tricot
Makkuro

| Março 5, 2020 4:39 pm
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真っ黒 Makkuro | 8902 Records | janeiro de 2020 

8.3/10 

As garotas mais efervescentes do rock japonês estão de volta, e com mais intensidade que nunca! As tricot regressam aos discos com o seu quarto álbum de originais, de seu nome Makkuro (ou 真っ黒, que traduzido, significa literalmente “escuro como breu”). E ao contrário do que a capa simplista deste novo álbum possa indicar, estas moças, juntas desde 2010, especializam-se numa sonoridade de math-rock ritmicamente desafiante cruzado com a pop mais melódica e melosa, com o trabalho vocal a estar particularmente afinado e no ponto, e a cada disco que elas lançam, a sua sonoridade no geral demonstra estar cada vez mais consistente e aprazível. 

Se o material lançado – seja o EP Repeat ou os singles – entre este Makkuro e o álbum anterior meramente chamado de 3 (lançado em 2017) é algum indicador, as tricot têm-se dedicado durantes estes últimos anos a investir na costela mais pop da sua sonoridade, com um cunho melódico significativamente mais aguçado, seja a nível das instrumentações mais arrebitadas ou das vozes mais límpidas. Essa mudança de paradigma no som da banda reflete-se em pleno em Makkuro, como se de bandas sonoras de séries slices of life japonesas se tratassem – ou quase era o caso, não fosse o instinto pop destas moças mais encorpado e agridoce que o habitual. 


Diga-se desde já, no entanto, que apesar dessa vertente estar mais predominante do que nunca, as outras qualidades da banda – diga-se, texturas ligeiramente noisy e passagens frenéticas – ainda estão presentes em Makkuro. Qualquer que seja a vertente sonora adotada, a banda demonstra ser habilidosa o suficiente para alternar entre elas (ou até mesmo cruzá-las aqui e ali), como notado em faixas como o single “Overflow” (あふれる), 秘蜜 e みてて que demonstra a banda no seu estado mais groovy, ou o tema-título “真っ黒”, que serve de encerramento do registo e que apresenta a banda no seu estado mais melancólico. No entanto, há algumas faixas que não são tão bem conseguidas, particularmente na primeira metade do registo, como no caso da “右脳左脳” e “低速道路”, que em boa verdade pecam por ser um pouco esquecíveis. 

Gingonas e aventureiras como nunca antes, as tricot apresentam um equilíbrio bastante arrebatador neste disco. Além do entrave colocado pela barreira linguística, há também o facto de que a ida para caminhos mais pop não irá decerto agradar a alguns dos fãs dos álbuns anteriores, mas apesar de tudo, a banda demonstra estar ainda assim em topo de forma e, acima de tudo, continua determinada em seguir a intuição na sua jornada de como obter uma sonoridade que seja em iguais partes melódica e dissonante, acessível e complexa.
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