Chinaskee em entrevista: “Fico um bocado apaixonado por todo esse feeling à volta dos concertos de rock”

Chinaskee em entrevista: “Fico um bocado apaixonado por todo esse feeling à volta dos concertos de rock”

| Fevereiro 23, 2021 8:59 pm

Chinaskee em entrevista: “Fico um bocado apaixonado por todo esse feeling à volta dos concertos de rock”

| Fevereiro 23, 2021 8:59 pm

© Diana Matias
Miguel Gomes é o nome que dá voz a Chinaskee, pseudónimo com o qual assina os seus trabalhos há já largos anos (com mais ou menos variações). Com o psicadelismo posto de parte, Chinaskee decidiu aventurar-se mais para os lados do rock nos últimos tempos, com inspirações em bandas dos anos 90 como Pixies, My Bloody Valentine e Nirvana. Para isto precisou de uma formação renovada, composta por Bernardo Ramos, Inês Matos, Ricardo Oliveira e tons de vermelho à la Loveless

Tendo isto em conta e, com a mão de Filipe Sambado mais uma vez na produção, nasceu Bochechas, o segundo LP desta banda lisboeta em ascensão. Um disco em homenagem ao rock e às suas guitarras, que fala de amor e de traumas de criança com uma juvenilidade ingénua quase irónica e despreocupada. Chinaskee revisita aqui os singles “Mobília” e “Desanimado” numa versão mais pesada, homenageia e conta com com a participação de Filipe Sambado com uma adaptação da sua canção “Gaja”, e conta com mais participações de artistas portugueses como Vaiapraia, Primeira Dama e Bia Maria.

Numa conversa em registo telefónico, falámos com Miguel Gomes (a.k.a. Chinaskee) sobre as origens do disco que agora está a lançar, a evolução do psicadelismo para o rock na sua sonoridade, as várias participações que apresenta em Bochechas, entre outras temáticas. Fiquem com a entrevista completa, disponível em baixo.

Uma pergunta para quebrar o gelo, como começou esta tua relação com a música? Primeiras lembranças, impressões, estórias…

Miguel Gomes (Miguel) – A minha mãe conta-me que eu quando tinha para aí 3 ou 4 anos, tocava bateria com panelas e colheres de pau. E também há outra estória que era eu cantar os toques de telemóvel, quando começaram a aparecer os primeiros telemóveis. O meu pai também sempre ouviu muita música que eu acho boa, e influenciou-me muito com Talking Heads e com John Cale… Bastantes cenas das prateleiras intermináveis de CDs que ele tem, nas viagens de carro. Sempre estive muito próximo [do rock]. Quando estava para aí no segundo ou terceiro ano já ouvia Metallica e Rammstein (risos), e outras cenas do género. A relação com o rock em si foi bastante cedo, diria.

Tens lançado vários EPs nos últimos anos, mas o teu último longa-duração já data de 2017. Há alguma razão para esta demora entre edições?

Miguel – Sim. Principalmente porque tudo o que eu lanço, esses EPs como estás a falar, são assim ideias que eu vou tendo e nunca é a ideia mestre. É sempre “Epá, gostava de fazer um disco sobre isto” ou “Gostava de fazer um disco à volta disto”. E então normalmente isso são mais ideias, mimos e brincadeiras. Aquele disco das Janeiras são músicas todas que já existiam.

E aquele “NOVA(rock)” também?

Miguel – O NOVA(pop) é o disco do Miguel Ângelo, em que ele convidou a mim, ao Sambado, à Surma e aos D’Alva, para produzirmos umas músicas dele. O disco acabou por ser um disco de participações, assim bastante moderno. E eu gostei tanto de uma das músicas que fiz com ele… Gostei das duas não é? Mas uma delas achamos que era fixe tocar “versão Chinaskee”, “versão distorção”. Então regravamos a “NOVA” chamando-lhe “NOVA(rock)”, que também tem a participação do Miguel Ângelo a cantar e está disponível no vinil dele do NOVA(pop), para quem quiser comprar.

A Revolve está contigo desde o Trocadinhos ao Pôr-do-Mi

Miguel – A Revolve está comigo desde o Malmequeres, o Trocadinhos ainda foi pela French Sisters, mas depois quando entrei para a Revolve eles fizeram a distribuição dos Trocadinhos. Eu estive a falar sobre isto com eles no outro dia, e não é uma edição, é uma distribuição. Mas sim, entrou no catálogo deles.

