Um fresco Plantasia num abafado Musicbox

Um fresco Plantasia num abafado Musicbox

| Outubro 28, 2019 8:17 pm

Um fresco Plantasia num abafado Musicbox

| Outubro 28, 2019 8:17 pm

Os músicos portugueses Bruno Pernadas e Moullinex estiveram no Musicbox Lisboa a reinterpretar o álbum de culto Plantasia de Mort Garson, numa sala completamente esgotada. Entre músicas com o cunho mais pessoal dos artistas e outras mais pegadas ao material original, a Threshold Magazine conta como foi o concerto.

Quando no distante ano de 1976, na cidade de Los Angeles, Mort Garson compôs Plantasia, álbum escrito para plantas e para as pessoas que as amam, duvidamos que ele alguma vez imaginasse que a sua criação, 40 anos depois, se tornasse um sucesso de culto, chegasse a uma nova geração devido ao algoritmo do Youtube ou sequer que ele fosse reinterpretado por dois artistas portugueses numa das salas de concertos mais famosas de Lisboa.

Esta reinvenção surge dos cérebros e das mãos de Bruno Pernadas e Moullinex (assim como Diogo Sousa, bateria, Guilherme Salgueiro, teclados, e Diogo Duque, instrumentos de sopro) que, desafiados por Pedro Azevedo, programador do Jameson Urban Routes, estiveram no Musicbox, em Lisboa, no passado dia 25 de outubro, a tocar Plantasia de inicio ao fim, respeitando as melodias criadas por Mort enquanto lhe ofereciam o seu toque pessoal.


Com o palco adornado por diversas plantas (ouvi dizer, a sala estava tão cheia que mal dava para ver os músicos quanto mais a decoração do palco), Bruno Pernadas e Moullinex encontravam-se na primeira linha, o primeiro munido com um sintetizador e o segundo, para além deste instrumento, ainda com um baixo a acompanhar, não se coibiram de mostrar a sua nova versão destas músicas. 
“Plantasia”, faixa que abre o álbum, é tocada com mais pujança, fruto da bateria de Diogo Sousa e das icónicas melodias tocadas por sintetizador serem substituídas pelo trompete de Diogo Duque (que ainda deu uma perninha na flauta transversal em músicas como “Symphony for a Spider Plant”). 

Partindo da eletrónica easy listening do álbum, os músicos exploraram as suas possibilidades e desconstruíram as músicas a seu bel-prazer, dando um toque de bossa-nova a “Swingin’ Spathiphyllums”, uma piscadela de olhos a Kraftwerk em “Ode to an African Violet” ou com improvisações com raízes no jazz ou potenciadas pelos efeitos dos teclados. Uma execução irrepreensível, apesar de por vezes demasiado apegada ao material de origem, especialmente nas últimas faixas, onde deixaram repousar os loucos ritmos em detrimento de sons mais ambient, deixando o público (que de início se apresentava bastante efusivo e a cantar as belas melodias) num estado mais vegetativo (ba dum tss).

Por falar em “cantar as belas melodias”, não se ouviu nem uma, nem duas vezes alguém no meio da audiência a mandar os mais irrequietos e conversadores calarem-se. Por várias vezes passou-me pela cabeça quão mais interessante tinha sido ouvir este concerto sentado e numa sala mais íntima e com melhores condições acústicas, como por exemplo, a Culturgest. No entanto, é de louvar o esforço e a visão do Jameson Urban Routes e da Musicbox ao organizar este concerto e por ter estes dois músicos maravilhosos a interpretarem músicos que grande parte das pessoas nesta sala, provavelmente, nunca pensaram conseguir ouvir ao vivo.

Texto: Hugo Geada
Fotografia: Ana Viotti
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