Acid Acid e Luís Pestana no Núcleo A70: “O que não fazemos por amor”

Acid Acid e Luís Pestana no Núcleo A70: “O que não fazemos por amor”

| Janeiro 21, 2021 9:43 am

Acid Acid e Luís Pestana no Núcleo A70: “O que não fazemos por amor”

| Janeiro 21, 2021 9:43 am

2020 foi para todos nós, um ano atípico e bastante penalizador, altamente impactante, pela negativa, para a maioria dos setores da sociedade, em particular para a cultura e para a música ao vivo. 

Neste contexto pandémico e restritivo, regressámos, no início de dezembro, ao Núcleo A70 (Anjos) para um binómio musical, com curadoria da Nariz Entupido. “Desconfinando” com o distanciamento social recomendado e todas as normas de segurança respeitadas, assistimos a dois projetos emergentes: Acid Acid (já conhecido) e à apresentação do primeiro trabalho a solo de Luís Pestana, Rosa Pano, álbum lançado em finais de novembro, com a chancela da norte-americana Orange Milk Records

O final de tarde chuvoso pouco convidava à saída, mas a “fome” de espetáculos ao vivo e a excelência destes projetos prevaleceriam sobre as condições atmosféricas adversas. Acresce o facto do Núcleo A70 ser um espaço acolhedor, alternativo, onde nos sentimos sempre em casa. 


O visual sonoro inicia-se com Luís Pestana (ex-guitarrista dos LÖBO) que nos convida ao passeio “por um imaginário secreto, assobiado de madrugada” com o seu Rosa Pano, álbum considerado por muitos como um dos melhores trabalhos nacionais de 2020. Ouvimo-lo sem pausas, oito temas “que balançam entre a insustentável beleza do drone e as qualidades renovadoras da música tradicional portuguesa” numa “comunhão perfeita entre instrumentação acústica e as técnicas digitais, equilibrando coros e sinos de igreja, instrumentos de sopro e sanfona com a utilização de loops, feedback e samples de ordem vária”
“Ao Romper da Bela Aurora” tem como pano de fundo as vozes de cantares alentejanos fundindo a eletrónica com elementos do folclore português. Durante 45 minutos, Luís Pestana fez-nos viajar na sua atmosfera sonora, oscilando entre a realidade e as nuvens, simbolicamente projetadas em tela, e que se iam formando e esfumando ao longo de cada tema. 



De seguida, Acid Acid (o alter-ego de Tiago Castro) acompanhado, em palco, por Helena Fagundes na bateria, trouxe-nos um universo onde o abstrato anda de mãos dadas com o cosmos, em devaneios surreais, carregado do simbolismo (em forma de projeção) de cenas de filmes do cineasta chileno Alejandro Jodorowsky, que se assumem como verdadeiros “devaneios performativos”. Com Acid Acid, a eletrónica funde-se “com ritmos tribais em que as guitarras psicadélicas dialogam com os sintetizadores”, numa simbiose entre cosmos e xamãs. Neste alinhamento não há interrupções nem há letras. A sensação é de um deleite visual e auditivo, numa celebração que nos remete para cenários alucinogénios e estados de transe. Tiago Castro convoca-nos com a sua música para “um espiritualismo de entendimentos não racionais, de equilíbrios finos”, autênticos mantras psicadélicos progressivos. 


Num momento em que as nossas vidas e a nossa liberdade de movimentos são colocadas novamente em stand by, não quisemos deixar de fazer o registo deste evento que foi, para todos os presentes, uma lufada de oxigénio. 

Um agradecimento especial ao anfitrião, João Castro e ao Núcleo A70 que fizeram acontecer mais uma noite de música de excelência!

Texto: Armandina Heleno
Fotografia e vídeo: Virgílio Santos
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