Vodafone Paredes de Coura – 14 de agosto: O recital dos The National após a festa disco dos Parcels

Vodafone Paredes de Coura – 14 de agosto: O recital dos The National após a festa disco dos Parcels

| Agosto 22, 2019 6:26 pm

Vodafone Paredes de Coura – 14 de agosto: O recital dos The National após a festa disco dos Parcels

| Agosto 22, 2019 6:26 pm
Com um dos cartazes mais impressionantes dos últimos anos, o Vodafone Paredes de Coura regressou para mais uma edição nos dias 14 a 17 de agosto. O recinto abriu após as habituais festividades na vila, onde artistas como NO!ON, Salto e The Parkinsons atuaram ao longo de quatro dias. Com a abertura do recinto chegou também uma grande enchente na zona de campismo e a as performances no palco Jazz na Relva, perto do rio, que contou com concertos e as sessões de leitura Vozes da Escrita. No primeiro dia do festival os concertos ocorreram maioritariamente no palco principal, com o palco secundário a abrir apenas para o After Hours.
Chegámos ao recinto a tempo de assistir ao concerto de Julia Jacklin, cantautora australiana que lançou este ano o seu segundo álbum, Crushing. Com uma sonoridade indie folk e uma setlist a incidir principalmente no seu novo disco, a autora de “Pressure to Party” e “Don’t Know How to Keep Loving You” deu um típico concerto calmo de final de tarde. Entusiasmou alguns fãs acérrimos presentes nas filas mais próximas do palco e foi a primeira de muitos artistas que ficaram impressionados com o recinto e a quantidade de pessoas presentes, mas deu um concerto banal que não conseguiu captar toda a atenção de grande parte do público.
 
Os brasileiros Boogarins foram os próximos a subir ao palco. Após o concerto anterior, as variações de intensidade em cada música, as texturas sonoras, os riffs e as performances instrumentais mais apuradas foram refrescantes. A setlist passou por toda a carreira da banda e tanto se ouviram canções do novo álbum, Sombrou Dúvida, entre as quais “Passeio” e a faixa título, como também
as mais icónicas de As Plantas que Curam, “Doce” e “Lucifernandis”. Disseram que foi o maior concerto que tocaram e a sua performance esteve à altura do desafio. Já mereciam um grande palco pelos concertos que deram no nosso país nos últimos anos e aproveitaram-no para conquistar novos fãs enquanto deliciavam quem já os conhecia.
 
Uma das maiores surpresas do festival foi o concerto dos Parcels. A sua sonoridade disco inspirada em bandas como Chic trouxe muita energia e boa disposição ao público, que dançou continuamente numa alegre viagem aos anos 70. Podem não ser originais e explorar apenas um tipo de som, mas os Parcels sabem o que fazem e fazem-no de forma perfeccionista. A mistura dos instrumentos estava especialmente boa, as luzes impecáveis, os músicos bem dispostos e com um grande à vontade ao longo de uma performance extremamente competente. Com guitarradas à Nile Rodgers (e solos muito bem incorporados), harmonias vocais à Bee Gees e melodias memoráveis, a banda passou por músicas como “Lightenup”, “Tieduprightnow” e “Bemyself”, esta com um arranjo diferente da versão em estúdio,  de forma fluída. O público retribuiu com muito entusiasmo e transformou o anfiteatro natural numa pista de dança. Num momento engraçado introduziram uma música com ruído de um rádio, sintonizando diferentes estações. Durante alguns segundos ouviu-se “Encosta-te a Mim” de Jorge Palma, o que levou a algumas gargalhadas e fez parte do público cantar a letra da canção.
 
A banda mais esperada do dia foi a que fechou o palco principal. Os The National já tocaram inúmeras vezes em Portugal, mas tanto a banda como os fãs se têm mostrado sempre recetivos a mais concertos. Com um novo álbum na bagagem, intitulado I Am Easy to Find, o grupo americano apresentou músicas novas e antigas no melhor e maior espetáculo da noite.
 
“Don’t Swallow the Cap”, “Bloodbuzz Ohio” (com um som de guitarra espetacular), “The System Only Dreams in Total Darkness” e “Fake Empire” foram alguns dos destaques numa setlist focada nos últimos álbuns da banda. As novas músicas não foram tão bem recebidas como os clássicos mais conhecidos e constituíram, no geral, os momentos menos cativantes do concerto. “Mr. November” também desiludiu, tendo faltado algum poder e agressividade na voz. Em contrapartida, “Rylan”, uma das melhores canções do novo disco, foi uma boa adição ao alinhamento. As versões das músicas que se ouviram contaram com mais distorção do que o habitual, sendo criadas verdadeiras paredes de som que piscavam o olho ao shoegaze. Os acordes e riffs foram mais difíceis de identificar e não deve ter sido um concerto muito acessível a quem não conhecia as canções tocadas.

Matt Berninger interagiu com o público, recebeu um cartaz com um desenho, assinou um vinil, foi às grades durante “Graceless” e referiu a primeira passagem da banda pelo festival, em 2005. A atuação foi finalizada, como tinha que ser, com “Vanderlyle Crybaby Geeks”. Ouviram-se as guitarras acústicas e o público cantou a letra em coro num momento emocionante.
 
Entretanto, no palco secundário, começava a festa dos congoleses KOKOKO!, Com os seus instrumentos peculiares, feitos com lixo encontrado na rua, a banda apresentou uma estética muito própria que passa pelo dance-punk e o electro. Canções contagiantes e divertidas, como “Azo Toke” e “Buka Dansa”, fizeram o público dançar ritmos africanos impacientes e empolgantes. O concerto marcou o final da noite para alguns e o início do after party para outros. A festa continuou com Nuno Lopes, que fechou a noite com o seu DJ set anual.
Texto: Rui Santos
Fotografia: Hugo Lima
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