Os melhores álbuns da década 2010-2019

Os melhores álbuns da década 2010-2019

| Dezembro 26, 2019 4:28 pm

Os melhores álbuns da década 2010-2019

| Dezembro 26, 2019 4:28 pm

Na Threshold Magazine sempre privilegiámos o ecletismo. Quando aceitámos levar o desafio de fazer o top dos melhores lançamentos da década para a frente, decidimos que o critério fundamental para esta decisão seria a forma como estes álbuns nos tocaram pessoalmente. Talvez por isso não seja surpreendente verificar-se uma escolha tão variada, distinta e imprevisível, capaz de ensanduichar universos tão distantes como o garage rock (Ty Segall, Oh Sees) e a pop mais vanguardista (Jenny Hval, Julia Holter).

Numa década marcada por efemérides, foram muitos os nomes que ajudaram a fazer deste mundo um lugar um pouco melhor: vozes emergentes que ditaram as coordenadas da nova música pop (Grimes, FKA twigs), rappers que geraram movimentos (Kendrick Lamar), bandas que reescreveram os manuais do rock (Idles, Preoccupations), artistas que se reinventaram (Swans, Daughters) e outros que, já estabelecidos, consolidaram o estatuto de lendas (Nick & The Bad Seeds, My Bloody Valentine).

Em baixo, deixamos a seleção dos trabalhos que, ao longo desta década, estiveram mais presentes nos nossos ouvidos e ajudaram a moldar o modo como consumimos e interpretamos a música.





50 – Kanye WestYeezus (2013)
49 – OvlovTRU (2018)
48 – Death GripsThe Powers That B (2015)
47 – (Sandy) Alex GBeach Music (2015)
46 – Melody’s Echo ChamberMelody’s Echo Chamber (2012)
45 – Todd Terje It’s Album Time (2014)
44 – SwansThe Seer (2012)
43 – SOPHIEOil In Every Pearl’s Un-insides (2018)
42 – Kero Kero BonitoBonito Generation (2016)
41 – Tim HeckerVirgins (2013)
40 – DeafheavenSunbather (2013)
39 – Flying LotusCosmograma (2010)
38 – BladeeIcedancer (2018)
37 – Frank OceanBlonde (2016)
36 – The NationalHigh Violet (2010)
35 – Tyler, the CreatorFlower Boy (2017)
34 – Linda MartiniCasa Ocupada (2010)
33 – FKA twigsMagdalene (2019)
32 – Angel OlsenBurn Your Fire for No Witness (2014)
31 – Kendrick Lamargood kid, m.A.A.d city (2012)
30 – GrimesVisions (2012)
29 – DarksidePsychic (2013)
28 – Car Seat HeadrestTeens of Denial (2016)
27 – RadioheadA Moon Shaped Pool (2016)
26 – The NationalTrouble Will Find Me (2013)
25 – Mac DeMarco2 (2012)

Em 2012 era impossível prever o quão influente Mac DeMarco viria a ser ao longo da década. Foi o ano em que lançou Rock and Roll Night Club, o seu disco de estreia, onde apresentava um rock obscuro e lo-fi. Meses depois sucedeu-o com 2, apresentando o seu estilo mais conhecido e replicado. Foi neste álbum, entre o jangle pop e o indie pop, com o efeito de vibrato muito característico aplicado à guitarra, que Mac DeMarco provou todo o seu talento como compositor. Também foi aqui que outros artistas e bandas indie foram beber inspiração, sem nunca conseguir atingir o mesmo nível de qualidade e criatividade. 2 é descontraído e divertido, repleto de grandes riffs e licks. Estes são especialmente memoráveis nas guitarradas de “Freaking Out the Neighborhood” e “Ode to Viceroy”. Mac nunca complica muito, mas sabe compor uma boa melodia. As canções deixam transparecer todo o seu charme e personalidade, com uma sonoridade relaxada e letras sobre família, amor, cigarros, tudo o que faz parte da sua vida. O álbum perfeito para uma soalheira tarde de verão. Rui Santos


24 – Weyes BloodTitanic Rising (2019)

