Há uma nova editora a tomar de assalto o underground português: a whitewater

| Julho 29, 2019 11:31 pm

Foi mais ou menos no final de 2018 que as primeiras cavalgadas da whitewater começaram a encontrar caminho no formato DIY. A editora, que é também um coletivo de artistas, focaliza-se entre as principais cidades do país (Porto e Lisboa) e define-se como “um projeto em desenvolvimento” que explora os mais diversos quadrantes da música eletrónica. Tudo começou em dezembro quando várias mentes criativas se uniram para partilhar músicas com uma vasta gama de abrangências sonoras, onde a intimidade passa a desempenhar um papel crucial. Assim, foram selecionados um total de seis novos projetos emergentes no panorama, numa compilação preenchida por oito temas e que assinala o nascimento da editora, White, Water, World, Wide.

White, Water, World, Wide é uma compilação altamente melancólica e com o trago intimista que foi pensado para lhe dar origem. Iniciada por “Driving Home I”, tema original do projeto Valestine, facilmente entramos num mundo de meditação e num clima de uma pureza celestial. Em “Judith Holds Her Sword In a Manner that Denounces Her True Intentions”, de Leisure Exports, começa a haver um crescendo mais intenso de emoções que culmina numa finalização noisy e extremamente experimental. SLF colabora com “untitled”, tema breve com foco na vibração que é procedido por “Pruney Skin” de Safety Lacrosse, um dos nomes que certamente irão ouvir falar no futuro. A parafernália rítmica e barulhenta das maquinarias instrumentais é novamente abordada no tema colaborativo entre Valestine & Leisure Exports, “Shibari Resort, Rope Length, Aftercare”, que é seguida por mais um breve e calmo tema, “Diamond & Portuguese Bowline Knots” de Lustier Exposer. Mais noise e reverberação em “As Teeth Collide”, original de Esau e, já com o fim anunciado, Valestine volta a mostrar o seu trabalho no dreamy “Driving Home II”.





Tudo isto lançado à socapa na página do Bandcamp da label, mas ainda sem uma comunicação de alcance ao grande público. Deprimidos com o resultado (quem sabe?), a 1 de março de 2019 a editora lança o primeiro EP de carreira de ValestineFaces Of Depression. O disco, conceptual, apresenta um som desenhado com base na estética do filme educacional The Faces Of Depression: A Phenomenological Approach To The Depression Syndrome (1959), que, segundo a Universidade Simon Fraser, “recorre a entrevistas não ensaiadas com pacientes para obter uma amostra representativa de casos de depressão e ajudar o médico a reconhecer sintomas depressivos”. Este é um trabalho que claramente leva o ouvinte a viajar no tempo, não só pelos samples utilizados, mas essencialmente pela construção sonora que os acompanha, que acarreta uma certa tonalidade retro-futurista.





Quatro meses depois, a 25 de julho de 2019, a whitewater lança a segunda compilação que conta não só com os artistas do roster inicial, mas também com novas caras. Voltamos a começar novamente com Valestine e o seu “WW Airlines” que convida o ouvinte a entrar num voo ao mundo sonoro dos dispositivos eletrónicos e analógicos. Leisure Exports regressa com um tema mais focado na música techno com “A Young Japanese Pilot Approaches His Own Death”, que abre espaço para Safety Lacrosse brilhar com “Airplane Hallway Passerelle”, uma malha embebida em distorção e com um ritmo altamente aditivo. As experimentações rítmicas mais noisy podem encontrar-se em “Mile High Club” de Caligula e “Only Angels Have Red Wings” de Horst Knab. Outros dois temas que se destacam nesta coletânea são “Notable Events” de Weather & Sports – a explorar os campos da synth e dreamwave – e ainda SLF com o seu “Airport Crash Tender”, um experimento sonoro ao qual é impossível ficar indiferente. Ainda no campo do techno e subgéneros, Esau apresenta “In-Flight Entertainment (Our Friendship Is Meant to Last)” e Russian Standards sai-se com “Сталкер Небес (Sky Stalker)”. A encerrar a compilação encontra-se o tema colaborativo entre Leisure Exports e Safety Lacrosse, “WW996 HK-SF 01:28 PDT, Business Class, Interaction with Air Hostess“, a deixar as expectativas altas para trabalhos futuros.






Sem formalismos planeados, a whitewater está assim a começar a marcar terreno e os mais melómanos da música eletrónica têm aqui uma editora para manter a vista em cima. Além disso estão com uns preços muito simpáticos nas edições digitais que têm disponíveis no Bandcamp oficial, por isso, porque não comprar? 

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