7 ao mês com Daisy Mortem

7 ao mês com Daisy Mortem

| Julho 15, 2020 12:00 am

7 ao mês com Daisy Mortem

| Julho 15, 2020 12:00 am

A celebrar seis meses da edição de Faits Divers achámos por bem dar foco ao trabalho de um dos mais ecléticos e selvagens grupos dos últimos tempos: a dupla francesa Daisy Mortem. Cindy Blurray e Vampiro Maracas têm forjado no mundo da eletrónica o seu universo musical muito próprio. Com uma dedicação contagiante que incorpora no produto de consumo todo um lado bizarro, ao escutar o trabalho dos Daisy Mortem facilmente somos projetados para uma parede de som experimental que cria uma harmonia concisa num caos constante. 


Absorvidos pela engenharia da fórmula aditiva que os Daisy Mortem têm aprimorado nos últimos anos, quisemos saber de onde veio a fonte de inspiração, não só na música, mas também na formação das suas personas. Assim, para integrar a lista de convidados do 7 ao mês, fomos até França conhecer os Cindy Bluray e Vampiro Maracas através da sua playlist. Pedimos para selecionarem sete artistas e contarem-nos a história por trás. 


Eis o resultado:



Marilyn Manson – Antichrist Superstar (1996) 



Vampiro Maracas: Nós descobrimos este álbum quando tínhamos 14 anos e ficámos completamente seduzidos por ele, pelo sentimento de fruto proibido que tivemos quando o ouvimos. Este álbum evoca imagens tão intensas. É como se sentisses que estás preso numa caverna húmida, à procura de uma saída enquanto o ouves. A maneira como ele e a sua equipa criam uma decoração e um ambiente sonoro totalmente realizados é algo que tentamos reproduzir no nosso trabalho. O álbum é tão invasivo e isso é um crédito ao incrível talento de Marilyn Manson


Cindy Bluray: Depois deste álbum, nós descobrimos os Nine Inch Nails, uma vez que foi o Reznor que produziu o Antichrist Superstar, e provavelmente descobrimos aqui a nossa influência mais profunda. Há tanta honestidade, integridade e exigência artística no seu trabalho que faz com que tu acredites que podes fazer algo de bom neste mundo.






Linn da Quebrada – Pajubá (2017) 



Vampiro Maracas: Eu vi Linn da Quebrada ao vivo quando morava no Porto há alguns anos atrás. Não se comparava a nada do que eu já vi, no melhor sentido possível. Ela desfoca as linhas de várias maneiras, desde as suas canções tropicais e industriais até à sua estética do tipo sirene aterrorizante. Existe essa qualidade bruta e crua nela que eu amo. Graças a ela, pude descobrir o baile funk e uma incrível cena brasileira que não é muito conhecida na Europa. Essas influência podem ser encontradas no nosso trabalho nos temas “Arêtes” e “Gamelle”. 






Mr. Bungle – California (1999) 



Cindy Bluray: A maioria dos projetos do Patton tem uma grande influência em mim. A música dele ensinou-me algumas coisas fundamentais: como traduzir sensações cinematográficas em música, como trabalhar em várias cores e cruzamentos inesperados de géneros, como tocar com narração musical e, talvez o mais importante, como fazer uma música com elementos humorísticos sem ser irónico ou cínico. 




SOPHIE – Oil Of Every Pearl’s Un-Insides (2018) 



Vampiro Maracas: Na minha opinião, Sophie é uma das artistas mais fascinantes dos últimos anos. Ela elevou com sucesso a música club através das suas produções vanguardistas e experimentais. Ela mudou completamente a maneira como eu produzo, influenciando a utilização de sons de textura, em vez de instrumentos e a forma como eu transformo e desconstruo os sons em vez de usar samples. Quando ouvi a música da Sophie pela primeira vez, foi como passar de 2D para 3D, uma evolução total. Criativamente, é realmente inspirador. 