Depois de uma origem na música noise e lo-fi, o mais recente álbum de Weyes Blood, Titanic Rising, viu a cantautora natural da California a abraçar as orquestrações e alcançar um álbum que, apesar de ter menos de um ano, pode ser considerado um clássico moderno, com destaque suficiente para merecer um destaque nos melhores álbuns da década do nosso site. Com um conceito que parte da sequela falhada do filme do Titanic de James Cameron, Natalie Mering criou um álbum que reflecte as ansiedades de viver na década de 2010, abordando não só as relações pessoais e paixões, mas oferecendo também um contexto repleto da ansiedade que as consequências ambientais trazem para uma geração que ainda não sabe ao certo quais as consequências que este desastre pode implicar. Faixas desarmantes assentes na simplicidade de uma guitarra acústica, “Wild Time”, ou firmadas em magnânimas orquestrações, “Movies”, fazem com que este trabalho seja uma das mais agradáveis surpresas de 2019, e, com o passar do tempo, apenas irá crescer em importância e significado. Hugo Geada 


23 – LCD SoundsystemThis is Happening (2010)

Pode-se sempre dizer que os LCD Soundsystem foram uma banda bem mais influente na primeira década do milénio do que nesta que está a terminar. Estiveram em hiato cerca de cinco anos, mas mesmo assim conseguiram compor dois trabalhos bastante aclamados pela crítica. Um antes – This Is Happening (2010) – e outro depois – American Dream (2017) – do tal hiato que se iniciou após o último concerto de quase quatro horas no Madison Square Garden, em abril de 2011. This Is Happening chegou no início da década e prometia ser o tão ameaçado último álbum do grupo liderado por James Murphy.  “Dance Yrself Clean”, tema de nove minutos, abre o álbum de modo bem calmo e discreto, sendo que a menos de meio da música o ritmo muda completamente e é tomado por sintetizadores bem pujantes, tornando este num dos temas mais memoráveis do disco. Outro dos temas que mais se destaca é “All I Want”, onde a influência de Bowie é notória nas linhas de guitarra nostálgicas, transformando-o num clássico moderno à imagem de Murphy. Num disco tão coerente como este, são vários os temas de escuta obrigatória: “You Wanted a Hit”, “Pow Pow” e “Home”. This is Happening é um álbum de produção exímia, em que Murphy nos brinca com música de dança minimal, de forte instinto pop, sobre desgostos amorosos, a distância entre as pessoas  e a saudade. Rui Gameiro 



22 – King Gizzard and the Lizard WizardI’m In Your Mind Fuzz (2014)

Uma das bandas mais prolíficas desta década, o septeto australiano deixou o seu marco na música com a sua explosiva energia que resulta da mistura de prog, com garage e psych rock. Para recordar mais tarde pode ficar o ano de 2017, quando lançaram 5 álbuns (todos de qualidade acima da média), o Nonagon Infinity, álbum que começa e termina da mesma forma e, por isso, pode ser repetido infinitamente, ou Infest the Rats Nest, álbum de thrash metal lançado em agosto do presente ano, no entanto, destacamos neste espaço o álbum que provavelmente serviu para muitos fãs como introdução para a banda. I’m In Your Mind Fuzz é uma viagem alucinante, com uma primeira parte que funciona como uma corrida contra o tempo que é o medley composto por “I’m in Your Mind, I’m Not in Your Mind”, “Cellophane” e “I’m in Your Mind Fuzz” (que eu me atreveria a dizer que são os melhores 10 minutos iniciais de um álbum em toda a história da música) e uma segunda parte composta por baladas e por músicas mais calmas. Um excelente exemplo daquilo que foi o eclético movimento garage rock que esteve muito em voga nos últimos anos. HG



21 – SwansTo Be Kind (2014)

Trinta e dois anos desde o ano da sua fundação, a lendária banda Swans lançou um dos seus melhores álbuns. To Be Kind é o nome da obra que, em 2014, conseguiu dominar as listas de melhor álbum do ano. Neste trabalho, podemos ouvir duas horas de música de intensidade avassaladora e uma série de ritmos intermináveis que evocam algo surpreendentemente original. Um bom exemplo disso é “Bring The Sun/Toussaint L’Ouverture” em que, durante 34 minutos, ficamos totalmente hipnotizados por Michael Gira e os seus companheiros. Este álbum pode não agradar a todos, uma vez que exige um nível de paciência difícil de encontrar no contexto atual de grande demanda de emoções e gratificações instantâneas. Não obstante, quem conseguir absorver em pleno o conteúdo desta peça ficará eternamente grato aos nova-iorquinos. David Madeira 



