Os melhores álbuns de 2018

| Janeiro 12, 2019 2:05 pm



Eleger os melhores discos que ouvimos ao longo do ano não é tarefa fácil. É ingrato para os discos que saem logo no início do ano e que nos parecem tão longínquos no termino do mesmo, é ingrato para os milhares de discos que surgem no mercado, dos quais apenas conseguimos ouvir uma pequena amostra desse universo tão variado. Agora com 2018 bem lá atrás, apresentamos um conjunto de 50 álbuns eleitos como os melhores do ano pela nossa redação.

50- Thou – Magus

49- The Body – I Have Fought Against It, But I Can’t Any Longer

48- The Soft Moon Criminal

47- Low – Double Negative
46- Death Grips – Year of the Snitch
45- Shame – Song of Praise
44- Lotic – Power
43- Kamasi Washington – Heaven and Earth

42- Avantdale Bowling Club – Avantdale Bowling Club

41- Jorja Smith – Lost & Found

40- Superorganism – Superorganism

39- Let’s Eat Grandma – I’m All Ears

38- Clarence Clarity – THINK:PEACE

37- Conjunto Corona – Santa Rita Lifestyle

36- Anguish – Anguish

35- Haru Nemuri – Haru to Shura

34- serpentwithfeet – soil

33- Ovlov – TRU

32- Vessel – Queen of Golden Dogs

31- Melody’s Echo Chamber – Bon Voyage

30- Parquet Courts – Wide Awake!

29- Nils Frahm – All Melody

28- Mitski – Be the Cowboy

27- Beach House – 7

26- Kamaal Williams – The Return

25- Clau Aniz – filha de mil mulheres

24- Zeal & Ardor – Stranger Fruit

23- Mount Eerie – Now Only

22- Tommy Cash – ¥€$

21- Deafheaven – Ordinary Corrupt Human Love

20- Confidence Man – Confident Music for Confident People

19- Kero Kero Bonito – Time ‘n’ Place

18- YOB – Our Raw Heart

17- Sleep – The Sciences

16- Laurel Halo – Raw Silk Uncut Wood

15- Dedekind Cut – Tahoe

14- Tim Hecker – Konoyo

13- Gazelle Twin – Pastoral

12- Elza Soares – Deus é Mulher

11- David Bruno – O Último Tango em Mafamude

10- SOPHIE – OIL OF EVERY PEARL’S UN-INSIDES

9- MGMT – Little Dark Age

8- Yves Tumor – Safe in the Hand of Love

7- Anna von Hausswolff – Dead Magic

6- Earl Sweatshirt – Some rap songs

5- IDLES – Joy as an Act of Resistance

Para quem não esteve a dormir em 2018, o nome IDLES não é completamente desconhecido. O álbum Brutalism com a orelhuda “Mother” causou um bom burburinho (chegou a ser incluído na nossa lista de melhores álbuns do ano anterior em 24º lugar). Contudo nada indicava a força e o impacto que este novo álbum iria revelar. 
Com uma aclamação bastante positiva por parte da crítica, os britânicos tornaram-se num fenómeno e conseguiram roubar o coração de inúmeros fãs. Desde as linhas de baixo musculadas que assinalam o início de “Colossos”, a contagiantes faixas como “Danny Nedelko” ou “Samaritans”, até “Rottweiler”, este álbum está repleto de inúmeras mensagens, tanto políticas, focando-se no BREXIT e nas políticas de imigração inglesas, como pessoais, leia-se a masculinidade tóxica (com referências a vários lutadores de wrestling), o amor ou a auto-estima.
Os IDLES vieram para ficar (já anunciaram um novo álbum para o presente ano) e pretendem fazer as suas vozes serem ouvidas com uma grande atitude e presença honesta. Uma lufada de ar fresco no panorama musical, uns mestres na arte de modernizar o eterno punk.


4- Julia Holter – Aviary

Para deleite dos fãs de música com um fascínio por influxos experimentais, 2018 foi um ano tremendo para a carreira de Julia Holter. O ano que agora finda contemplou o lançamento do incrível quinto álbum da artista, Aviary, em que a mesma não se coibiu de usar todo o seu condão na concepção deste registo e assim revela mais uma vez ser capaz de manusear a sua chamber pop de cariz sonhador e cerebral. 
Com influências substancialmente jazzy pelo meio, envolve partes orgânicas e electrónicas em medidas iguais, com a destreza comparável a de um alquimista que desenvolve proezas com efeitos irreais e arrebatadores, só mesmo lido em livros de mitos e lendas. As faixas “Whether”, “I Shall Love 2” e “In Garden’s Muteness” provam um craftsmanship ímpar no panorama da música experimental, sendo partes integrantes daquela que é mais uma adição eficaz na discografia de Holter.


