Isolated Youth
Warfare

| Março 5, 2019 1:18 am

Warfare | Fabrika Records | fevereiro de 2019
9.5/10


Aqui está uma das mais bonitas obras de arte que o post-punk contemporâneo se pode orgulhado de ter recebido nas últimas décadas. Trata-se de Warfare, o EP de estreia do quarteto sueco sediado em Estocolmo, Isolated Youth. A banda –  cuja existência chegou ao radar dos ouvintes mais atentos há cerca de nove meses atrás, quando QUAL (o projeto a solo de William Maybelline, metade do corpo Lebanon Hanover) se dedicou a fazer um remistura do primeiro tema de apresentação deste Warfare, “Safety” (podem ouvir o remix aqui) – vê agora o seu nome surgir na listas dos melhores novos atos do panorama post-punk, pela sua sonoridade inovadora, distinta e de vanguarda.

Os Isolated Youth nasceram no primeiro dia de março de 2017 como um projeto colaborativo entre os irmãos William Mårdberg (guitarra) e Axel Mårdberg (voz) aos quais se juntaram Egon Westberg Larsson (baixo) e Andreas Geidemark (bateria). Cerca de dois anos depois do início, a banda sueca começou a crescer não só pelas suas performances intensas e de beleza singular, mas cada vez mais por Warfare – o EP de estreia – e todos os elementos estruturais, rítmicos e líricos que o compõem. Através de um som reminiscente entre o post-punk e o panorama do art-rock, uma abordagem original e a plena juventude em pele (uma das alturas mais conturbadas de se ser humano) os Isolated Youth criam cinco músicas completamente aliciantes que se destacam essencialmente pela vulnerabilidade com que são cantadas, a mensagem e o contraste entre a batida monocromática, as guitarras reluzentes e a condução das linhas de baixo.


O EP abre com “Oath”, o segundo tema extraído deste novo disco que é sem margem de dúvidas uma das melhores canções deste Warfare. A abrir com uma batida crescente no compasso, uma guitarra rasgada a pintar momentos distintos na música e uma linha de baixo extremamente melancólica, os Isolated Youth criam um som extremamente cativante e poderoso, emaranhado pelos pensamentos mais obscuros, mais ainda assim prontos para abraçar a luz (“I won’t fall in soil // I won’t be scared by tears // love won’t be sold // oh, the devil will fold” (…) “A cascade of blue // my eyes seem dark // but my harms are steady // ready to hold“). Esta estrutura de pensamentos volta a surgir mais tarde com o tema “Safety”. Reconhecer que “There is no safety // for neither you nor me // there are no trains waiting for us // I’m alone // there is no safety // until I hunt you down // and take you home“, numa sociedade onde a solidão parece denegrir a alma de qualquer humano, transmite essa fragilidade de se ser racional sem o dizer de forma direta.

Num registo mais calmo, embora com uma letra pesada, surge “Warfare”, tema que dá título ao EP e que é marcado pelo início com um sample áudio de uma criança a rir-se. A capa do EP, também ela o retrato de uma criança, inocente, junto a flores e, nos versos da letra ouve-se “Boy soldiers (…) some are here to conquer // but most will fall // but none will flinch“. Enquanto isso William, Egon e Andreas apresentam um som imersivo e altamente acolhedor, como uma fuga do mundo cruel. Apesar da tenra idade os Isolated Youth primam nesta estreia com Axel Mårdberg a destacar-se em pleno pelo profissionalismo que apresenta na vociferação das letras de Warfare – acrescentando-lhe uma emoção distinta e frágil, o que não é comum dentro da nova vaga do post-punk – e claramente pela sua imagem como artista, o que conduz o ouvinte a fazer um parêntesis entre a sua persona e Brian Molko dos Placebo. Já relativamente à sonoridade, imune de voz, este novo disco dos Isolated Youth chega às prateleiras para encher o coração dos saudosos fãs de Iceage na época de Plowing Into the Field of Love, essencialmente em temas como “Oath”, “Safety” e os últimos minutos de “Gold Lane”.

“Gold Lane” é o tema que inicia o lado B da edição em vinil que conta com o selo da muitíssimo renomada Fabrika Records. Num tema com uma introdução mais prolongada os Isolated Youth vão construindo pouco a pouco o seu caminho na música e os ritmos por onde querem trabalhar. Este é um dos singles mais experimentais do registo, a apresentar um desenvolvimento altamente imersivo e uma mudança estrutural já antecipada, mas não prevista. A fechar com “Seasons” – outro dos singles a apostar forte numa letra melancólica e nos laços emocionais que fazem crescer o desejo de proteger quem amamos – os Isolated Youth deixam em aberto uma temporada de espera para o agora já muito aguardado disco de estreia longa-duração. Como eles dizem, “A season too far // a wish too much“.

Escutar este disco numa primeira vez pode surtir no ouvinte alguma dúvida inicial pela já referida fragilidade evocada pela voz doce de Axel (que foge à regra nestas andanças mais dark), contudo, quando ouvida no seu todo, contextualizada e com uma perspetiva de abertura à novidade, esta obra torna-se claramente um marco no novo revivalismo post-punk por fugir ao rumo da eletrónica que se está a experienciar na atualidade e por ser bastante distinto do período vivenciado nos anos 80. Warfare não é só o EP de estreia dos Isolated Youth, mas é definitivamente uma obra-prima que chegou para projetar os meninos de Estocolmo como os novos queridinhos do movimento post-punk underground


Banda internacional revelação do ano. 
Melhor EP de estreia post-punk do ano. 
Melhor nova banda. 


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