20 – Chelsea WolfeAbyss (2015)

Pode-se afirmar que a cantautora californiana Chelsea Wolfe é uma artista que “nasceu” musicalmente nesta década (lançou em 2006 Mistakes in Parting, álbum que a própria tenta “esconder”), tendo editado sete álbuns nestes últimos 10 anos. Abyss, editado em 2015 com o selo da Sargent House, é o seu álbum mais pesado até à data, expansivo e fervilhante, onde incorpora sonoridades negras, densas e experimentais, perfeitamente equilibradas com o romantismo do seu folk gótico e noturno. Liricamente, as canções que compõem Abyss foram inspiradas nas experiências de paralisia de sono, algo com que a artista lidou a vida inteira, e no mundo subconsciente dos sonhos. Os grandes destaques de Abyss vão para “Iron Moon”, tema inspirado por um operário e poeta chinês, que se suicidou devido à monotonia da sua rotina diária e de um relacionamento fracassado, e para o doom bem presente em temas como “Dragged Out” e “After the Fall”. A guitarra distorcida de Mike Sullivan (Russian Circles) apresenta um papel fundamental em Abyss, tal como a produção ambiciosa de John Congleton, polindo os momentos mais íntimos e acústicos (“Crazy Love”, “Maw”) e aqueles dominados pela distorção. RG






19 – Jenny HvalBlood Bitch (2016)

O sexto álbum de estúdio da cantora-compositora norueguesa Jenny Hval, Blood Bitch (2016, Sacred Bones), foi descrito pela própria como “uma investigação sobre o sangue”, traçando paralelismos entre a história de um vampiro fictício e as próprias experiências de Hval durante a digressão do seu álbum anterior, Apocalypse, girl (2015). O disco, co-produzido pela norueguesa com o auxílio de Lasse Marhaug, explora ainda temas como a menstruação (o mais “puro, poderoso e aterrorizante” dos sangues), filmes de terror e exploitation da década de 70 e a obra da escritora, ensaísta e editora britânica Virginia Woolf. É uma experiência tátil que une vanguarda e sensibilidade pop de modo magistral, com vozes cálidas ora cantadas, ora sussurradas e uma narrativa que grita vulnerabilidade e empoderamento em igual medida. Blood Bitch, a obra definitiva de Hval, é a história do sangue contada no feminino, uma exploração dos gestos e dos mitos à volta da menstruação e de como esta aglutina mães, bruxas, prostitutas e amantes. Filipe Costa

18 – Julia HolterAviary (2018)


Julia Holter lançou cinco álbuns esta década, incluindo Loud City Song (2013) e Have You in My Wilderness (2015). A sua evolução ao longo dos anos culminou em Aviary (2018), um álbum memorável onde a cantora e compositora revela a sua faceta mais progressiva e experimental. Há uma grande presença de momentos de improvisação e paisagens sonoras complexas, com texturas densas onde os vocais se cruzam com violinos, sopros, órgãos e sintetizadores. O caos e a calma estão presentes em medidas iguais, ocasionalmente em simultâneo. Os instrumentos soltos, muitas vezes sem ritmos constantes a que nos possamos agarrar, deixam-nos livres em atmosferas hipnotizantes como as de “Turn the Light On” e “Chaitius”. As canções mais art pop são igualmente brilhantes. “I Shall Love 2” tem momentos intensos de uma beleza esmagadora. “Words I Heard” é mais relaxada, mas igualmente bonita. “Les Jeux to You” até tem secções dançáveis, mas não deixa de se enquadrar com o resto do disco. As faixas fluem perfeitamente entre si, levando-nos numa verdadeira viagem por um mundo à parte. Aviary é ambicioso e desafiante, um marco no panorama do pop mais vanguardista. RS





17 – Oh SeesFloating Coffin (2013)

