Portugal 2018 segundo Tiago Vilhena

Portugal 2018 segundo Tiago Vilhena

| Outubro 18, 2019 8:49 pm

Portugal 2018 segundo Tiago Vilhena

| Outubro 18, 2019 8:49 pm



Tiago Vilhena é já um artista bem conhecido no panorama musical nacional. Os Savanna foram a sua primeira banda e por lá explorou as ramificações psicádelicas do rock de influências anglo-saxónicas. Depois seguiu-se George Marvinson, projeto a solo do artista onde explorou a escrita individual no mundo da pop rock. Agora em nome próprio, Tiago Vilhena prepara-se para lançar esta sexta-feira, 18 de outubro, a sua primeira experiência musical na língua de Camões,

Portugal 2018 tem o selo da Pontiaq e apresenta um conjunto de 10 músicas filosóficas e relaxadas, introspetivas e reveladoras que acrescentam ao Curriculum musical português uma nova expansão para a música de intervenção. Composto no ano de 2018, este novo trabalho de Tiago Vilhena, além do cunho ativista, envolve alguma fantasia, fala-nos de profetas, de dilemas da morte e da vida, de poções e de milagres, adoptando uma postura mais tradicional mas não apenas tradicional portuguesa. A música chilena e a música grega são também duas grandes influências para o estado de espirito presente em Portugal 2018.





Em conversa com o artista nacional ficámos a conhecer cada uma das músicas que compõem este Portugal 2018, primeiro registo discográfico de Tiago Vilhena. Ora leiam aqui em baixo:



1 – Elixir Do Bem Estar





Apesar de ter uma orquestração sem guitarra, esta música foi escrita nesse instrumento. A minha vontade de fugir à solução ou à orquestração mais fácil (guitarra, baixo, piano e voz), aumentou nesta música em específico porque me apercebi que é uma canção que entra tão facilmente no ouvido que chega até a parecer infantil. Não quero dizer que não gosto de músicas com um feeling infantil. Antes pelo contrário. Até costumo gostar. Mas nesta música a presença desse estado de espírito pareceu-me que a podia levar para o ridículo e para fugir a isso, decidi substituir os acordes da guitarra por acordes de vozes resultando no que se ouve. A decisão de usar contrabaixo em vez de baixo elétrico veio do facto de o refrão ter um walking bass e não há nada mais bonito do que um walking bass num contrabaixo. Estas foram as decisões que marcaram o rumo da produção da música e a partir do momento que as tomei, tudo se resolveu facilmente. Quanto às palavras que eu digo, não tenho grande coisa a acrescentar. A letra explica-se a ela própria. Não há por onde fugir. Eu normalmente tendo a escrever temas com caminhos de raciocínio um pouco labirínticos. Quando isso não acontece e o assunto foi transmitido, sinto que consegui.



2 – Quem Me Trouxe Ao Mundo



É das poucas músicas que compus ao piano. Gosto dela. Tem uma vibe revolucionária de esquerda e uma intenção forte na voz. Aqui não houve necessidade de substituir o piano por outro instrumento e então a decisão do rumo da produção foi bastante fácil. O que dificultou mais foi a bateria. Eu fiz este álbum com a intenção de não usar bateria. Não consegui. Mas não foi nesta música que usei. Substitui-a por um Cajon (um instrumento que a maioria das vezes é horroroso) e por umas vassouras de palha. A meio da música entro numa zona diferente, num mundo escondido com um compasso 6/8 e a fantasia vem à tona. Para me esgueirar deste sítio e voltar para a manifestação esquerdista que é esta música, fiz uma transição um pouco oriental e retomo com um acorde ligeiramente diferente para mostrar que nada se mantém da mesma forma depois de uma viagem.



3 – O Mar



O mar é o 3º single do álbum Portugal 2018. É a música que a maioria dos meus amigos prefere. Fico contente com isso porque também tenho um carinho especial por ela. Fiquei muito satisfeito pela forma como ficou a soar. Usei um udu, que é o instrumento percussivo que lhe dá aquele tom que por vezes se assemelha a uma bolha de água. Quando gravei a guitarra da secção do meio da música, apercebi me que não ia conseguir tocar sem se notar algum lixo das cordas. Para isto não se ouvir, toquei os acordes nota a nota com bastante vibrato. O resultado foi uma guitarra impossível de tocar a soar extremamente limpa, cristalina e angelical. Gravei esta música em Viseu. Fui lá passar uma semana sozinho para gravar algumas músicas. Como estava com tempo, enchi 12 copos de vinho com água com alturas diferentes para fazer 12 notas e toquei acordes com esses copos. Esse é o som que se ouve no final da música. Não faço a mínima ideia dos acordes que toquei porque com o entusiasmo comecei a adicionar notas e mais notas e estava sempre a soar-me bem. Feliz com o resultado, deixei ficar. Depois gravei uns sons de cordas a esticar (A corda onde o enforcado se enforcou) gravei uns passos e voilá, apareceu o Zeca Medeiros.