Cindy Bluray: Eu amo como ela não usou a música do clube e as vibrações brilhantes de uma maneira irónica, mas realmente como uma maneira de expressar algo profundo e bonito. Ela também conseguiu o desafio de fazer não apenas bangers, mas também um álbum narrativo real. 






JPEGMAFIA – Veteran (2018) 



Cindy Bluray: Com os naughtybabysub, um dos meus projetos paralelos, tocámos em Nova York há alguns anos atrás com ele. Então eu fiz uma pequena tour pela França com ele antes da sua explosão no panorama. Eu realmente aprendi profundamente com essa experiência. Todas as noites ele dava tudo, cativava as pessoas. Como alguém que vem do nada e faz tudo de forma DIY, com uma abordagem de vanguarda, mas popular ao mesmo tempo. O Peggy realmente faz-me dedicar mais a ser um artista. Além disso, a abordagem “veterana” de ruídos, amostras e intervalos foi uma grande influência para criar o som de Faits Divers






Bauhaus – Burning From The Inside (1983) 



Vampiro Maracas: Descobri este disco quando tinha 15 anos e estava de férias com o meu tio. Embora seja muito escuro, ainda consigo obter uma vibração energética tão animada dele. Há um lado selvagem e intenso neste álbum que eu amo. Estilisticamente, eles terão criado uma mistura de medieval, gótico e pop com referências super interessantes, como a música deles sobre o Antonin Artaud, um dramaturgo francês de vanguarda. Eu vi-os ao vivo em Portugal há dois anos… foi incrível. A presença elegante e teatral de Peter Murphy no teatro é definitivamente uma grande influência nas nossas apresentações ao vivo. 


Cindy Bluray: O Peter Murphy tem essa intensidade do bruxismo, quase xamânica na sua voz que me influenciou bastante e me ajudou a encontrar a minha maneira de cantar. É mesmo selvagem, cru, possuído. Há algo eternamente vivo na voz dele. 






Mindless Self Indulgence – Frankenstein Girls Will Seem Strangely Sexy (2000) 



Cindy Bluray: Esta é uma das bandas que salvou a minha vida. Essa mistura caótica e histérica de sensualidade, homossexualidade, estupidez, música eletrónica punk-hip-hop da selva emocional foi a minha salvação. Houve um momento na minha vida onde eu literalmente ouvia os MSI todas as manhãs para ter forças para me levantar e tomar banho. Com humor e raiva, há um sentimento invencível que realmente te ajuda a lutar. Além disso, como um cantor bissexual a gozar consigo, foi realmente algo único quando eu era adolescente. Obrigado Jimmy por isso. 






Se quiserem saber mais sobre os Daisy Mortem aproveitem para os seguir através do Facebook ou pela sua página do Bandcamp, onde podem comprar o seu mais recente disco Faits Divers







———— ENGLISH VERSION ———— 



In order to celebrate the six-month mark of the Faits Divers, we decided to focus on the work of one of the most eclectic and wildest groups of recent times: the French duo Daisy Mortem. Cindy Bluray and Vampiro Maracas have forged their very own musical universe in the electronics world. With a contagious dedication that incorporates a bizarre side into the consumer product, when listening to the work of Daisy Mortem we are easily projected to an experimental sound wall that creates a concise harmony in constant chaos.


Absorbed by the engineering of the additive formula that Daisy Mortem has improved over the last few years, we wanted to know where the source of inspiration came from, not only in music but also in the formation of their personas. So, to join our 7 ao mês guest list, we went to France to meet Cindy Bluray and Vampiro Maracas through their playlist. We asked them to select seven artists and tell us the story behind it. 


Here is the result:





Marilyn Manson – Antichrist Superstar (1996)



Vampiro Maracas: We discovered this album at 14 years old and we were completely seduced by it, by the forbidden fruit feeling we had when we listened to it. This album evokes such intense imagery; you’ll feel like you’re stuck in a humid cave, looking for an exit, while listening to it. The way the team with him creates a fully-realized sonic decor and environment is something we try to reproduce in our work. The album is so invasive and this is a credit to Marilyn Manson‘s incredible talent. 


