Berlau 2019, em dois atos

| Janeiro 11, 2020 12:53 am

Berlau tem sido um nome recorrente nas nossas publicações dos últimos anos. Fernando Ramalho dá vida a este projeto sonoro bastante prolífico com a sua guitarra eléctrica, move-se pelos territórios mais experimentais do drone, field recordings e improvisação livre. Lançou entre 2014 e 2019 inúmeros trabalhos, dos quais destacamos aqui Berlau (2014), Berlau III (2016), meta-sonorização. em diálogo com ana hatherly (2017) e Oito Madrigais e uma Natureza Morta (2018). Podem consultar a discografia completa de Berlau no Bandcamp do artista. Por vezes, Fernando Ramalho junta-se a António Ramos e daí surge Berlau & AM Ramos, dupla responsável por dois dos mais belos álbuns editados na década passada: Red Railbus Sessions (2016) e Monte da Lua (2017).

Voltando a Berlau, 2019 foi um ano preenchido, marcado pela edição de dois novos álbuns. Contrassexual Toccata (for two dildos and electric guitar) saiu em novembro, é uma peça que se divide em três partes e se inspira e dialoga com o Manifesto Contrassexual, de Paul B. Preciado. Seguindo a noção de contrassexualidade proposta por Preciado, esta obra visa desconstruir a conotação falocêntrica da guitarra elétrica, objeto muito utilizado na promoção da masculinidade no universo da música pop, questionando o binarismo entre sexo e género. O uso de dildos para tocar guitarra carrega consigo toda uma nova imprevisibilidade sónica, leva o instrumento a um campo de autonomia que rejeita simbolicamente essa sujeição e o aparato biopolítico do sexo e género.


Em dezembro foi a vez de Greatest Hits ver a luz do dia, conjunto de oito versões, gravadas ao longo do ano de 2019, de canções originais ou arranjadas por Shirley Collins e Davy Graham, Vashti Bunyan, José Mário Branco, Joni Mitchell, Scott Walker, Nico, Pierre de Geyter e The Stooges. Berlau prefere chamar-lhes traduções, no sentido em que alguém escreveu que «a tradução toca o original ao de leve, e apenas naquele ponto infinitamente pequeno do sentido, para seguir na sua órbita própria à luz de uma lei que é a da fidelidade na liberdade do movimento da linguagem».



Agora que vos deixo os últimos avanços na carreira de Berlau, é bom que fiquem atentos a 2020 e aos próximos anos, de certeza que iremos ter mais novidades deste experimentalista.
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