4 – Fujo para sempre



Mais uma música de esquerda. Penso que andava a ouvir Sérgio Godinho. A guitarra distorcida aconteceu numa tentativa de fazer algo como Unknown Mortal Orquestra. Penso que não ficou nada a ver. Mas pareceu me bem na mesma. É uma música simples onde digo que fujo para sempre e volto diferente. A questão é, se fujo para sempre, como é que volto? Quis fazer uma canção à volta desta ideia. Volto porque não volto o mesmo. Parte de mim ficou lá para sempre.




5 – D’esta vida





Foi a primeira música que escrevi em português e, portanto, foi a primeira música que escrevi para este álbum (há uns anos atrás fiz umas músicas kizomba em português na brincadeira, mas estou a assumir que isso não conta). Continuando, há dois anos atrás, cheguei de um festival à casa que tinha alugado com uns amigos, com uma perceção da realidade um pouco alterada. Foi uma experiência bastante fascinante e quando acalmou, quis escrever algumas palavras e o que escrevi foi: “Descalço numa via onde as garrafas de cerveja partem toda a noite e dia. Quatro horas passam a correr e eu, aos poucos, vejo o que acontece. Troca beija empurra salta bebe senta e dança. Fala olha trinca mija sente o dia a vir. Tem calma amigo a vida é longa aproveita o vento”. Assim comecei a escrever a letra que acabei mais tarde. Quando completei este verso, apercebi me que a música estava curta. Lembrei-me de a estender, falando de outras experiências fictícias, mas que podem e são de certeza reais para algumas pessoas. Assim, esta canção passou a abordar 3 vidas diferentes, de pessoas com 3 rumos diferentes e todas dizem que não vão dizer mal desta vida. Portanto, o que quer que seja, tass bem.



6 – Os Profetas



Neste momento é a minha música favorita deste álbum. É filosófica e é mística. Serena de certa forma e a meio torna-se agressiva resolvendo-se numa zona que podia ser uma cabana de palha com um xamã a ver o futuro no fumo. No final, acaba num lugar não físico. Onde só os mortos chegam e que só os mortos podem conhecer. Isto que eu disse foi talvez concreto demais para ser uma explicação de uma música. Mas é assim em que eu a vejo.




7 – Cabaço Vai Morrer



Mais uma música do mundo fantástico. Começo por dizer que alguns dizem que o mundo é grande e alguns dizem que o mundo é curto. Cada um tem noções diferentes e reações diferentes em relação a tudo. Tudo é tão relativo como outra coisa qualquer. Com isto, concluo que a compreensão é coisa de cabaço (Cabaço – inexperiente). Chego até a ir mais além. Digo que “se passa o cabaço, cabaço vai morrer”. Isto era uma frase que os bandidos da minha escola diziam quando os mais novos tinham de passar pelo corredor deles. Então nós passávamos e eles batiam-nos. É uma recordação bastante forte então quis registá-la numa música. E não só numa música. No próximo álbum, esta frase vai continuar a existir e vai ter uma relação com os profetas.



8 – Um pouco ao lado

Penso que é a música mais curta que já fiz.  Aqui eu incorporo um cão e ensino outro cão a ser cão. É tão específico quanto isto.



9 – Milagre Da Oportunidade



Mais uma música composta ao piano. Curiosamente é a música mais fácil de resultar ao vivo que já fiz até hoje. Não sei porquê. Mas ensaiar esta música é basicamente tocar uma vez e aperceber-me que está ensaiada. Para além desta característica curiosa, é uma canção que começa por falar de uma pessoa. Uma pessoa bastante chata, mas que é interessante ao mesmo tempo. Mas essa pessoa tem tanta vontade de estar sempre a falar e de estar sempre a fazer piadas que chega a ser inoportuna. Falta-lhe, portanto, ter noção da oportunidade. A partir deste tópico, exponencio a minha indignação e tento fazer uma proposta, ou pelo menos tento sugerir um mundo melhor. Um mundo de igualdade e de paz.




10 – Chill Wild Life



É a música que faz uma ligação com o George Marvinson. Tem uma intenção mais ligeira e descomprometida do que o resto do álbum. Não há muito para dizer sobre ela até porque não me lembro de a fazer. Não me lembro qual foi a minha intenção. Contudo, gosto dela. No fim, só porque sim, juntei-lhe uma micro-música que tinha feito. Achei que ficava bem e assim finalizei o meu álbum Portugal 2018. A falar em inglês! Isto não é suposto ter um propósito.


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