Reportagem: Moonspell + Rotting Christ + Silver Dust [Capitólio, Lisboa]

Reportagem: Moonspell + Rotting Christ + Silver Dust [Capitólio, Lisboa]

| Novembro 13, 2019 6:48 pm

Reportagem: Moonspell + Rotting Christ + Silver Dust [Capitólio, Lisboa]

| Novembro 13, 2019 6:48 pm



“Diz-me quem é que lá vem…”


O Capitólio (Lisboa) foi o cenário escolhido para uma noite sísmica, tendo os Moonspell sido os responsáveis por este abalo sonoro, com réplicas sucessivas numa soirée metálica que marcou o início de Novembro. 

Só uma banda como esta poderia recriar de forma metafórica a tragédia do terramoto de 1755, homónimo do seu último trabalho, tendo como pano de fundo uma tela alusiva às ruínas do Convento do Carmo, detalhe que adensou o ambiente. Na primeira voz, este trabalho é descrito como “um álbum agressivo, dinâmico, melódico, porque também tenta associar a metade do século XVIII, na zona de Lisboa, toda aquela grande fusão musical e linguística que havia”.

Ao longo da noite revisitaram vários álbuns, privilegiando temas do seu mais recente disco, dos quais destacamos “In Tremor Dei” (sem Paulo Bragança), “Evento” e “Todos os Santos”, efusivamente acolhidos e participados pelos fãs de Fernando “Moon”, o frontman da banda. Com uma setlist bem recheada, os Moonspell fizeram eco com “Abysmo”, tema retirado de Sin / Pecado, álbum que será reeditado em Dezembro (reedição de luxo em vinil e CD-digipak que inclui o EP 2nd Skin e um booklet de 24 páginas), incluindo também: “Em Nome Do Medo”, “Opium”, “Night Eternal”, “Extinct”, “Everything Invaded”, “Mephisto”, “Vampiria”, “Alma Mater”, “Full Moon Madness”, surpreendendo ainda com “Ataegina”.

Apesar da generalidade dos temas serem cantados em inglês, as influências portuguesas estão bem presentes na música dos Moonspell, através dos poemas líricos, nomeadamente de Mário Cesariny (os primeiros quatro versos de “Than the Serpents in my Arms”) e Álvaro de Campos (“Opium” com um verso do Opiário).

Este espectáculo foi o 13º de 50 concertos em 52 dias e vinte países, na maior digressão europeia da história da banda, coadjuvados no start-up da noite pelos gregos Rotting Christ e os suíços Silver Dust, com passagem pela Turquia, países bálticos e Escandinávia. A atuação dos Moonspell ficará bem presente na memória da “alcateia” (como os próprios designaram, com emoção e orgulho, todos os que marcaram presença no Parque Mayer), que não se amedronta e acata o chamamento do “uivo”. 

As cortinas do espectáculo foram abertas pelos Silver Dust, às 19:30, hora pouco apelativa para um público latino, o que poderá justificar uma sala ainda pouco composta. A sonoridade alternativa e um look steampunk desta banda, de origem suíça (liderada Lord Campbell, vocalista/guitarrista) foi um pouco diferente do restante cartaz, com contornos de um metal gótico e industrial onde se notava, por vezes, a influência dos System Of A Down.

Antes dos protagonistas da noite foi a vez dos Rotting Christ subirem ao palco, já com a sala mais preenchida e que aguardava com euforia as duas bandas principais da noite. Com novos elementos em palco (Giannis Kalamatas e Kostas Heliotis), que deixaram transparecer ainda uma certa falta de “à vontade”, os Rotting Christ, tocaram vários temas do agrado dos fãs. Preteriram temas de Theogonia (2007), centrando-se em faixas de Kata Ton Daimona Eaytoy. Ao contrário do que seria de esperar, do álbum lançado em 2019, só tocaram dois temas: “Fire, God and Fear” e “Dies Irae”; de Rituals a tribal “Apage Satana” e na reta final, a cover de “Societas Satanas”, a estrondosa “King of a Stellar War” e as já habitués “In Yumen-Xibalba” e “Grandis Spiritus Dia volos”.  Terminaram com “Non Serviam” sob fortes aplausos e efusivas manifestações por parte do público.

Em jeito de briefing da noite, é inegável que a banda de Fernando Ribeiro, Ricardo Amorim, Pedro Paixão, Mike Gaspar e Aires Pereira, continua a dar cartas tanto em Portugal como além-fronteiras, sendo considerada (por muitos) a melhor banda nacional. Só temos que os enaltecer pelo seu profissionalismo, entrega e exímia performance.

Resta-nos dizer que a magnitude sonora rebentou a Escala de Richter no Capitólio! Melhor era impossível!



Texto e fotografia: Virgílio Santos
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