Reportagem: O Manipulador [Maus Hábitos, Porto]

Reportagem: O Manipulador [Maus Hábitos, Porto]

| Janeiro 23, 2020 9:43 am

Reportagem: O Manipulador [Maus Hábitos, Porto]

| Janeiro 23, 2020 9:43 am
“We went downtown to make up for our boring lives” 

Na noite de 15 de janeiro rumámos downtown, até aos Maus Hábitos, para a primeira apresentação ao vivo de Doppler d’O Manipulador, um projeto one-man ou melhor, one-man-baixo de Manuel Molarinho (também frontman dos Baleia Baleia Baleia). Este é o 4º álbum (com label da Saliva Diva) deste projeto experimental, onde o baixo elétrico é usado como instrumento total. 

Influenciado por bandas de rock alternativo e a ética de DIY Manuel Molarinho inspira-se em paisagens industriais abandonadas, nos ritmos e melodias das conversas e na experimentação. Tudo isto se traduz na originalidade da criação de temas em que o baixo, acompanhado de pedais, loop station e voz, assume o protagonismo de percussão, textural e melódico. 

Pouco passava das 22h30 quando a sala começou a borbulhar ao ritmo do alinhamento “desalinhado” d’O Manipulador. O músico ao entrar em sala preencheu a tela de um palco desnudado, onde apenas se vislumbrava o microfone, pedais, o baixo e pouco mais, iluminando-se ou obscurecendo-se ao ritmo das músicas que iam sendo “violadas”. 

As músicas de Molarinho retratam o quotidiano de um viver citadino que nos transmite sentimentos, muitas vezes de tensão latente, como quando ouvimos “Bloody Tongue”, de melancolia ou até de lamento como “Baby I Don´t Feel So Well”, de dilemas interiores, de procura “Downtown” e mesmo de uma certa obscuridade. Ouvi-las, é o estimular de diversos sentidos em simultâneo, transmitindo-nos a sensação de sermos parte integrante da ação à medida que a “teia” sonora vai sendo construída e a armação de loops nos vai envolvendo e capturando. 

Num ambiente despretensioso, bem característico dos Maus Hábitos, o público não resistiu à dança, vibrando com temas como “If You Ruled The World”. Entre músicas, Manuel Molarinho foi fazendo alguns agradecimentos, nomeadamente aos anfitriões em sala, ao público que ali se tinha deslocado em noite tempestuosa ou até a André Catarino, autor da excelente artwork de Doppler.

A noite termina com eletrizantes minutos de improvisação d’O Manipulador, que entraram no ouvido como que o embrião de um novo tema. O intenso e belo efeito Doppler acertou-nos como poesia irrequieta e intensa.



Texto: Armandina Heleno 

Fotografia: David Madeira
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