Quem fala de garage rock e psicadelismo dos últimos dez anos tem de obrigatoriamente falar nos Oh Sees, colectivo de São Francisco liderado com punho forte por John Dwyer. Todos os anos, desde 2006, os Oh Sees presenteiam-nos com um novo álbum de estúdio, conseguindo sempre trazer algo de novo em cada registo, sendo que nos últimos dois anos a banda virou-se mais para sonoridades influenciadas pelo prog, krautrock e heavy psych. Por isso, falar de um álbum que melhor defina os Oh Sees é uma tarefa árdua. Em Floating Coffins (2013, Castle Face) a banda percorre caminhos mais obscuros e pesados que em trabalhos anteriores e segundo Dwyer, “as canções existem na mentalidade de um mundo perpetuamente dominado pela guerra”. As letras falam sobre sangue espalhado pelas paredes e assassinar uma data de pessoas, mesmo criancinhas, e a capa confere esse ar perturbador e grotesto a toda a atmosfera de Floating Coffins. Temas como “Toe Cutter – Thumb Buster”, “Strawberries 1 + 2”, comprovam o músculo e a determinação dos Oh Sees neste disco, mantendo a sua estética de garage rock envolto em punk, noise e heavy psych dos anos 70. Por vezes, o rock mais furioso é alternado por momentos mais calmos, como é exemplo dos temas “Night Cralwer” e “Minotaur”. RG





16 – Oneohtrix Point NeverReplica (2011)

O quinto álbum de estúdio de Daniel Lopatin como Oneohtrix Point Never, Replica (2011, Software), marca um ponto de viragem entre as eletrónicas progressivas de Returnal e dos seus anteriores lançamentos e as paisagens nebulosas de Chuck Person’s Eccojams Vol. 1, um marco que ajudou a definir as coordenadas do que viria a ser apelidado de vaporwave. O primeiro álbum a ser concluído num ambiente formal de estúdio, Replica assume uma abordagem próxima da colagem sonora, utilizando áudios extraídos de anúncios de televisão das décadas de 80 e 90. O tema-título, que termina a primeira metade do disco, mais ambiente e imersiva, serve como peça central de um disco marcado por momentos de uma assombrosa beleza e melancolia, com um bordão de piano a servir um instrumental onírico de texturas ominosas. A segunda metade, mais cerebral e fragmentada, apresenta construções rítmicas complexas e um uso mais exacerbado do sampling. Sintetizadores fraturados, vozes deformadas e sílabas fragmentadas em loop são elementos omnipresentes num disco que, mais do que uma descontextualização do som, procura desmantelar as concepções do tempo e do espaço. Depois de Replica, a vida de Lopatin tomaria novas proporções: coloborou com FKA twigs, co-produziu o álbum de estreia de Anhoni e compôs a banda-sonora das últimas duas películas de Josh e Ben Safdie (Good Time, filme de 2017, valeu-lhe o galardão de melhor banda-sonora em Cannes), mas o disco de 2011 continua a demarcar-se como uma obra intemporal, e um dos mais importantes documentos da música experimental da década. FC





15 – Ty SegallMelted (2010)

O querubim loiro californiano conquistou muitos corações com os seus variados lançamentos que o viram brincar em reinos do garage punk, stoner, folk ou glam rock. Apesar de nos seus últimos lançamentos ter optado por produções de maior qualidade e mais ousadas (algo que nem sempre pode ter correspondido às expetativas dos fãs), o álbum escolhido para representar o artista nesta lista é Melted. O terceiro álbum do artista, lançado em 2010, atirou Ty para a ribalta e distanciou de todas as comparações que o apontavam como mais um descendente de Jay Reatard ou dos Thee Oh Sees de John Dwyer, o mentor de Segall. Um álbum energético e contagiante do inicio ao fim com malhas como “Finger”, “My Sunshine” ou “Girlfriend” que, apesar da sua curta duração, fizeram, ao longo da década, muitos corpos suar e voar em loucos crowdsurfs, mas que também consegue mostrar o lado mais introspetivo e sorumbático do cantautor (e que viria a explorar ainda mais no futuro no álbum Sleeper) com faixas como “Mrs.” ou “Alone”. Um dos álbuns mais importantes do rock na década de 2010 e que se tornou referência para muitos outros músicos e bandas que apareceriam depois, como os Wand, os Meatbodies ou Froth. HG