3- Spiritualized – And Nothing Hurt

6 (longos) anos. Foi o tempo que tivemos de esperar por este
novo disco de Spiritualized. Uma espera morosa para quem é adepto ferrenho das
melodias espaciais e contempladoras de Jason Pierce, mas que obviamente tem
razões. Em 2012 foi lhe diagnosticada uma doença grave no fígado devido aos
anos de intenso consumo de drogas pesadas, o que acabou por servir de
inspiração para a composição de Sweet Heart Sweet Light. Mas não foi só por
isto que esperámos este tempo todo por And Nothing Hurt. J. Spaceman também já
disse em várias entrevistas que só escreve álbuns quando acha que são um
contributo positivo para a sua discografia.
And Nothing Hurt não foi gravado num grande estúdio com
vários músicos, técnicos de som e tudo mais a ajudá-lo. Jason Pierce
basicamente comprou um portátil, instalou o Pro Tools e ocupou um quarto da sua
casa em Londres com a artilharia necessária para gravar este disco. Ele
conta-nos que fez isto porque estava falido e não tinha dinheiro para alugar um
estúdio “de verdade”.
Neste trabalho voltamos a sentir aqui aquela serenidade
espacial incrível, como se tudo o que estivesse errado na nossa vida finalmente
fizesse sentido. As melodias ecoam infinitamente pela nossa cabeça, calmas e
contemplativas, onde nos podemos imaginar a viajar sem fim pelas estrelas no
universo, numa nave espacial desenhada de raiz por J. Spaceman

2- HHY & The Macumbas – Beheaded Totem

Há álbuns que nos fazem questionar a própria definição de jazz. Outros, aquilo que é esse chavão distante e impossível de concretizar que é a música do mundo. Ainda outros ousam em quebrar para lá das barreiras da conotação experimental. Beheaded Totem, álbum de 2018 dos HHY & The Macumbas, é um compacto vitamínico que expande o conceito da música de dança experimental do século XXI. 
As secções de sopro são quase nobres e sacrilégios em simultâneo – a sua dimensão em faixas como “Danbala Propagada” tornam-nas quase adequadas a um enquadramento clássico, não fossem os elementos de improvisação e ecos que quebram a previsibilidade. Os ritmos de dança latinos e africanos preenchem o espaço que rodeia a improvisação dos Macumbas graças aos quatro percussionistas que integram a banda. Entretanto, graças ao mesmo quarteto, faixas como “Ergot Glitter” reformulam a música electrónica de club numa versão electro-acústica pós-tribal. Será ainda impossível esquecer os momentos de maior liberdade musical como “A Scar in the Skull”. 
Talvez o melhor ponto de equivalência para este álbum será um intermédio entre o seminal jazz de fusão de Bitches Brew de Miles Davis e os ritmos electrónicos de editoras como a Príncipe Discos. É óbvio que HHY & The Macumbas não é igual a Miles Davis, Chick Corea ou Dave Holland, tal como não é DJ Nigga Fox ou Niagara; é apenas o produto de séculos de música a convergirem num transe ritualístico de jazz de dança. É só, e apenas isso.



1- Daughters – You Won’t Get What You Want

Oito anos após o seu último lançamento, os experimentalistas post-hardcore Daughters regressam com um novo disco, You Won’t Get What You Want, que desconstrói o seu próprio som e o reanima num novo “monstro” sonoro. Partindo do seu autointitulado álbum de 2010, o quarteto liderado por Alexis S.F. Marshall expande e escurece a tonalidade, utilizando efeitos de guitarra e teclados que soam ainda mais esquizofrénicos do que antes. 
O ritmo desenfreado continua a ser um elemento comum, conseguindo mesmo assim obter alguns ritmos mais moderados, uma instrumentação industrial minimalista e um trabalho de bateria inigualável. Os sons que o guitarrista Nicholas Andrew Sadler tira dos seus instrumentos são incomparáveis, e o seu estilo frenético tem poucos contemporâneos.
Os Daughters estão de volta, mas não como antes. Ainda se mantém difíceis de definir, mas com You Won’t Get What You Want reinventaram-se e passaram para algo mais inquietante e catártico, porém mais arrebatador e brilhante que nunca.

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