Emma Acs
While I Shoot from My Fortress of Delusions

| Fevereiro 10, 2020 12:01 am

While I Shoot from My Fortress of Delusions | Third Coming Records (LP) | janeiro de 2020
9.0/10

Emma Acs esteve em pausa durante um período de cinco anos para colocar a sua vida musical em ordem. E acreditem que esta não é uma ordem qualquer, While I Shoot From My Fortress Of Delusions, o novo EP da artista dinamarquesa atualmente sediada em Los Angeles, marca um renascimento poderoso, celestial e pronto para se fazer sentir como uma das grandes edições deste ainda jovem 2020. Afastando-se dos ritmos mais coloridos que até então caracterizaram a sua discografia, Emma Acs veste uma nova pele e apresenta uma melancolia inerte feita para nos envolver e apaixonar, onde a música clássica, a pop e os sintetizadores badalados estão em auge. 


Longe encontram-se os tempos de “We Make Sense” (2010) ou do LP de estreia Champagne (2011) quando Emma Acs era ainda uma jovem nos seus 20 anos e nos cantava com a sua doce voz sobre baladas pop-rock românticas, recheadas de sintetizadores alegres e atmosferas sonhadoras. Esta aura mais positivista começou a sofrer uma certa decadência com o lançamento de Give In To Whatever (2015), onde começou a ser notória uma certa evolução a níveis sonoros, com uma maior exploração de ritmos tribais e inserção de arranjos da música clássica e jazz. Agora, com uma sensibilidade ampliada e toda uma perspetiva múltipla na abordagem sonora, Emma Acs traz ao mundo um registo magistral que prima não só pela qualidade instrumental, – a elevar a sua música tradicionalmente pop a todo um patamar inventivo – mas também pela decadência lírica e estética pós-romântica que aporta. 


Num LP de 45RPM que inicia com a celestial “Blessed Are The Faithfull” – tema em que Emma Acs nos canta sobre as suas frustrações com o “criador” e a desorientação que acompanha todo o processo de crescimento – rapidamente somos convidados a entrar num mundo angelical acompanhado por coros etéreos que refletem a fragilidade do ser humano desde o seu processo de conceção. As vibrações alegres são deixadas de lado e, sem grande espaço para respirar entre as faixas, somos transportados para uma atmosfera mais negra que até então não era assim tão óbvia em Emma Acs e que é tão sentida em “Palm Trees”. Sem limites no segundo tema do LP, Emma Acs começa por arrasar o ouvinte no formato bateria e sintetizador com uma camada sinistra de angústia e revolta “and while I shot from my / fortress of delusions / my throbbing brain makes / these drastic conclusions / I want to hurt you so badly / so run now baby please“. Atirar na fortaleza de desilusões é uma tarefa hercúlea, mas Emma Acs aparenta saber desconstruir-se e reinventar-se como tão facilmente respira e é isso que torna este While I Shoot From My Fortress Of Delusions uma peça de obra tão bela. 





Todo o hype construído ao redor deste lançamento começou por ser criado assim que Emma Acs entrou no catálogo de artistas da Third Coming Records com o lançamento do primeiro tema de avanço do disco, “My Beloved (Lost To Begin With)”. Numa balada de amor pulsante, caracterizada pelos saxofones retorcidos e uma voz sedosa, Emma Acs apresentava ali um cenário único a juntar as atmosferas sonhadoras da pop à experimentação e improviso do jazz e a fazer crescer as expectativas em altas para este novo disco. O hype voltou a crescer com o já supracitado “Blessed Are The Faithfull” mas tornou-se real no início do ano, com o lançamento do terceiro tema de avanço “Disarmed”, uma das grandes criações de Emma Acs e companhia. Em “Disarmed” somos convidados a entrar num novo universo frio que foge de todas as reminiscências rock de origem e é altamente influenciado pela música eletrónica e ainda algumas vibes do hip-hop. Num tema altamente aditivo, congruente e majestoso somos ainda surpreendidos com as cordas distantes da guitarra, que caracterizam o seu fim. 




O Lado B do LP – que se apresenta o lado mais experimental do novo trabalho – inicia com “Into Your Heart” tema focado nas dificuldades de compreensão do amor e que abre com um poderoso saxofone e um ritmo cativante que se vai moldando à progressão da música, com várias quebras e desdobramentos de ritmo. Como veia condutora usa uma voz ora sedutora e frágil ora imperativa e vigorosa, que Emma Acs tão bem controla. Sem pausas segue-se “Right Here”, a apresentar em força a conjugação entre o classicismo com o grave piano, os arranjos de violinos e algumas nuances de sonoridades nipónicas. Possivelmente uma das faixas mais estimulantes do EP e também uma das mais queridas, porque a clara surpresa do álbum ficou mesmo guardada para o fim, com a despedida orquestral absolutamente poderosa e imersiva presente em “Witch Hunt Waiting Room”. Se Emma Acs nos tinha surpreendido até então, com o tema de encerramento “Witch Hunt Waiting Room” abre espaço para um futuro altamente promissor na carreira como artista, com os violinos e os arranjos de som a quebrarem qualquer limite anteriormente existente na sua música. Um encerramento luminoso para uma obra absolutamente brilhante. 





Em While I Shoot from My Fortress of Delusions Emma Acs apresenta-nos um lado mais sombrio, polido e absolutamente lustroso que não se prende a uma base só, mas nunca descura da toada carinhosa que tão bem caracteriza o seu trabalho. Neste novo trabalho Emma Acs mostra toda uma nova força maníaca para compor sons altamente imersivos, nostálgicos e incrivelmente divergentes entre si. O resultado é um EP altamente conciso que viaja entre os mundos da pop, a experimentação e improviso arrojados do jazz e o mundo clássico, sem nunca perder a sua essência romântica. Emma Acs é a nova musa dos novos anos 20 e o EP While I Shoot from My Fortress of Delusions, um dos melhores prémios de 2020.




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