Russian Circles. A motivação de Blood Year era fazer um disco que refletisse a intensidade ao vivo

Russian Circles. A motivação de Blood Year era fazer um disco que refletisse a intensidade ao vivo

| Março 11, 2020 12:26 pm

Russian Circles. A motivação de Blood Year era fazer um disco que refletisse a intensidade ao vivo

| Março 11, 2020 12:26 pm
Sob o signo de Blood Year, o seu sétimo álbum, o trio de post-metal de Chicago, Russian Circles, vão regressar a Portugal para duas atuações, 18 de Março no Hard Club, no Porto, e no dia seguinte no LAV – Lisboa ao Vivo [CONCERTOS CANCELADOS, ler comunicado no fim do artigo].

Em entrevista com a banda tentámos perceber como é que ao longo da sua carreira conseguem manter o seu processo criativo fresco e interessante e, de uma vez por todas, perceber o que raio é que aconteceu em Lisboa para terem criado uma música com o nome da capital portuguesa.

Blood Year é o vosso sétimo álbum. Como é que uma banda tão experiente aborda o processo de gravação neste ponto da carreira?

Russian Circles (RC) – Ainda há alguma incerteza sobre como será o processo
criativo, apesar de termos gravado até agora sete álbuns. Simplesmente não sabemos
o que vai ressoar com todos da banda. Estamos sempre a tentar encontrar um
espaço coletivo onde todos se sintam satisfeitos e, como todos envelhecemos e
passamos por experiências diferentes, teremos sempre que recalibrar a nossa
abordagem. Por fim, sempre será uma questão de três pessoas se reunirem numa
sala e criarem vários riffs, mas nunca sabemos realmente como será o resultado.

Porquê a escolha de Blood Year como título do álbum? Foi um ano difícil para vocês?

RC- O nosso álbum anterior teve o nome de Guidance porque sentimos todos que estávamos à beira dessas grandes mudanças nas nossas vidas particulares, mas não sabíamos onde íamos parar. Fizemos tours bem duras por mais de dois anos e lidamos com algumas realidades bastante pesadas no processo. Houve alguns sustos de saúde na banda, dois membros em mudança de casa em pontos diferentes do país e vários outros detalhes privados que não são particularmente interessantes, mas que certamente impactaram as nossas visões do mundo. Nenhum dos detalhes é crucial para entender o tom do álbum, embora eu ache seguro dizer que definitivamente houve uma forte sensação de catarse com Blood Year.

Qual foi a vossa motivação antes de começarem a gravar este disco? Qual é o background de Blood Year?

RC – Fizemos uma tour pesada na promoção de Guidance, que não estava no plano inicial, mas tivemos também muitas oportunidades e conseguimos aproveitá-las, e depois de três anos no ciclo do álbum, todos concordamos que precisávamos de tornar o próximo álbum mais reflexivo das nossas atuações ao vivo. Nós gostamos de fazer discos dinâmicos, mas no palco gravitamos em direção a coisas mais pesadas e agressivas, por isso a motivação por trás de Blood Year era fazer um disco que refletisse a intensidade ao vivo.

Como foi a experiência de gravação neste disco? Tentaram
algo de diferente?

RC – Não queríamos pensar demasiado nas coisas. Nos últimos
álbuns tínhamos concedido tempo extra no estúdio para desenvolver certas ideias
e experimentar com a produção, mas desta vez queríamos que tudo fosse
simplificado. Usei bem menos efeitos de pedais e concentrei-me em tentar
escrever coisas menos ligadas a tonalidades específicas. Tendemos a envolver-nos
bastante na cena pós-rock, e tentámos ativamente evitar algumas das armadilhas
desse estilo.

Este álbum foi produzido por Steve Albini, como foi
trabalhar com uma personagem tão lendária?

RC – Gravamos no estúdio do Steve Albini, Electrical Audio, mas o
Albini não teve nenhum papel no álbum. Contámos com o Kurt Ballou para projetar e
produzir Blood Year porque gostámos de trabalhar com ele no Guidance.
Neste álbum têm uma música intitulada “Milano”, qual é a história por trás dessa faixa?

RC – Essa surgiu rapidamente. O Mike (nosso guitarrista) tinha vários riffs que funcionavam bem juntos, incluindo esta linha de guitarra abandonada que, por qualquer motivo, nos lembrou a banda sonora de The Godfather. Ele estava a mostrar-nos esses riffs durante um ensaio e, em vez de discutirmos um monte de arranjos diferentes, decidimos pegar neles e praticamente decidimos a estrutura da música depois de uma ou duas passagens. Habitualmente, isto envolve muitas conversas, planos, mistura de partes, edições, e ajustamentos, mas isto como que encaixou tudo no lugar. Íamos nomear a música em homenagem ao nosso amigo promotor Corrado, de Milão, por causa de toda a história de Godfather, mas estávamos preocupados que os americanos pensassem que era uma referência ao antigo modelo da Volkswagen dos anos 80.


Esta não é a primeira música com o nome de uma cidade. Estão apegados a essas cidades que vos inspiram a escrever as músicas?

RC – Sim. Muitas vezes são referências aos sítios onde os primeiros fragmentos iniciais da música foram escritos. Tipo, “Lisboa” foi baseado num fragmento de música que o Mike escreveu numa das nossas tours por Portugal. “Geneva” foi escrito numa casa na floresta perto do lago Geneva, em Wisconsin. Os títulos são apenas pequenas diretrizes para nos lembrar de onde o material se originou, mas não são o contexto necessário para o ouvinte.

