The Blank Tapes: A felicidade do rock descomprometido e eficaz, no Sabotage

The Blank Tapes: A felicidade do rock descomprometido e eficaz, no Sabotage

| Dezembro 12, 2019 9:07 pm

The Blank Tapes: A felicidade do rock descomprometido e eficaz, no Sabotage

| Dezembro 12, 2019 9:07 pm
Ouvi as melodias de Édith Piaf à saída do Cais do Sodré, de um corajoso a tocar acordeão em mais uma noite fria numa Lisboa de pouca gente. (Paris…!) – Sabotage.

Estava eu animada pela perspectiva de um concerto pontual, rápido, e em simultâneo, entusiasmante. Afinal, se estes músicos que acompanham Matt Adams, o cantor e multi-instrumentista que é na realidade esta banda, ou por outras palavras, os The Blank Tapes são então o seu bebé, o filho prodígio que já rendeu 13 álbuns, sendo que Look Into The Light  é o novo fruto de tanto trabalho na escrita das canções idealizadas numa guitarra acústica de uma Califórnia onde raramente chove e o sol brilha. 

Mas é o frio típico do Outono quase Inverno que nos recebe dentro da época nas ruas de Lisboa, e é já lá dentro no Sabotage, lentamente e sob as luzes vermelho-laranja, que vejo aos poucos a sala a compor-se (e bem) de espectadores, não em grande número é certo, mas assistimos ao espectáculo dentro e fora do palco de uma banda a desenrolar o seu historial, numa noite em que quem veio, aproveitou, dançou e ‘libertou-se’ ao som destes californianos, com um anfitrião em palco, de  comunicativo que foi: Matt Adams, certamente ciente de que se este concerto fosse a um fim de semana teria pelo menos o dobro da assistência, ainda assim foi notável o número de pessoas que assistiu. 

A simpatia dos músicos que ‘atacaram’ as canções mais ligeiras no início, como “LA Baby” ou o mais sério “Pure Evil”, ou mesmo “Uh Oh”, cresceu ao verem a reação favorável da assistência, demonstrando naquele (pequeno) grande palco, ali (escondidos) do mainstream -, só para nós, umas poucas dezenas de pessoas que tinham escolhido comparecer – canções com refrões poderosos como “Magic Leaves”. Esqueci, esquecemos do compromisso com o despertador dali a algumas horas, imbuídos, levados pelo espirito da performance segura e descontraída deste grupo de músicos.

A intensidade do set apresentado foi crescendo e claro, o auge desta apresentação poderá ter ocorrido com “Look Into The Light”, com os solos de guitarra de Matt Adams, com a banda em completo estado de graça a imprimir ritmo ao final desenfreado numa explosão sónica, voltando depois à voz e acordes de Matt Adams para um final cheio de aplausos. Existe uma certa ‘onda’ Hippie quase flower power, um pouco característica de bandas como as de S. Francisco, por exemplo, a cidade que inspirou o flower power. Mas os The Blank Tapes não são um projecto do revivalismo do passado, é certo que não poderiam ser senão norte-americanos, e se é discutível que lá tenha sido o verdadeiro berço do rock n’ roll, então certamente sabe-se que este som movido a guitarras, teclados e de uma secção rítmica minimal mas contundente, só certamente seria um produto ‘americano’ para soar genuíno como convém. Os The Blank Tapes deram um concerto que fez dançar e trouxeram de certo a felicidade que o rock descomprometido e eficaz pode trazer. 

Texto: Lucinda Sebastião
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