14 – Mount EerieA Crow Looked at Me (2017)

Depois do trágico falecimento da esposa Geneviève Castrée, a premissa de Phil Elverum era apenas uma: não fazer da morte um produto artístico. Os primeiros versos de “Death Real” deixam isso bem claro: “Death is real / Someone’s there and then they’re not / And it’s not for singing about / It’s not for making into art”. Elverum, que atua sob o pseudónimo Mount Eerie desde 2003, apresentou-nos as canções mais cruas e despidas da última década com o soberbo álbum A Crow Looked at Me, uma reflexão profunda sobre o luto gerado pela perda de um ente que deixou este mundo demasiado cedo. Musicalmente, o disco funciona como uma faca de dois gumes: por um lado há a frieza de quem conta a vida como ela é, sem filtros e com detalhe preciso e pontual. Por outro, há a beleza inerente à mais pura das tristezas, capaz de gerar canções tão belas quanto angustiantes. A construção episódica do álbum chega mesmo a ser desconcertante, como que um soco certeiro no estômago, mas há uma certa beleza nas palavras de Elverum que, ainda que frias à distância, se apresentam calorosas para a alma. Os lamentos continuaram com Now Only, a sequela inevitável que chegaria um ano depois, em 2018, mas os resultados nunca foram tão estranhamente satisfatórios como em A Crow Looked at Me. FC





13 – Queens of the Stone Age…Like Clockwork (2013)

Poucas foram as bandas que conseguiram manter ao longo da presente década o rácio de popularidade mainstream com a qualidade e visão musical como os Queens of the Stone Age. Apesar de no final da década terem dado um passo em falso com um desinspirado Villains (2017), …Like Clockwork mantém-se um álbum fresco e consistente de inicio ao fim. Gravado após graves complicações de saúde do frontman Josh Homme (Kyuss, Them Croocked Vultures, Eagles of Death Metal), este álbum encapsula a fragilidade e a mortalidade que o músico se confrontado neste período. Faixas como “I Appear Missing” ou a homónima, são contos de um homem que se viu confrontado com a morte e regressou para contar a sua história. Com a ajuda de retornados como magnânimas, na bateria, ou magnânimase Mark Lanegan, os Queens of the Stone Age lançaram um álbum que na data de estreia soube a um clássico instantâneo, que gerações futuras irão partilhar com os seus filhos para responder à pergunta: “o que é que ouvias quando eras mais novo?”. HG





12 – PreoccupationsViet Cong (2015)

Viet Cong é o primeiro LP dos Preocuppations (ex-Viet Cong) depois da dissolução dos Women e o primeiro LP antes de se assumirem como Preoccupations. É também e indiscutivelmente, o álbum mais sólido do quarteto canadiano. Todo o disco evolui como se de uma catarse sonora se tratasse: desde o opener “Newspaper Spoons” com os seus tambores abafados a retumbar por entre ruído e referências ao Naked Lunch, passando pelo crescendo da “March of Progress” e pela “Bunker Buster” – um tema que poderia soar a algo feito pelos Les Rallizes Dénudés – até à culminação com “Death”, um monólito sonoro de 11 minutos cujo build-up nos prepara para o extático final deste disco. Viet Cong é um álbum cru, exploratório e expansivo, uma ode ao niilismo e à auto-destruição. Por tudo isto, poderia ser um depressivo sonoro. Mas na verdade, é um dos discos mais belos desta década. Eduardo Silva 





11 – Godspeed You! Black Emperor‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend! (2012)

Depois de um hiato de dez anos, os Godspeed You! Black Emperor não perderam o seu toque de Midas e lançaram mais uma obra de arte. Allelujah! Don’t Bend! Ascend! é composto por dois temas hipnóticos de 20 minutos e dois temas mais curtos, continuando onde o antecessor Yanqui U.X.O. de 2002 acabou, com uma enxurrada de crescendos, drones e acordes brilhantes. O tema mais intenso deste álbum tem por nome “Mladic” (relacionado com Ratko Mladic, um dos jugoslavos que foi condenado por crimes contra a humanidade no rescaldo da guerra dos Balcãs), onde facilmente se sente uma onda de ritmos ameaçadores e onde o coletivo de Montreal parece perder-se numa tempestade de energia feroz. Apesar de ser mais curto que os trabalhos anteriores, a veemência com que Allelujah! Don’t Bend! Ascend! nos atinge é imensurável. O tempo passou, mas a qualidade do post-rock/ambient/drone dos Godspeed You! Black Emperor permaneceu intacta. DM