E como surgiu essa relação com eles?

Miguel – Quando fizemos o Malmequeres, estávamos um bocado à procura de alguém que soubesse promover o disco um bocado melhor do que estávamos a fazer antes. Porque até certo ponto… foi fixe sermos nós a faze-lo até à altura, mas a partir do momento em que investimos dinheiro, tempo e recursos em fazer um projeto mais bem pensado, achámos também que fazia sentido termos pessoas que estão mais dentro do meio, a ajudar-nos a promover. A Revolve chegou-se à frente, disse que gostou muito do disco, e foi assim mais ou menos que começou a parceria.

A tua banda mudou bastante ao longo dos anos, como chegaste até à formação actual?

Miguel – O meu baterista é o único membro original. A primeira formação de todas era só baixo do David Simões (Trovador Falcão), eu a tocar guitarra e a cantar, e o Ricardo Oliveira a tocar bateria. Fizemos dois ensaios assim, mais nada. Depois entrou o Tojo (Luís Catorze/SunKing) a tocar teclados, e levámos essa formação ainda a uns quantos concertos. Chegámos a adicionar um guitarrista que saiu logo depois para entrar o Bernardo Ramos, e o Bernardo ficou agora também nesta nova formação. Entretanto entrou o saxofonista, o Rodrigo Racoon, para o Metro e Meio. Foi ele que nos acompanhou nos últimos concertos de Chinaskee e os Camponeses, em Paredes de Coura e nas Damas, e tudo mais. Quando me fartei de fazer o psicadélico, o Rodrigo, o David e o Tojo saíram da banda para me dar um bocado de espaço, para me focar nas guitarras. Fiquei eu e o Bernardo a tocar guitarra, o Ricardo a tocar bateria e entrou a Inês Matos, a guitarrista de Primeira Dama, a tocar baixo. Estas formações todas vêm sempre principalmente da vontade de fazer uma coisa diferente do que estava a fazer antes, por isso também me faz sentido às vezes ter pessoas diferentes a trabalhar comigo.

© Diana Matias

A tua sonoridade passou por várias fases, evoluindo do psicadelismo de Malmequeres para o rock mais musculado de Bochechas. Estas mudanças têm a ver com o teu crescimento como pessoa, com a vontade de fazer coisas novas, ou simplesmente aconteceu?

Miguel – Acho que é uma mistura deles os 3, mas principalmente por ter tocado em Paredes de Coura e, por exemplo, no ZigurFest, em que o público está mesmo mas mesmo a vibrar com as músicas de rock e a dançar… Eu fico um bocado apaixonado por todo esse feeling à volta dos concertos de rock, e foi um bocado essa a razão de eu ter a vontade de fazer um disco mais puxado, mais rock. Mas também tem a ver com a mão da produção do Filipe Sambado, com as pessoas que me tenho rodeado, da música que eu tenho ouvido… É tudo uma mistela que me fez um bocado evoluir, não só como músico, mas como pessoa e como ouvinte de música também.

O próprio Filipe Sambado produziu o teu álbum de 2017, tal como este novo. Como defines a tua relação com ele?

Miguel – Defino a minha relação com ele como se fosse pai e filho. Ele hoje mandou uma mensagem a dizer, e passo a citar, “Bom dia de lançamento, aproveita o êxtase mas não confundas esta felicidade com a verdadeira felicidade. Beijinhos do papi”.

Muito paternal, a dar esses conselhos.

Miguel – (risos) Exacto.

A quebra na agressividade do álbum com a música “Bochechas”, daquela maneira melancólica e suave, é propositada?

Miguel – Eu fui buscar as ideias para o álbum muito aos discos que eu acho fixes dos anos 90. Pixies, My Bloody Valentine, Nirvana… E nesses discos há sempre um sitio para respirar, por muito pesados que eles sejam. A música (“Bochechas”) apesar de parecer muito fofinha, para mim tem um sentimento bastante pesado também, mas para mim é pesado de uma maneira diferente. Então pronto, achei que era fixe haver pelo menos um momento para respirar no disco inteiro, que é composto por 8 músicas de headbanging, uma ainda meio psicadélica via Malmequeres, e esta a balada rock. Achámos que era importante ter um momento para respirar. A banda toda achava que era fixe ser a última música do disco, tal como a “Malmequeres” é a música final do Malmequeres, também é a balada… Eles achavam que era fixe, mas eu não queria que o disco acabasse mole, eu queria que o disco acabasse mais duro ainda. Até houve uma altura em que achávamos que a “Mais Atenção” ia acabar o disco, porque é a música mais pesada acho eu.

