Reportagem: Kælan Mikla + Some Ember [Wurlitzer Balroom, Madrid]

Reportagem: Kælan Mikla + Some Ember [Wurlitzer Balroom, Madrid]

| Fevereiro 19, 2019 10:19 pm

Reportagem: Kælan Mikla + Some Ember [Wurlitzer Balroom, Madrid]

| Fevereiro 19, 2019 10:19 pm

“Is this Wurlitzer Ballroom?” perguntámos nós ao porteiro já com um certo nível de ansiedade quando percebemos que não havia nenhum dístico na rua a indicar o local onde as nossas princesinhas góticas – que é como quem diz, as Kaelan Mikla – iriam apresentar uma das grandes edições obscuras do transato ano, Nótt Eftir Nótt. Com abertura de portas marcada para as 21h00 e início de concertos com arranque pelas 21h30, ficámos um pouco surpresas quando chegámos à sala pelas 21h40 já com Some Ember (atualmente o projeto a solo do californiano Dylan Travis), a fazer a sua música irradiar pela sala tipicamente negra, mas bastante composta. 

Com “Revelation” – retirado de Asleep in the Ice Palace (2013) – a fazer escutar-se bem alto e como pano de fundo, fomos lentamente aproximando-nos das filas da frente para ver mais de perto os contrastes entre performer e a música resultante. Para quem não conhece a discografia de Some Ember (inicialmente o projeto colaborativo de Dylan Travis e Nina Chase), esta incorpora elementos da música darkwave, post-punk e coldwave, situando-se atualmente no campo da synthpop experimental e EBM. No curto concerto de abertura em Madrid pudemos comprovar isso mesmo, com temas mais recentes como “Revealed” (retirado do mais recente EP Submerged) a deixar clara a sua carismática presença em palco. Apesar disso, com os mais recentes discos, Dylan Travis tem mostrado uma fase mais melancólica o que ao vivo, e antes de Kælan Mikla, acabou por perder um pouco de luz. Isso não impediu contudo que, Dylan Travis, sentisse o seu trabalho como produtor da obra, além de se dirigir ao público para perguntar se eles estavam a disfrutar do concerto. Já a apontar para o fim de espetáculo – que aconteceu três músicas depois desta intervenção, por volta das 22h03 – Some Ember despediu-se de palco entre sorrisos. 



Cerca de 20 minutos depois, por volta das 22h22, o público do Wurlitzer Balroom via as Kælan Mikla subirem a palco para iniciarem concerto com o tema de abertura de abertura de Nótt eftir nótt, “Gandreið”, enquanto a vocalista Laufey Soffía Þórsdóttir, em vestes brancas e com um véu negro por sobre a cara, fazia arder um incenso bastante peculiar cujo cheiro se emanou sala fora enquanto Margrét Rósa Dóru-Harrysdóttir marcava o ritmo no baixo e Solveig Matthildur nos fazia entrar no espírito das bruxarias negras com os sintetizadores hipnotizantes a sua voz de ninfa. À semelhança do álbum, também o concerto prosseguiu com “Nornalagið” – tema ainda marcado pelo pedido das artistas na melhoria de som – tendo avançado para “Óráð” (Kælan Mikla, 2016), o primeiro tema da noite a desinibir grande parte do público e a receber fortíssimos aplausos após o seu fim. 

Algo que se tornou notório com o desenvolvimento do concerto foi que, mesmo sem se tratar da língua materna da maioria do público, os espetadores cantavam e gritavam quase que com a mesma emoção que Laufey Soffía fazia ecoar no microfone. Em Madrid não nos podemos queixar, houve muito amor em sala. E conseguimos ainda ouvir Nótt eftir nótt quase na íntegra, além daqueles temas obrigatórios na playlist, como é o caso de “Kalt” ou “Upphaf”. Um dos grandes momentos da noite aconteceu durante a performance de “Skuggadans”, uma das mais marcantes faixas do novo disco que no Wurlitzer Balroom deixou o público em êxtase e completamente em modo “pista de dança oficialmente aberta”. Que malha! 

Sair de Portugal para ir ver as Kælan Mikla a Madrid, ao invés de ficar tempos na incerteza à espera de saber quando seria a próxima vez que as bonecas gélidas da Islândia voltariam ao país foi uma escolha bastante fundamentada no selo de qualidade a que as Kælan Mikla se têm visto a ser rotuladas desde os primeiros registos com Manádans (2013-2014) e foi uma escolha que como já era previsto não desiludiu, pelo menos não para os fãs da nova onda de música gótica, como nós. As Kælan Mikla são demasiado fofas para quem utiliza como principal linguagem de comunicação a imagética obscura e sinistra, mas foi assim que as conhecemos depois do concerto e sempre que ouvíamos Laufey Soffía a agradecer após as últimas músicas. Depois de “Andaka” a vocalista advertiu o público de que tinham apenas mais duas músicas antes do finalizar do concerto, “Nótt eftir nótt” – para dar aqueles gritos de despedida – e “Glimmer og Aska”, a deixar o público em aplausos frutíferos e claramente a pedir um regresso ao palco para encore


Pedido ouvido e para se fechar a noite com apenas mais uma música, “Dáið er allt án drauma”, tema de encerramento do mais recente disco da banda e música a deixar claro que as Kælan Mikla são um autêntico furacão da nova geração da música obscura. Um concerto a ficar na lista dos melhores do ano e que teve fim por volta das 23h20. Antes de finalizar apenas deixar um grande agradecimento à promotora Indypendientes pela fantástica noite proporcionada e pela programação de luxo que tem trazido a Madrid nos últimos tempos. Até breve.


Texto: Sónia Felizardo
Fotografias: Francisca Campos
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