Cinco Discos, Cinco Críticas #44

Cinco Discos, Cinco Críticas #44

| Março 31, 2019 7:29 pm

Cinco Discos, Cinco Críticas #44

| Março 31, 2019 7:29 pm

Na nova edição do Cinco Discos, Cinco Críticas damos destaque às mais recentes edições de Matmos – Plastic Anniversary (2019, Thrill Jockey); USA/MEXICOMatamoros (2019, Riot Season); Ciolkowska – Avtomat Proshlogo (2018, [addicted label]); International Teachers Of Pop – International Teachers Of Pop (2019, Desolate Spools); e The Claypool Lennon DeliriumSouth of Reality (2019, ATO Records). 

As críticas às referidas edições podem ser lidas, abaixo.


Plastic Anniversary | Thrill Jockey | março de 2019 

8.2/10 

A música do duo americano Matmos está sempre ligada a experiências e conceitos que variam de álbum para álbum. A Chance to Cut Is a Chance to Cure incorpora maioritariamente samples de procedimentos médicos, Ultimate Care II é composto na sua integridade por sons produzidos pela máquina de lavar da banda, Plastic Anniversary contém apenas sons criados com objetos de plástico. Alguns destes são alterados de uma forma que os torna difícil de reconhecer, outros são mais identificáveis. Os títulos de certas faixas dão pistas sobre o processo da sua criação. 
“Breaking Bread” inclui samples de vinis da banda Bread a serem partidos, “Thermoplastic Riot Shield” foi criada, como o título indica, com um escudo antimotim, em “Collapse of the Fourth Kingdom” foram usadas peças de LEGO, apitos e buzinas de plástico. Estes objetos e métodos de que o duo se serviu são interessantes por si só, mas todo o álbum pode ser apreciado sem que pensemos neles. As músicas são divertidas, muito rítmicas e por vezes estranhas, apresentando-nos timbres pouco habituais em música eletrónica. O resultado final é uma sonoridade de IDM muito peculiar e criativa, com alguns piscares de olho à música mais orquestral, como na faixa-título, e à música ambiente, com “Plastisphere” a soar a um espaço com insetos, pássaros e ondas de água. 
Os Matmos são excelentes a manipular samples com origens inesperadas e Plastic Anniversary é muito mais do que um simples truque. É um álbum complexo e refrescante de uma banda que se mantém original e surpreendente.
Rui Santos



Matamoros | Riot Season | abril de 2019 

8.0/10 

Os USA/MEXICO são uma banda baseada em Austin, no Texas, um estado que viu nascer bandas como os Butthole Surfers, os Bedhead, …And You Will Know Us By The Trail of Dead, entre muitas outras. E na verdade, podemos considerar este trio como sendo uma espécie de super-banda do panorama underground do pós-hardcore texano, constituído pelo guitarrista Craig Clouse (dos Shit and Shine), o baterista King Coffrey (dos Butthole Surfers e o fundador da mítica Trance Syndicate) e pelo baixista Nate Cross (Marriage & When Dinosaurs Ruled The Earth). Depois de em 2017 se terem estreado nas edições com Laredo, eis que lançam agora o seu segundo álbum, MatamorosNeste disco, os USA/MEXICO têm como convidados o George Dishner (dos Spray Paint) e o Kevin Withley dos Cherubs, o qual dá uma mão na interpretação do tema “Shoofly”, presente no álbum Icing, de 1992. 
Matamoros é um álbum bastante mais denso do que o seu antecessor. Enquanto que em Laredo existem alguns momentos mais expansivos – estes prestando a devida homenagem à obra dos Jesus Lizard – o seu sucessor não nós dá, em nenhum momento, margem para tréguas ou descanso. A letra é por vezes imperceptível e o instrumental é devastador. A sonoridades dos USA/MEXICO só tem um nome: Noise. Puro, lo-fi, sujo, e duro. E Matamoros não é um disco de fácil consumo, nem é um álbum pensado para ser a banda sonora de reflexões profundas ou introspecções. É uma massa compacta de ruído feita para testar os nossos limites físicos e mentais. Quem se quiser aventurar em Matamoros, encontra neste disco um bom desafio e um excelente exemplar de pós-hardcore, do bom. Porém, se acharem que este não é um disco para vocês, porta da rua é serventia da casa.
Edu Silva



