Reportagem: Jessy Lanza [Pérola Negra, Porto]

Reportagem: Jessy Lanza [Pérola Negra, Porto]

| Janeiro 28, 2019 3:40 pm

Reportagem: Jessy Lanza [Pérola Negra, Porto]

| Janeiro 28, 2019 3:40 pm

A agenda musical do recém-criado Gig Club arrancou oficialmente. A promotora que é também um clube promete revolucionar a indústria dos concertos nacionais e além fronteiras através de eventos à subscrição, e assinou na semana passada os primeiros eventos de música ao vivo com a música e produtora canadiana Jessy Lanza, que se apresentou pela primeira vez no país em nome próprio para duas datas a ter lugar no Porto, no Pérola Negra (dia 23), e em Lisboa, no dia seguinte, para uma performance no Lux Frágil.

O concerto de dia 23 marcou um dos muitos momentos excitantes do Gig Club. À premissa inovadora e refrescante da promotora juntou-se um dos espaços icónicos da movida portuense – o renovado Pérola Negra que, nas últimas semanas, tem vindo a agitar a atividade noturna da cidade com alguma da melhor oferta musical praticada de momento (The Field, Pional Niagara foram alguns dos muitos nomes que animaram a programação do espaço).
Depois de ter marcado o circuito festivaleiro português em 2017 com três datas divididas entre o aquecimento do NOS Primavera Sound, o Lisboa Dance Festival e o NOS Alive, Jessy Lanza regressou ao país para apresentar os temas que compõem o curto mas aclamado corpo de trabalho da produtora. No ativo desde 2013, o percurso musical da canadiana é pautado por uma constante exploração dos quadrantes que marcam o vasto e sempre imprevisível universo da música pop. Oh No, o segundo e mais recente álbum de Lanza, recebeu novamente edição pela britânica Hyperdub, de Steve Goodman (aka Kode 9) e que nos ofereceu discos tão importantes como Untrue, de Burial, ou Quarantine, de Laurel Halo. Na segunda aventura da canadiana pelos longa-duração, assistimos ao aperfeiçoamento das caraterísticas apuradas no seu álbum de estreia: linhas de baixo sedutoras, batimentos pautados pela cultura club (do bass ao footwork) e uma sensibilidade pop bem delineada. A promessa de nova música já está anunciada, e um terceiro lançamento poderá estar à espreita.

O alinhamento da noite de quinta-feira debateu-se sobretudo nas músicas que compõem os seus dois discos de estúdio, iniciando o concerto ao som da discreta mas sensual “I Talk BB” para uma plateia algo inibida. Atrás da produtora avistam-se imagens que alternam entre o quotidiano pacato da sua terra-natal, Hamilton, e cornucópias de cores múltiplas, assim como algum do trabalho audiovisual presente nos seus telediscos. Seguem-se as linhas de sequenciador marcantes de “New Ogi” e o hook viciante de “Kathy Lee”, que é já uma das trademarks do catálogo da produtora. Os ânimos tomariam outro nível quando, em “Never Enough”, a produtora ultrapassa a barreira fria entre palco e plateia.  A partir daí, não tardaram em surgir os temas mais agitados da canadiana, desde o frenesim house de “VV Violence” à batida arritmada de “It Means I Love You”. O trabalho produzido durante a sua residência artística, realizada no ano passado a convite da BBC Radio One, também parece ter circulado durante o alinhamento. Essencialmente instrumental e mais liberta que nunca, este tema inédito serviu de interlúdio perfeito para um trabalho que se aparenta cada vez mais eminente.
A reta final do concerto guardou-nos a belíssima rendição de Lanza em “Oh No”, o tema que dá título ao mais recente álbum da canadiana e que melhor salienta as capacidades da produtora como criadora de atmosferas densas e sumptuosas. Já no encore, Lanza regressa ao palco para mais um tema, desta feita para uma performance de “You Never Show Your Love”, o single editado pela Hyperdub em 2017 que a juntou a duas lendas do footwork de Chicago – Taso e DJ Spinn, duas das maiores influências da canadiana juntamente com o saudoso DJ Rashad. O equilíbrio entre as propriedades cristalinas da voz da canadiana com as produções esparsas e assertivas dos produtores serviram como epílogo perfeito para uma noite onde ritmo e sensualidade tiveram especial relevo.

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