Reportagem: Benjamin Clementine [Coliseu do Porto]

Reportagem: Benjamin Clementine [Coliseu do Porto]

| Junho 19, 2019 12:24 am

Reportagem: Benjamin Clementine [Coliseu do Porto]

| Junho 19, 2019 12:24 am
“Uma noite com Benjamin Clementine e o seu quinteto de cordas parisiense” foi o mote para a digressão do músico pela Europa, tendo na sua passagem por Portugal dado sete concertos em várias cidades. A tour no nosso país terminou no Coliseu do Porto, no dia 10 de Junho. 

Neste regresso a Portugal, esperava-se de Benjamim uma performance arrebatadora, com sonoridades acústicas e intimistas, acompanhado por cinco instrumentistas franceses. Eram estas as expectativas de quem se deslocou ao Coliseu do Porto para o ouvir, expectativas que Benjamim não defraudou, bem pelo contrário, proporcionou momentos de êxtase a uma sala cheia que vibrou ao som da sua voz, do piano e das cordas.

A Beaven Waller, músico americano, do Texas (repetiu várias vezes “desculpem-me por isso”) conhecido pela sua formação decorrente de documentar as suas viagens através das músicas e que as apresenta numa mistura de storytelling, melodia e emoção, coube fazer as honras da casa. Sentado ao piano, com uma caixinha que nunca desvendou o que continha, mas que desde logo “aguçou” a curiosidade do público, foi-nos embalando com as suas melodias, intercaladas com algum humor e interação com quem o ouvia.
Estava assim “preparada” a entrada para o protagonista da noite, Benjamin Sainte-Clementine – nascido nos subúrbios de Londres, “renascido” em Paris – e, para muitos daqueles que o ouvem, um falso tímido, que, em palco, voa como uma águia-real. Ao aparecer em palco com uma veste branca e descalço, Benjamim, que na realidade mede 1,93m, cresceu ainda mais, levitou e contagiou o público com uma leveza, energia e intensidade que nos transportou para outra dimensão. 


Tal como tinha acontecido nos outros concertos, também no Coliseu Benjamin fez uma viagem pelo seu repertório, alternando entre músicas do álbum de estreia At Least For Now, que lhe valeu o Mercury Prize, e as músicas do seu segundo álbum I Tell A Fly, amplamente aclamado pela crítica, e que o levou a ser considerado pela americana National Public Radio (NPR) como “um George Orwell musical do nosso tempo”.

O alinhamento inicia-se com “Winston Churchill’s Boy” em que Benjamim percorre o palco rodopiando à volta do piano e do quinteto de cordas. Seguiu-se “God Save the Jungle”, que está intimamente ligado à ‘selva’ de Calais (concentração de refugiados) e “One Awkward Fish”.  “Condolence” seria a quarta música da setlist. Este foi talvez um dos momentos épicos da noite. O tempo parou, o Coliseu cantou em coro com Benjamim, repetidamente, a seu pedido: “I´m sending my condolance to fear; I’m sending my condolance to insecurity”. Inesperadamente, e algo raro também, o público levanta-se para o aplaudir, ovação que normalmente só acontece no final do concerto e quando se pede ou espera um encore.  

Benjamim continuou com “London”, “Cornerstone”, “Nemesis”, “Gone”, “Adios”, músicas que o público ouviu num silêncio arrepiante, mas não menos emocionante. A voz de Benjamim, as teclas que ia dedilhando, a sonoridade dos violinos, do violoncelo e do contrabaixo encarregaram-se de lhes dar intensidade e uma envolvência enigmática.O concerto terminou com “Farewell Sonata”, a pedido de um público que o chamava aos gritos e aplausos ininterruptos. As suas palavras, o seu piano e, acima de tudo e no centro de tudo, a sua voz… 

Até na despedida Benjamim Clementine soube diferenciar-se: em vez de um “Obrigado” ouviu-se ““Vou ter saudades”!

Nós também, Benjamim. 

Redação: Armandina Heleno
Fotografia: Sérgio Aires
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