do Cinema São Jorge, enquanto lá fora, chovia.

Manuel Fúria e os Náufragos

Sendo possível “apanhar” um pouco do concerto de Manuel Fúria e os Náufragos, rumo ao Coliseu, confesso que tenho ideia dele do tempo dos Golpes, com aquela música que em tempos, foi transformada num “hit”, à portuguesa em dueto com o Rui Pregal da Cunha, o… “Vá lá Senhora”…lembram-se? – e foi essa portugalidade que encontrei em palco nos últimos quinze minutos a que ainda consegui assistir. Canções pop a fazer lembrar bandas como os Delfins sobretudo na entrega de Manuel Fúria, embora aqui com uma temática mais saudosista, a julgar por uma letra que escutei declamada, que falava do seu amor pela Inês e dos Red House Painters, e de outros tempos também. São pormenores bonitos do saudosismo e a saudade é um dos mais transversais temas abordados na música portuguesa. Fúria e estes Náufragos, parecem ter dado um concerto competente e esforçado à hora que foi e a anteceder Johnny Marr.

Johnny Marr 

Ver e ouvir Johnny Mar no Coliseu dos Recreios no âmbito do Super Bock em Stock é uma experiência que nos leva para um tempo que já passou “dos Smiths”, experimentando ao mesmo tempo a actualidade dos mais recentes discos de Johnny Marr como artista a solo. Para esta ocasião trouxe com ele as canções do mais recente Call The Comet, editado em Junho deste ano e iniciou o concerto de uma hora com uma das canções desse mesmo disco, “The Tracers”. Johnny Marr e a sua banda conseguiram tocar nesse tempo um compêndio geral e muito resumido de tudo o que o público poderia esperar: prosseguiu com “Big Mouth Strikes Again”, que levou a sala ao rubro e numa altura em que a plateia se ia compondo, e sem demoras retornou ao seu disco a solo, Call The Comet com “Day In Day Out”, rimando muito e tão bem com a sua guitarra muito “à Smiths”, tocada no seu jeito peculiar e inimitável.

Apesar de uma hora voar muito rápido, muito se pode dizer sobre esta actuação relâmpago em que Johnny Marr tocou uma set list precisa e engenhosa, incluindo uma das canções dos Electronic (projecto seu com elementos dos New Order e dos Pet Shop Boys), “Getting Away With It”, pelo meio com a pop de “Get The Message”, o belíssimo “Walk Into The Sea”, talvez a canção mais bonita do seu último disco com belíssimos coros da banda que agora o acompanha, e a meteórica “How Soon Is Now”, motivos mais do que suficientes para admirar e aplaudir muito Johnny Marr, mesmo para aqueles que possam achar que Morrissey é insubstituível na recriação dos clássicos dos The Smiths. Aqui temos um músico que se apresenta com as armas que tem, mestria na guitarra e uma voz eficaz que nunca pretende nesse domínio substituir o antigo companheiro de banda. – “There Is a Light That Never Goes Out”, encerrou o concerto com a audiência a cantar como se de um hino se tratasse, – The Smiths, em plenos pulmões. Afinal, foi por causa disso que todos acorreram ao Coliseu de Lisboa e Johnny Marr não desapontou. Um concerto espantoso e festivo como se pretendia.

Still Corners

Sábado, de regresso ao Coliseu dos Recreios para assistir ao concerto dos Still Corners. Entraram pontualmente às 21h00. A banda da vocalista Tessa Murray começou com “Black Lagoon” e uma hora mais tarde saíram já com a sala em apoteose total com “The Trip”. 

Agora reduzidos a trio, os Still Corners estão cada vez mais parecidos com os Beach House, – trazem canções tão bonitas e envolventes quanto eles, mesmo assim, parecem ainda mais misteriosos pelo que não têm ainda igual sucesso generalizado. Num ambiente de descoberta que se vive no Super Bock em Stock, este é um factor aliciante e comunicativo, essa frescura que se pretende dos artistas inseridos no cartaz. Sem sombra de dúvida que foram canções como “Endless Summer”, “Berlin Lovers” ou o inevitável “The Trip”, que levaram as pessoas a este concerto, e se Chris Rea tocasse guitarra numa banda de shoegaze e tivesse uma cantora assim… é uma redutora, mas eficaz comparação sonora dos Still Corners ao vivo. Deram um concerto maravilhoso, de beleza singular e apesar de a banda existir desde 2008 prometem ainda muito para o futuro. 

Texto: Lucinda Sebastião
Fotografia: (gentilmente) cedidas por Luis Sousa da Música Em DX.
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