Os melhores álbuns nacionais de 2020

Os melhores álbuns nacionais de 2020

| Dezembro 30, 2020 5:02 pm

Os melhores álbuns nacionais de 2020

| Dezembro 30, 2020 5:02 pm
Os melhores álbuns nacionais de 2020


Ao chegarmos ao final do ano bastante conturbado que foi 2020, também andámos de volta da rigorosa tarefa de recapitular o percurso musical português, selecionando aqueles que foram os registos nacionais que mais se destacaram este ano. Com nomes tão díspares e icónicos como os veteranos Pop Dell’ Arte ou o sedutor David Bruno, apresentamo-vos os melhores álbuns nacionais segundo a nossa redação.



25- TristanyMeia Riba Kalxa

24- UNITEDSTATESOFSelections 1 

23- Filipe Sambado – Revezo 

22- João Pais FilipeSun Oddly Quiet 

21- Van Ayres – Final Spirit 

20- Superalma ProjectThe Endeavor to Understand 

19- ATA OWWO + GUILLIO – Songs for Green Tea and Peppermint Pope 

18- Swan PalaceNo Miracles 

17- Scúru Fitchádu – Un Kuza Runhu 

16- Vaiapraia – 100% Carisma 

15- Clã – Véspera 

14- SreyaCãezinha Gatinha 

13- BardinoCentelha 

12- Império Pacífico – Exílio 

11- ben yoseiLuz 


10- Nídia – Não Fales Nela Que A Mentes 









Com o inconfundível Nídia É Má, Nídia É Fudida, a produtora Nídia Sukulbembe recebeu críticas extremamente positivas em referências internacionais como The Guardian, Pitchfork, The Quietus, Tiny Mix Tapes ou The Wire, e, agora, com o seu segundo álbum, Não Fales Nela Que A Mentes, com selo da Príncipe Discos, conseguiu repetir o mesmo sucesso crítico. Criado durante o regresso de Nídia a Portugal – a produtora vivia em França desde o seu sétimo ano – este representa uma fase da vida da artista em que esta se encontrava desiludida com a sociedade racista e machista em que vivia. A vontade continua presente entre os ritmos de kizomba, tarraxo ou kuduro, mas este é um disco mais recatado e de reflexão. Menos de “discoteca” e mais para ouvir sozinho em casa enquanto se abana os pezinhos. Hugo Geada


9- HHY & The MacumbasCamouflage Vector: Edits From Live Actions 2017-2019


Foi com o selo da Nyege Nyege Tapes, coletivo sediado em Kampala, Uganda, e um dos mais interessantes no que a toca à produção de música africana eletrónica dos últimos anos, que saiu o último registo dos portuenses HHY & The Macumbas. Depois de em 2018 nos terem transportado para o mundo ritualista de Beheaded Totem (House of Mythology), Camouflage Vector: Edits From Live Action 2017-2019 veio aprimorar a toada litúrgica e oculta do ensemble, compilando um conjunto de gravações ao vivo, entre 2017 e 2019, carregadas de intensidade e ancestralidade. Gravado entre Barcelos, Porto e Tenerife, Camouflage Vector contou com o contributo do consagrado produtor britânico Adrian Sherwood na mistura, e foi finalizado pelo mentor dos Macumbas, Jonathan Uliel Saldanha, em Kampala, durante o confinamento. HHY & The Macumbas são neste momento umas das maiores certezas da música experimental portuguesa e a sua internacionalização é já um dado adquirido. Rui Gameiro

 


8- Três Tristes Tigres – Mínima Luz 


Mais de 20 anos depois do lançamento do seu último disco, os Três Tristes Tigres renasceram. Quem conhece a banda através do seu feliz e descontraído pop-rock (quem nunca tentou imitar o timbre de Ana Deus da introdução à capela de “O Mundo a Meus Pés” que atire a primeira pedra), em Mínima Luz está perante um musculado monstro completamente diferente. As letras das canções adotam temas pesados, como o suicídio, e os instrumentais, com a ajuda de loops e distorção, criam uma parede de som que faria Kevin Shields dos My Bloody Valentine corar. O grupo, composto pela supracitada vocalista, Ana Deus, o guitarrista Alexandre Soares e a letrista Regina Guimarães, lançou-se de cabeça para este novo trabalho e criou aquele que é um dos mais ambiciosos e experimentais discos de música cantada em português no ano de 2020. Hugo Geada


7- Pop Dell’Arte – Transgressio Global 




A histórica banda lisboeta Pop Dell’Arte regressou este ano à ribalta em grande forma, muito graças ao seu novo registo pela Sony MusicTransgressio Global, que surge dez anos depois do último disco e que mostra uma faceta sociopolítica mais acentuada do que nunca. A palavra de ordem deste álbum é a mesma que se tem vindo a priorizar desde o início da banda, que tem sido dos porta-estandartes do vanguardismo tuga: quebrar todo e qualquer tipo de barreiras. Nas 22 faixas que compõem o álbum mais extenso dos Pop Dell’Arte, incluem-se obras poéticas de ilustres de várias nações (e por conseguinte, contribuem  para uma abordagem multilíngue) que foram adotadas pela banda, em conjunto com as suas músicas originais. Estas ganham forma vocal pela voz intensa e pronunciada de João Peste e são acompanhadas por uma investida instrumental de pop vanguardista eclética e fascinante, do início ao fim de Transgressio Global. Ruben Leite


