Jay-Jay Johanson em entrevista: “Sempre fui muito influenciado por autorretratos”

Jay-Jay Johanson em entrevista: “Sempre fui muito influenciado por autorretratos”

| Setembro 25, 2019 9:04 am

Jay-Jay Johanson em entrevista: “Sempre fui muito influenciado por autorretratos”

| Setembro 25, 2019 9:04 am

Em vésperas de mais uma tour em Portugal, pelas mãos do Grupo Chiado (com concertos agendados para Lisboa a 28 de setembro no LAV) e do Auditório de Espinho – cidade onde atua a 12 de outubro – Jay-Jay Johanson regressa ao país para apresentar o mais recente disco de estúdio e décimo na carreira, Kings Kross. Em mote da sua vinda aproveitámos para entrevistar este músico, de estilo inconfundível, com uma história consagrada no cenário do indie-pop/trip hop – que contempla mais de 20 anos de carreira.


Aproveitem para ler a entrevista na íntegra abaixo.



Threshold Magazine (TM) – Em 1996, no álbum Whiskey, na altura um jovem (27 anos) cantava “I’m Older Now”. Em 2019, perto dos 50 anos, o que nos vai cantar? 


Jay-Jay Johanson – Haha! Eu completei 50 anos no ano passado, em outubro… e essa letra encaixa-se cada vez melhor no meu reportório, à medida que vou ficando mais velho.

TM – Recentemente, com o EP Smoke, o Jay-Jay criou uma versão de um tema que se tornou atemporal: “Love Will Tear Us Apart”. O que gostaríamos de saber é porquê este tema em 2019? Existe algum motivo especial para a escolha neste momento da sua carreira? 


Jay-Jay Johanson – Não, não especificamente… Sentei-me ao piano, como costumo fazer, a improvisar com este arpeggio e a cantar ao mesmo tempo. 

TM – Percebemos que Portugal faz parte dos roteiros musicais das suas tours. Existe uma explicação para isso? Considerando que, recentemente, alguns VIPs também demonstraram interesse por este “jardim à beira-mar planatado”, poderíamos, por exemplo, relembrar o tema “Milan, Madrid, Chicago, Paris”? Devemos esperar por “Lisboa” também? 


Jay-Jay Johanson – Bem, Portugal e o povo português têm sido tão generosos comigo desde que comecei, obviamente que voltarei sempre, tentando ser o mais generoso possível em troca. E sim, porque não,  um dia poder haver uma música sobre uma cidade portuguesa ou um lugar… 




TM – Ao olhar para as capas dos seus discos notamos que são autorretratos. Alguma razão para isso? Às vezes, associamos isso à metamorfose do trabalho de David Bowie… Existe alguma afinidade ou intenção semelhante? 


Jay-Jay Johanson – Sempre fui muito influenciado por autorretratos. Desde os tempos em que os velhos mestres gostavam de Van Gogh até à arte moderna com Andy Warhol. Na escola de arte fizemos muitos autorretratos e o meu diário é realmente como o meu autorretrato escrito e, a maioria das minhas letras nascem no meu diário. Tento ser o mais íntimo possível e explorar os meus sentimentos na minha música, de modo que autorretratos como imagem de capa é a maneira mais natural de mostrar o que realmente está no disco. Somente se um dia eu fizer um álbum instrumental, talvez eu tenha uma pintura abstrata ou algo diferente na capa … 


TM – Recordando o filme francês Intouchables e sabendo que o Jay-Jay Johanson tem algum apelo pelo idioma francês, quem escolheria ou com quem gostaria de cantar em dueto? 


Jay-Jay Johanson – Oh, essa pergunta apanhou-me desprevenido. Não sei bem, mas talvez com a Beth Gibbons dos Portishead, é claro! 

TM – Temos uma pergunta um pouco complicada para lhe colocar… Temos saudades (em português “saudade” é uma palavra que não tem tradução literal em nenhum outro idioma, mas é como “sentir falta” de alguém ou algo) dos seus primeiros álbuns como Whiskey, Tattoo, Poison… Consegue explicar o porquê deste sentimento?


Jay-Jay Johanson – Não, desculpem, não sei explicar, mas entendo completamente e sinto-me muito próximo desse sentimento.

TM – Nos últimos 20 anos o Jay-Jay Johanson fez música para filmes, algumas parcerias com outros artistas, versões de músicas… Gostaria de falar sobre isso? Houve um que nos chamou a atenção, o de Robin Guthrie (dos Cocteau Twins). Podemos perguntar-lhe o que trouxe Robin Guthrie à música de JJJ? 


Jay-Jay Johanson – O Robin e eu começámos a trabalhar juntos em 1997. Quando a Liz se mudou para Bristol e começou a trabalhar com os Massive Attack no Mezzanine, o Robin ligou-me. Eu acho que o pessoal dos Cocteau Twins queria tentar trabalhar com uma voz masculina, talvez… Eu fui e fiquei em Londres bastante tempo, para gravar e escrever com eles, no September Sounds Studio em Twickenham. São, de facto, pessoas adoráveis. O Robin apareceu no meu álbum Tattoo, no Poison e, novamente, nos meus últimos três álbuns, sempre mantivemos contacto e compartilhamos ideias. Mas talvez fosse melhor perguntarem ao Robin o que é ele gosta no meu estilo, que eu não faço ideia… 




TM – O que acha desta nova geração de música digital na atualidade com o streaming e o decréscimo da venda de discos físicos?


Jay-Jay Johanson – Eu oiço mais músicas agora do que nunca, mas, claro, eu não compro tantos álbuns quanto costumava fazer, talvez uns cinco álbuns por ano. Contudo, ao estar constantemente em tour e ao tocar em festivais, acabo por assistir a muitos concertos e descobrir novas bandas.

TM – O Jay-Jay Johanson já tem uma longa carreira; o público dos seus concertos provavelmente varia de país para país – em alguns lugares uma faixa etária mais avançada e noutros um público mais jovem. Que tipo de público espera ver nesta nova passagem por Portugal? 


Jay-Jay Johanson – Bem, o público português esteve sempre lá desde o início, então eles estão entre os “mais velhos”, pelo que às vezes pode ser complicado chegar a uma nova base composta por ouvintes mais jovens. Em alguns países, absolutamente funcionou, mas francamente não conheço as tendências do mercado de adolescentes em Portugal. Vamos ver o que acontece nos próximos concertos muito em breve. 

TM – Há mais alguma coisa que gostaria de nos dizer, que não lhe perguntamos?


Jay-Jay Johanson – Estou muito agradecido por me continuarem a convidar de volta para o vosso país incrível… Mal posso esperar para tomar um copo enorme desse néctar maravilhoso: o vinho verde. Cheers!

TM – Muito obrigado por esta entrevista e até breve, em Lisboa e Espinho!


Jay-Jay Johanson



Entrevista por: Armandina Heleno e Gil Simão

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