Reportagem: Thurston Moore [Igreja de St. George, Lisboa]

Reportagem: Thurston Moore [Igreja de St. George, Lisboa]

| Julho 22, 2019 9:30 pm

Reportagem: Thurston Moore [Igreja de St. George, Lisboa]

| Julho 22, 2019 9:30 pm
© Vera Marmelo
Foi no passado dia 13 de julho que fomos até à Igreja de St. George para assistir a mais um concerto de Thurston Moore em terras portuguesas. O guitarrista norte-americano, fundador dos lendários Sonic Youth, tem andado a tocar a solo pelos EUA e a Europa já há algum tempo. No último ano tem feito vários sets mais experimentalistas em colaboração com outros artistas relacionados ao heavy jazz. Talvez Thurston se sinta saturado de tocar numa banda ‘convencional’ com bateria, baixo e guitarras… A verdade é que quando este concerto foi anunciado todos esperavam um set de guitarra acústica, com Thurston Moore a cantar por cima das suas melodias. Foi o que fora anunciado em todos os sítios na Internet. Era o que estávamos à espera. Mas mal entrámos na Igreja e vimos dois grandes amplificadores direccionados para nós, com uma guitarra eléctrica de 12 cordas em destaque, reparámos logo que a história ia ser completamente diferente. 


Quando Thurston subiu ao palco e começou a tocar, sons catedrais emanaram da sua guitarra e inundaram completamente a Igreja de St. George. A música entrou pelos nossos ouvidos e, ao fecharmos os olhos, entrávamos numa viagem espacial sem fim pelas estrelas. O cenário não podia ser melhor, o altar da Igreja por trás e a iluminação pouco acentuada proporcionaram um ambiente perfeito a esta actuação. Ao longo do concerto, o guitarrista norte-americano foi explorando todas as sonoridades sónicas deste seu lado mais “experimental”, isto acontecia através dos vários pedais que se encontravam no chão, e ao brincar com o feedback da sua guitarra, metendo também um lápis no meio das cordas por vezes.

O concerto teve momentos mais calmos e contemplativos, mas houve também alturas em que a distorção quase que rebentava com os nossos ouvidos, proporcionando uma verdadeira viagem pelos astros. 


No final desta actuação, os aplausos foram muitos apesar de ser visível alguma surpresa na cara das pessoas. Quase ninguém esperava um concerto assim, todos estávamos à espera de um Thurston Moore a cantar com a sua guitarra acústica. Mas não podíamos estar mais errados. O guitarrista norte-americano então explicou que o concerto consistiu numa peça que ele escreveu chamada “ALICE MOKI JAYNE”, em honra da música Alice Coltrane, da pintora Moki Cherry e da poetisa Jayne Cortez, todas elas grandes mulheres que foram figuras chaves na arte e no ativismo dos anos 60. Thurston dedicou também esta peça a todas as pessoas que lutam contra a luta de poderes que existem na atualidade, e o quão isso prejudica o nosso mundo. 
Depois desta conversa com o público, ainda houve tempo para um encore mais ‘convencional’. “Grace Lake”, do álbum The Best Day, foi a música escolhida para fechar esta noite na Igreja de St. George, numa belíssima rendição a solo que banhou os nossos ouvidos de melodias sónicas. Ao acabar, Thurston recebeu ainda mais aplausos que anteriormente, merecendo até uma ovação de pé por parte dos presentes. As pessoas iam saindo para a Estrela satisfeitas e sobretudo surpreendidas com a sonoridade avant-garde ali apresentada, finalizando assim mais um de muitos concertos de Thurston Moore em terras lusitanas.


Texto: Tiago Farinha
Fotografia: Vera Marmelo (podem consultar as restantes fotos aqui)
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