6- FarwarmthMomentary Glow 



O produtor Afonso Ferreira divulgou o seu terceiro álbum sob o seu nome artístico Farwarmth, denominado Monumentary Glow, sob a chancela da Planet Mu. Monumentary Glow revela o som característico de Farwarmth, exponencialmente mais desenvolvido e mais desafiante, com recurso a uma imensidade de sons dinâmicos, que têm tanto de contemplativo como de arrasador, moldadas a partir de gravações de sessões de improvisação com pessoas próximas, resultantes de uma residência artística. O fio condutor deste álbum é a criação de composições sonoras que impulsionam a ideia de uma “ressonância emocional” entre o autor e o ouvinte, à base de constante adaptação de sons familiares até ao ponto de serem completamente estranhos, mas ao mesmo tempo, aliciantes. O ouvinte é levado numa travessia conceptual igualmente enérgica e severa, mas que o cativa pela aura misteriosa que se estende pelo álbum. Ruben Leite


5- Lina_Raül Refree – Lina_Raül Refree



Este álbum trata-se de uma colaboração entre o produtor catalão Refree – que já havia trabalhado com nomes como Rosalía ou Lee Ranaldo – e Lina, fadista residente da Casa de Fado e estudiosa do trabalho e legado de Amália Rodrigues. A dupla gravou este álbum com o objetivo de reinventar o Fado, fundindo-o com eletrónicas leves, que fazem das teclas a nova guitarra portuguesa. No fundo, Lina_Raül Refree põem o Fado nas suas mãos e modernizam-no, sem mudanças de tal forma drásticas que o torne totalmente irreconhecível às sonoridades de Amália de que Portugal tanto se orgulha. João Pedro Antunes


4- Luís PestanaRosa Pano



Foi pela mão de Rosa Pano que Luís Pestana se estreou em nome próprio. O produtor lisboeta, antigo guitarrista dos extintos LÖBO, juntou-se à família da americana Orange Milk Records, editora frequentemente associada ao vaporwave mais contemporâneo e à eletrónica gerada à base de colagens sonoras, para lançar este seu primeiro registo. Em Rosa Pano, Luís Pestana reúne oito faixas de cariz sonhador, “o seu próprio folclore inspirado pelas canções de embalar da mãe”, e ao mesmo tempo evidencia uma angústia imediata, muito por culpa da inexistência de quebras entre as faixas. À eletrónica progressiva, a evocar a obra de Oneohtrix Point Never e Tim Hecker, juntam-se elementos da música tradicional portuguesa – “Ao Romper da Bela Aurora” é uma reinterpretação do tema de mesmo título da autoria de Janita Salomé e Vitorino -, assim como ornamentos celebrativos da natureza e da vida rural. Rosa Pano é uma estreia bastante auspiciosa para Luís Pestana, esperemos que o futuro nos reserve novos trabalhos produzidos com o mesmo selo de qualidade. Rui Gameiro


3- David Bruno – Raiashopping

 

Depois de ter explorado a zona de Gaia, primeiro com os Conjunto Corona, onde assume o papel de produtor, e nos seus álbuns a solo, O Último Tango em Mafamude (2018) e Miramar Confidencial (2019), onde musicou as observações que fazia sobre os comportamentos que os seus conterrâneos adotavam em locais como o Restaurante Carpa, David Bruno aventurou-se numa zona geográfica nova. O produtor mudou de ares e no novo disco foi beber inspirações a Figueira de Castelo Rodrigo, vila portuguesa que pertence ao distrito da Guarda, onde nasceram os seus pais. Com o apoio da guitarra de Marco Duarte, que ora produz gentis dedilhados ou solos rebeldes, o produtor transporta-nos a cenários tão diferentes como as festas da discoteca Auritex, em “Festa da Espuma”, ou para a cozinha da sua avó, na bela “Flan Chino Mandarim”. Em Raiashopping, David Bruno cria o seu trabalho mais sério, uma ode nostálgica ao local onde passava férias durante a infância e a adolescência, e prova que, apesar da sua elevada produtividade (em três anos, o músico conseguiu colocar quatro trabalhos na lista de melhores discos nacionais da nossa redação), este tem o potencial de não se repetir temática e musicalmente. Hugo Geada


2- YAKUZA – Aileron 


YAKUZA é um trio lisboeta constituído por Afonso Serro (teclista), André Santos (baixista) e Alexandre Moniz (baterista), sendo AILERON o álbum de estreia do grupo. Nesta obra, podemos testemunhar uma sonoridade de nu jazz noturno e dançável que faz lembrar o groove da banda sonora de GTA III e de alguns RPG’s dos anos 90. Aconselhável tanto para fãs de jazz como de música eletrónica, mas especialmente para quem tem um ponto fraco por artistas como BADBADNOTGOOD, Kamaal Williams ou Amon Tobin. João Pedro Antunes


1- HHY & The Kampala Unit – Lithium Blast 


Jonathan Saldanha tornou-se rapidamente num nome incontornável da música electrónica experimental a nível internacional. Sob HHY, alterego que usou ao longo da sua carreira, trouxe-nos com The Macumbas a sua receita única e contagiante de transe-feito-música. Agora, Lithium Blast, uma colaboração com The Kampala Unit e fruto em parte da sua residência com o colectivo ugandense Nyege Nyege, é a nova exploração sonora apresentada por HHY. A ele juntam-se Omutaba nas percussões e tambores híbridos e Florence lugemwa no trompete, contando ainda com secções de sopro adicionais protagonizadas pela banda de metais da prisão de Kampala. O produto final é uma intensa ofensiva de dub, techno e trance, com uma boa dose de elementos de percussão tradicionais capaz de se tornar num dançável tónico hipnótico nos primeiros minutos. HHY volta a demonstrar uma versatilidade já comprovada e testada na produção e experimentação, contando novamente com colaboradores capazes de brilhar e contagiar no meio da sua densidade estética. José Almeida

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