10 – DeerhunterHalcyon Digest (2010)

Há dois álbuns que me introduziram à música independente da última década. O primeiro surgiu no virar da década, ainda em 2009, quando os americanos Animal Collective editaram a sua obra definitiva com o genial Merriweather Post Pavillion. O segundo foi o quinto longa-duração dos Deerhunter, Halcyon Digest. Descobri ambos em 2013, uns largos anos depois do seu lançamento, mas o imaginário sedutor destes discos ajudaria a definir a banda-sonora que musicou os últimos seis anos da minha vida. O último, que chegou em setembro de 2010, consolidou o percurso da banda de Bradford Cox enquanto bastiões da música indie, definindo as coordenadas do cancioneiro independente dos anos seguintes. Mais de nove anos depois do seu lançamento, Halcyon Digest não perdeu nem um pouco da magia inicial. O solo de guitarra de “Desire Lines” continua a soar maravilhoso, o saxofone de “Coronado” ainda espalha vida e alegria e os versos de Cox continuam igualmente fraturantes. É também o último disco produzido com o baixista Joshua Fauver, que faleceu em novembro de 2018, e o tema que encerra o disco, “He Would Have Laughed”, foi escrito em homenagem ao desaparecido Jay Reatard. Assolado pelas ideias de novos e velhos ciclos, de fantasmas e traumas do passado, de amores e desamores, Halcyon Digest balança entre o silêncio e a quietude da maturação e a dopamina da juventude. FC





9 – Tame ImpalaInnerspeaker (2010)

O rock psicadélico dos últimos tempos não seria o mesmo sem os Tame Impala. Foi no álbum de estreia do projeto de Kevin Parker, encarregue de todos os instrumentos, da gravação e da produção, que este género musical foi redefinido para uma nova geração. A influência dos clássicos de décadas passadas juntou-se a uma sonoridade moderna, criando um híbrido intemporal com uma produção muito apurada e canções espantosas. “Solitude is Bliss”, “It Is Not Meant To Be” e “Runaway, Houses, City, Clouds” estão entre os melhores exemplos das músicas espaciais e nebulosas que Innerspeaker tem para oferecer. O reverb, o fuzz e o phaser alteram os instrumentos e a voz, que preenchem o espectro sonoro com várias camadas de distorção. As guitarras, ora suaves, ora abrasivas, apoiadas em ritmos de bateria arejados e potentes, fazem nascer atmosferas psicadélicas etéreas, cortadas por linhas de baixo incisivas que têm um papel preponderante neste álbum. Innerspeaker é uma viagem por um sonho surreal e caloroso que se prolongou ao longo de toda a década. RS





8 – David BowieBlackstar (2016)

Tido como uma personalidade transcendente e de cunho musical seminal no panorama pop-rock, David Bowie dispensa apresentações de qualquer tipo. A carreira do músico britânico é bem representativa da sua ambição artística, instaurando desde cedo uma inclinação para experimentações contínuas com vários géneros de todos os tipos e feitios, para além de uma sensibilidade narrativa bem vincada que se refletia também nos seus concertos. Em janeiro de 2016 Bowie presenteou-nos com Blackstar, o seu último álbum que apresenta ecos intensos de estilos como a nova vaga de jazz, música eletrónica e até mesmo hip-hop e que, como seria de esperar de Bowie, demonstra desde cedo uma atmosfera bastante sofisticada e teatral. Ao mesmo tempo, no álbum paira um tenso – até mesmo sombrio – presságio de que a sua jornada estaria a chegar ao fim. Tendo sido lançado dois dias antes de Bowie ter deixado esta Terra, Blackstar é um testemunho significativo do seu génio inquieto, demonstrando isso mesmo com temas como o tema-título e “Lazarus”. Ruben Leite 