Cindy Bluray: After this album blew our mind we discovered Nine Inch Nails, as Reznor produced Antichrist Superstar, and we found probably our deepest influence. There’s such honesty, integrity and artistic exigency in his work, that makes you believe you can do something great in this world. 






Linn da Quebrada – Pajubá (2017)



Vampiro Maracas: I saw Linn da Quebrada live when I was living in Porto a few years ago. It was like nothing I’d ever seen, in the best possible sense. She blurs the lines in so many ways, from her songs that are both tropical and industrial to her aesthetic as a terrifying siren. There is this raw and crude quality about her that I love. Thanks to her, I was able to discover baile funk and an incredible Brazilian scene that isn’t very well known in Europe. You can see this influence in our songs “Arêtes” and “Gamelle”.






Mr. Bungle  – California (1999) 



Cindy Bluray: Most of Patton‘s projects have a great influence on me. His music taught me a few fundamental things: how to translate cinematographic sensations into music, how to work on multiple colors and unexpected genres crossing, how to play with musical narration, and, maybe the most important, how to do music with humoristic elements without being ironic or cynical. 






SOPHIE – Oil Of Every Pearl’s Un-Insides (2018) 



Vampiro Maracas: In my opinion, Sophie is one of the most fascinating artists of the last few years. She successfully elevated club music with her avant-garde and experimental productions. She completely changed the way I produce, influencing my use of textural sounds instead of instruments, and how I transform and deconstruct the sounds instead of using standard samples. When I first heard Sophie’s music, it was like going from 2D to 3D, a total evolution. Creatively, it’s truly inspiring. 


Cindy Bluray: I love how she didn’t use club music and glittery vibes in an ironic way, but really as a way to express something deep and beautiful. She also succeeds in the challenge to do not only bangers, but a real narrative album. 






JPEGMAFIA – Veteran (2018) 



Cindy Bluray: With naughtybabysub, one of my side projects, we played in New-York a few years ago with him. Then I had a little tour in France with him before he blew up. I really learned deeply from this experience. Each night he was giving everything, captivating people. As someone coming from nothing, doing everything DIY, with a very avant-garde approach but popular at the same time, Peggy really makes me devote deeper into being an artist. Also, the “Veteran” approach of noises, samples and breaks was a big influence to create Faits Divers’s sound.






Bauhaus – Burning From The Inside (1983) 



Vampiro Maracas: I discovered this album when I was 15 years old on vacation with my uncle. Though it’s pretty dark, I still get such a lively energetic vibe from it. There is a wild, intense side to this album that I love. Stylistically, they’ll have a blend of medieval, goth and pop with super interesting references, like their song about Antonin Artaud, an avant-garde French dramatist. I saw them live in Portugal two years ago… it was incredible. Peter Murphy‘s elegant and theatrical stage presence is definitely a big influence on our live performances. 


Cindy Bluray: Peter Murphy has this witchy, almost shamanic intensity in his voice that influenced me a lot and helped me find my way to sing. It’s just wild, raw, possessed. There’s something eternally alive in his voice. 






Mindless Self Indulgence – Frankenstein Girls Will Seem Strangely Sexy (2000) 



Cindy Bluray: This is one of the bands that saved my life. This chaotic, hysterical mixture of sexyness, gayness, stupidity, jungle punk hip-hop electronica emocore saved me. There’s a moment I literally listened to MSI every fucking morning to give me the strength to get up and shower. With humor and rage, there’s an invincible feeling that really helps you to fight. Also as a bisexual singer making fun of himself, it’s really something that was unique when I was a teenager. Thanks Jimmy for this. 






If you want to know more about Daisy Mortem make sure you follow them on Facebook or at their Bandcamp page where you can buy the recently Faits Divers.






FacebookTwitter