Como funciona o processo criativo de um disco quando estamos a viver em pandemia?

Miguel – A cena é que o processo criativo deste disco durou cerca de 3 anos, foi logo depois do Metro e Meio que eu comecei a escrever as primeiras coisas. E se formos bem a ver, até podemos dizer que o processo criativo começou antes do Malmequeres, porque a “Mais Atenção” é a “Vegan Song”, a segunda demo que eu lancei em 2015 para aí, por isso 6 anos depois vá. Acho que em termos de pandemia, o que se deu no processo criativo foi mais o tempo que eu não tinha tido até lá para estar sozinho a pensar só nas músicas. Eu estava habituado a trabalhar sempre com alguém, e isto foi um passo um bocado diferente, um passo de reflexão sobre o que eu quero falar, e sobre como eu quero apresentar estes temas. O primeiro confinamento ajudou-me um bocado a focar as minhas ideias e encontrar as músicas finais que iam entrar no disco.

Esse processo todo neste último ano ajudou-te a gerir a tua saúde mental nestes tempos?

Miguel – Sim. Agora até me apetece fazer outro disco só por estar outra vez confinado, porque foi uma ótima escapatória conseguir continuar a trabalhar em casa, que é um sitio que já não trabalhava há muito tempo. Estava a ir diariamente para o meu estúdio, diariamente a ensaiar, tanto para ver músicas novas como para arranjar as músicas antigas para formato mais rock. Tendo essa quebra de workflow, de trabalho diário, foi um bocado difícil. Mas depois comecei de novo a pegar na guitarra só por gosto e a brincar um bocado, o que me levou a ir buscar ideias que me ajudaram a completar o disco. Foi um bocado isso, e ajudou-me a não pensar tanto em coisas más no primeiro confinamento.

O teu disco conta com várias colaborações, como Vaiapraia, Primeira Dama, Filipe Sambado e Bia Maria. Como surgiram elas?

Miguel – Estas colaborações são principalmente a vontade de partilhar a minha música com amigos. Mesmo sendo um disco a solo, eu diria, é um disco de banda na mesma. Há um bocado esse principio também, que é um disco de banda porque tenho os meus amigos a tocar comigo, mas continuam a ser as minhas canções, que podem ser só tocadas à guitarra e voz. E há medida que fomos escrevendo e fazendo os arranjos para o disco, percebemos que aqui falta uma voz feminina, aqui falta o (Vaiapraia) a gritar… Então decidimos perguntar mesmo às pessoas “Olha, queres colaborar comigo nisto?”. Eles não colaboraram a escrever, é mesmo só a participação deles assinada mais por amor do que por qualquer outra coisa.

Pensas investir na tua carreira de streamer?

Miguel – Foi a melhor maneira que eu arranjei de ter uma interação com as pessoas que gostam de mim, em termos de música. Porque visto que não há concertos, e visto que não há a possibilidade de estar com o público ou com amigos a tocar, a ver ou a ouvir, decidi começar a interagir com a malta da única maneira que é possível agora. Acho que é mais fixe do que um live no Instagram, porque toda a gente faz isso. Acho que é mais fixe também dar um bocado também um insight para a minha vida, porque eu desde sempre gostei de Pokémon, por isso comecei a fazer aquelas streams de Pokémon só porque sim. A malta tem aderido e é fixe, se quiserem podem-me seguir em twitch.tv/chinaskeept.

Obrigado Miguel, tens mais alguma coisa a acrescentar?

Miguel – É agradecer toda à malta que tem vindo a trabalhar comigo nos últimos anos. Miguel Ângelo, à Revolve, a Rafaela Ribas, agora a HAUS, Filipe Sambado, Primeira Dama, a minha banda, Luís Catorze… Não preciso de dizer os nomes todos, mas estas pessoas têm estado comigo há muito tempo e sempre me apoiaram um bocado com tudo, é um disco para elas.


Bochechas saiu na passada sexta-feira (19 de fevereiro) via Revolve e pode ser escutado na íntegra em baixo.

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