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Fotografia: João Machado |
Depois de uma primeira parte sólida dos Pays P., trio francês que entreteve uma pequena porção do público que encheu a sala portuense, a banda americana subiu finalmente ao palco para júbilo dos muitos que se deslocaram ao antigo Mercado Ferreira Borges. Equipada de um imprevisível microfone de cabeça (as comparações a Britney Spears, a mais notável utilizadora deste equipamento, foram inevitáveis), Lenker arrancou a noite com três novas canções, ainda verdes e em versão beta. Os rodeios e a dificuldade em afinar o tom eram visíveis nos olhares hesitantes dos seus parceiros, fazendo-nos questionar se nos encontrávamos num ensaio intimista, mas o potencial das canções é evidente – melodias caprichosas e emoções à flor da pele a lembrar Lucinda Williams e Elliot Smith.
É ao som de “Forgotten Eyes” que a máquina parece finalmente oleada. O primeiro tema de Two Hands a surgir no alinhamento trouxe nova vida à atuação e uma renovada atenção por parte do público. Seguiram-se as mais celebradas “Masterpiece”, do álbum de estreia com o mesmo nome, e “Shark Smile, do maravilhoso Capacity, de 2017, onde um manto turbulento de experimentação ruidosa dá origem a uma linha de baixo distinta que coaduna os restantes três membros da banda. Da beleza de “Mythological Beauty”, mais uma das coroas de Capacity e uma das provas concretas do génio de Lenker enquanto contadora de histórias (atente-se no relato visceral com que canta o acidente que ameaçou a sua vida quando tinha apenas 5 anos), seguiu-se a dolência de “Terminal Paradise”, original de Lenker que recebeu novo tratamento em U.F.O.F., e a fragilidade de “The Toys”. E se o rock ainda está vivo, então habita no fabuloso solo de “Not”, portento revigorante que trouxe um novo e esperançoso folgo à música feita com guitarras.
Os últimos minutos da noite foram reservados para uma “Cattails” com final feliz, já que o tema não teve a mesma sorte na noite anterior, em Lisboa, onde acabaria a ser abortado após várias tentativas para encontrar o tom correto da guitarra. “Mary” ainda serviu para aconchegar a alma dos mais enamorados mas foi com a final “Contact”, que introduz o primeiro dos últimos dois álbuns, que a banda encheu as medidas do público que, já no encore, assistiu ao assombroso bradar de Lenker.
Ao longo de 60 minutos, Adrianne Lenker, Buck Meek, Max Oleartchik (bass) e James Krivchenia cantaram-nos as feridas, os traumas e os amores que os atormentam, a eles e a nós, reforçando uma profícua relação de respeito e humanidade com o público português.
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