Avtomat Proshlogo | [addicted label] | outubro de 2018 

7.5/10 

No outro dia recebi uns packs de CD’s da editora russa [addicted label] e um dos que estava incluído neste pacote foi Avtomat Proshlogo, o mais recente trabalho da banda Ciolkowska, que incorpora uma série de elementos auditivos que vão da exploração das paisagens sonoras da música psicadélica, a algum jazz, space-rock, stoner e outros subgéneros. Os Ciolkowska – quarteto baseado em St. Petersburg – lançaram o primeiro trabalho de estúdio em 2014 e, desde então, têm produzido compilações que funcionam dentro das bases de improvisação e incorporam uma mão cheia de diversos subgéneros e, obviamente, emoções. O progresso, tipicamente lento deste novo trabalho, desenvolve-se ora entre sonoridades livres de voz ora entre arquiteturas sonoras onde elementos como o trompete passam a ganhar destaque fulcral sem vociferações complementares. Este processo de inclusão da voz como instrumento, ao cruzar-se com os ritmos mais pesados do rock progressivo e abstrair-se nos ambientes carinhosos do post-rock (em temas como “Zemlya”) ou nos ritmos mais dançáveis e fervorosos de temas como o lindíssimo “Delu Veneс” acaba por tornar Avtomat Proshlogo um álbum de audição fácil e altamente apelativo aos fãs da música do rock espacial de traços inventivos. Ora comprovem:
Sónia Felizardo



International Teachers Of Pop | Desolate Spools | fevereiro de 2019 

8.0/10 

Os International Teacher Of Pop são um trio resultante da junção de Dean Honer e Adrian Flanagan dos The Moonlandingz com Leonore Wheatley dos The Soundcarriers. De acordo com o seu nome e o nome do seu disco a banda “ensina” e faz uma viagem pelo pop e new wave com especial enfâse nos anos 80 e no indie pop dos anos 2000. São várias as músicas que trazem à memória os instrumentais de New Order (por exemplo “The Ballad of Remedy Nilsson”) assim como os de Hot Chip (“After Dark”) enquanto que o ambiente geral lembra Confidence Man (principalmente em “Age Of The Train”) com um tom mais sério ou, ainda que vagamente, os Human League (“Interstellar” e “Praxis Makes Prefect”). 
Ainda que não tragam nada de novo, os International Teachers Of Pop, conseguiram juntar o melhor que se fez no seu género criando refrões orelhudos que “ficam na cabeça” assim como ritmos perfeitos para dançar ao estilo dos 80’s com um toque mais moderno.
Francisco Ávila




South Of RealityETO Records | fevereiro de 2019

8.5/10


The Claypool Lennon Delirium, a banda que é produto da junção de duas personalidades (bastante) fortes do lado mais psicotrópico da música, Les Claypool – baixista e vocalista da banda Primus – e Sean Ono Lennon – vocalista e guitarrista The Ghost of a Saber Tooth Tiger, lançou o seu segundo álbum, South of Reality, mostrando que este side-project não foi apenas algo passageiro. Dois anos depois da estreia e do sucesso do primeiro álbum, este novo trabalho revela a maturação que surgiu depois de inúmeros concertos e ensaios e traduz-se em arranjos mais complexos que enchem o ouvido e uma intimidade que faz as músicas fluir de uma maneira natural, oferecendo uma experiência divertida ao ouvinte. 
Sonoramente, um dos maiores destaques da música é sem dúvida o pulsante baixo de Les Claypool, algo que nos tem habituado na sua carreira com os Primus, que se espalha por todas as músicas como a teia de uma aranha. Importante, também, realçar o contraste entre as vozes dos dois vocalistas, nomeadamente, a voz angelical de Sean com a voz de diabrete de Claypool. Um choque sonoro interessante seja quando estão a cantar em dueto ou quando a doce voz de Sean oferece um coro ao tom provocatório de Les. A abraçar os cabelos e as barbas brancas, neste projeto os dois músicos oferecem uma lição de como fazer um álbum que, não só, seja conciso e bem construído mas onde também se divertem na sua construção. Não reinventam a roda, mas, já agora, aproveitam para se divertirem a brincar com esta.

Hugo Geada


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