7 – DaughtersYou Won’t Get What You Want (2018)

Até 2018 desconhecia totalmente a existência dos Daughters, porém, o elevado número de criticas e opiniões positivas acerca de You Won’t Get What You Want deixou-me com alguma curiosidade ainda que com algum ceticismo em relação ao disco. Após a primeira audição atenta ao disco na sua integra a minha única reação foi começar a chorar espontaneamente, algo que nunca tinha acontecido e cuja razão não consigo perceber totalmente. O sentimento de desespero e sufoco que o álbum transmite é avassalador e no momento em que este terminou senti que me tinha sido retirado algo, esse desespero e sufoco entranham-se e tornam-se parte do ouvinte pela duração do disco.  You Won’t Get What You Want não é um disco fácil de se ouvir, não é um disco para todos e é, provavelmente, dos meus discos favoritos, o que ouvi menos mas conquistou este lugar na primeira audição e confirma-o sempre que é ouvido. Francisco Lobo de Ávila






6 – Kendrick LamarTo Pimp a Butterfly (2015)

O rapper de Compton (Califórnia) Kendrick Lamar tem instaurado a sua posição como um dos maiores valores do hip-hop em recente memória desde o início desta década que agora finda, apresentando álbuns como Section.80 e good kid, m.A.A.d city, que demonstram aí o seu flow ágil e expressivo, e letras pertinentes que tocam em assuntos sensíveis e vividos de perto desde tenra idade. Em 2015, Lamar atinge o patamar de supra sumo do hip-hop com aquele que é discutivelmente o seu magnum opus sob a forma do terceiro álbum To Pimp a Butterfly. Visto que a sonoridade beberica da influência de sons como jazz, funk e spoken-word, e em termos líricos as temáticas sociopolíticas atuais e de celebração da herança afro-americana (ou quiçá, da etnia negra no geral) ganham uma relevância bastante mais acentuada, é seguro dizer que a ambição e o sentido de urgência de TPAB reflete-se a vários níveis, sendo também um daqueles registos que criam expectativas altíssimas do que irá surgir no futuro. RL





5 – SpiritualizedAnd Nothing Hurt (2018)

Seis (longos) anos. Foi o tempo que tivemos de esperar por este novo disco de Spiritualized. Uma espera morosa para quem é adepto ferrenho das melodias espaciais e contempladoras de Jason Pierce, mas que obviamente tem razões. Em 2012 foi lhe diagnosticada uma doença grave no fígado devido aos anos de intenso consumo de drogas pesadas, o que acabou por servir de inspiração para a composição de Sweet Heart Sweet Light. Mas não foi só por isto que esperámos este tempo todo por And Nothing Hurt. J. Spaceman também já disse em várias entrevistas que só escreve álbuns quando acha que são um contributo positivo para a sua discografia. And Nothing Hurt não foi gravado num grande estúdio com vários músicos, técnicos de som e tudo mais a ajudá-lo. Foi gravado num quarto da casa de Pierce em Londres, recorrendo a um portátil e ao software Pro Tools, tudo isto porque o artista não tinha recursos financeiras para alugar um estúdio “de verdade”. Neste trabalho voltamos a sentir aquela serenidade espacial incrível, como se tudo o que estivesse errado na nossa vida finalmente fizesse sentido. As melodias ecoam infinitamente pela nossa cabeça, calmas e contemplativas, onde nos podemos imaginar a viajar sem fim pelas estrelas no universo, numa nave espacial desenhada de raiz por J. Spaceman. Tiago Farinha 





4 – IDLESJoy as an Act of Resistance (2018)

Joy as an Act of Resistance é exatamente o que o título implica, uma coleção de músicas otimistas contra o ódio, a discriminação, a masculinidade tóxica e as imagens de perfeição impostas pela sociedade. As letras são relevantes e estão repletas de versos citáveis, cantados com paixão e sinceridade.  As músicas são agressivas e energéticas, com guitarras distorcidas, linhas de baixo musculadas e espetaculares ritmos de bateria a elevá-las a um alto nível. “Samaritans”, “Danny Nedelko” e “I’m Scum” são verdadeiros hinos, catárticos e triunfantes.  Uma lufada de ar fresco no panorama musical, um punk moderno e impactante onde tanto há raiva como amor. Os Idles têm uma poderosa presença e uma grande honestidade. A sua voz merece ser ouvida. RS