Gostam de viajar ou consideram-se viajantes?

RC – Eu gosto de fazer tours e ir a novos lugares. Mas também acho que grande parte do meu tempo é gasto fora de casa que, quando não estou em tour, só quero aproveitar Seattle e os arredores do noroeste do Pacífico.

A vossa música é principalmente instrumental, é difícil ligarem-se ao público quando não tem letras na música?

RC – De modo algum. Acho que a ausência de letras permite que nossa música ressoe com um público mais amplo. Não há distração de uma personalidade maior que dite o assunto do material, para que as pessoas possam projetar os seus próprios sentimentos na música.

Acham que o processo de compor músicas com voz é muito diferente ou mais fácil do que a criação de composições instrumentais?

RC – As vozes costumam servir como ponto focal. Elas conduzem o humor, enfatizam as coisas, fornecem contexto. Deixando tudo isso de lado, temos de garantir que a música é forte o suficiente para se sustentar sozinha. Suponho que isso torne um pouco mais difícil, porque a música precisa de ser envolvente por conta própria, mas muitas das músicas que eu gosto parecem ter um vocalista apenas por expectativa cultural. Muitos ouvintes do punk, metal e hardcore tratam as vozes quase como uma reflexão tardia. Alguém já ouviu black metal e pensou “caramba, estas vozes realmente levam a banda ao próximo nível”? Metade do tempo, nem se consegue discernir o que está a ser cantado. Não estou a tentar desrespeitar essas bandas … as vozes ainda desempenham um papel textural no álbum e um papel de entretenimento no palco. Mas a maioria das pessoas provavelmente está a concentrar-se nas guitarras e na bateria, certo? Um bom vocalista de black metal não vai salvar uma banda de merda.




Quais são as vantagens e desvantagens de ser uma banda pequena (apenas 3 membros) na composição de música instrumental?

RC – Não acho que haja desvantagens. Há menos opiniões. Menos conflitos de agendamento. Menos pessoas a pagar. Menos pessoas a amontoarem-se no palco. Menos batalhas de frequência.

A vossa banda apareceu numa mistura de pós-metal e pós-rock, ainda acham que o público se identifica com esse tipo de género musical?

RC – Eu realmente só ouço falar de pós-metal e pós-rock quando somos entrevistados. Caso contrário, esses géneros não significam muito para nós. Eu sei que existem pessoas por aí que gostam da nossa banda e gostam de muitas coisas que são sonoramente semelhantes ao que fazemos. Mas estamos apenas a ouvir Guru Guru e Mortiferum e a tentar escrever músicas que nos fazem felizes. Não estamos preocupados com a forma como as pessoas o categorizam.

Daqui a quatro anos a vossa banda celebrará o 20º aniversário, sentem a necessidade de renovar o vosso som? Se sim, como a banda faz isso?

RC – Não iremos forçar mudanças na banda. Nós vamos apenas escrever o que nos faz feliz. Os Lungfish não alteraram a sua trajetória ao longo dos dez álbuns. Por que é que nós o deveríamos fazer?

Como acham que os jovens Russian Circles olhariam para a música que lançaram este ano?

RC – Eu acho que eles ficariam entusiasmados. E acho que eles ficariam surpresos por ainda estarmos a fazer isto.


Entrevista por Hugo Geada



Comunicado da Amplificasom

Os concertos de Russian Circles e Torche agendados para os próximos dias 18 e 19 de março em Lisboa e Porto foram cancelados, em resultado do adiamento da tour da banda. A decisão acontece como resposta às medidas preventivas que têm vindo a ser adoptadas, a nível internacional, para o controle do alastrar dos casos de Coronavírus. A Amplificasom irá proceder à devolução dos bilhetes de acordo com a directrizes clarificadas abaixo. 

A declaração da banda: 

“It’s with heavy hearts that we’re announcing the postponement of our European tour with Torche due to the increasing government pressure to limit public events in the wake of the coronavirus. We’ve been watching the day-by-day developments closely and all the patterns seem to indicate that the measures imposed by countries like Italy will likely be the model for most of Western Europe in the next few weeks, effectively cancelling the majority of our shows. We have already had several concerts cancelled on us and we’ve been asked to postpone our performances by several additional promoters. Ultimately, we anticipate that the situation will get worse before it gets any better. Beyond government restrictions, we also have to consider the health of our audiences and the people working our shows. We’ve played shows with broken fingers. We’ve played shows with vomit buckets hidden behind our amps because members of the band we’re dealing with stomach flus. We’ve played shows days after members have come out of surgery. We’ve played through any number of physical, emotional, or financial hardships, but unfortunately we have to make an exception this time around. It pains us to postpone the tour, but for the sake of our audience, our colleagues in the clubs, and ourselves, we feel it’s best to reschedule the tour for later in 2020. That said, we are keeping our fingers crossed that the situation improves in time for Roadburn Festival in mid-April as we are still planning on performing as scheduled. We apologize for the inconvenience this may have caused anyone but we will be back soon. Stay safe and take care of each other.”

DEVOLUÇÃO:
Bilhetes comprados online na Amplistore: Devolução disponível a partir de 11 de Março.
Bilhetes comprados no Hard Club, Louie Louie, Bunker Store e Piranha: Devoluções em dinheiro a partir de12 de Março. Obrigatório apresentar bilhete. 
Bilhetes comprados na Glamorama e Flur: Devoluções em dinheiro a partir de12 de Março. Obrigatório apresentar bilhete. 

Qualquer dúvida poderá ser esclarecida através de amp@amplificasom.com. 
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