3 – Connan MockasinForever Dolphin Love (2011)

Entre o esmagador sucesso do slacker Mac DeMarco, da irreverente personalidade de Ariel Pink, dos delírios eletronicos de John Maus, às vezes pode ser fácil esquecer o enigmático Connan Mockasin. Mas há uma razão muito simples para ele estar nesta lista e para merecer o destaque da medalha de bronze, e é a magia da sua música. O neozelandês é o condutor de uma encantadora orquestra que faz da mais bela música que os nossos queridos ouvidos tiveram o prazer de ouvir. A faixa homónima de Forever Dolphin Love é a que melhor reflecte o espírito do álbum: uma autêntica odisseia, uma experiência repleta de sons vintage, modernos e únicos. O encanto de Connan Mockasin está na conjugação da inocência e fertilidade da sua imaginação com os sons loucos que consegue reproduzir e de onde resultam histórias de amor entre golfinhos, unicórnios em uniformes ou faixas onde finge tocar jazz com a sua banda. Numa altura em que muitos “imitadores de imitadores” conseguem alcançar o sucesso a desgastar e a saturar géneros, é bom partilharmos o mesmo espaço temporal de alguém tão criativo e genial quanto Connan Mockasin. HG





2 – Nick Cave & The Bad SeedsSkeleton Tree (2016)

A passada década serviu para mais uma demostração de talento e capacidade inata para a música de Nick Cave. Com o lançamento da trilogia Push The Sky Away, Skeleton Tree e Ghosteen, o músico explorou novas sonoridades e mostrou que se consegue reinventar e inovar. Skeleton Tree é o disco com maior destaque nesta lista por ser o mais emotivo desta trilogia, um disco que surgiu pouco após a trágica morte de um dos filhos do cantor, Arthur. O lançamento foi acompanhado do documentário One More Time With Feeling que se foca na criação do disco e em tudo o que muda quando se perde um filho. 2016 e o lançamento deste disco trouxe, também, profundas mudanças na atitude de Nick em concerto, sendo mais notáveis a sua energia e entrega ao público com todos os espetáculos a terminarem com membros da audiência a subir ao palco com o músico. FLA





1 – My Bloody ValentineMBV (2013)

Era inevitável a presença de m b v, o terceiro LP dos My Bloody Valentine. Um álbum que esteve na calha desde meados dos anos 90 e que fica marcado pela separação de uma década da banda e por largos períodos de reclusão de Kevin Shields (a mente criativa My Bloody Valentine). A esta difícil conjuntura, há que contar com a agravante de que todos os integrantes dos My Bloody Valentine desfrutavam, à data da dissolução da banda, de prolíficas carreiras a solo. Tudo isto fazia parecer impossível o lançamento de um novo álbum, e mais ainda tratando-se esse eventual álbum do sucessor do incontornável Loveless, um disco que quase consumiu as forças vitais de Shields e da Creation Records. m b v começou a ser gravado em 1996 e terminou em 2012, com a composição da faixa “She Found Now”, a única do disco composta de raíz neste novo milénio, sendo também esta o tema de abertura do álbum. m b v começa assim com a frase “You come back and see I welcome” e com uma parede sonora a embalar-nos, a acolher-nos para esta nova experiência. Ainda que em termos líricos, m b v seja permeado pelos mesmos temas presentes em trabalhos anteriores – amor, perda e distanciamento emocional – este é também um disco mais estruturado que o seu antecessor, no qual momentos de introspecção – ouça-se o tríptico sonoro formado pelas faixas “Is This And Yes”, “If I Am” e “New You” – convivem harmoniosamente com “Only Tomorrow” e “Who Sees You” – ambas faixas mais próximas de trabalhos anteriores dos My Bloody Valentine – com momentos de contemplação, sendo o exemplo maior disso “Wonder 2”, a faixa que encerra de forma magistral. Uma obra-prima. ES

FacebookTwitter